Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Prólogo - Hidden Place: Íris


Cansou-se,
Sentou um pouco, ao lado dele, ofegante, e conversaram, conversaram sobre muita coisa, pelo menos durante o tempo em que ficaram a sós, ele gostava dos seus meio-sorrisos, e das suas gargalhadas incompletas, era esbelto, e mais novo, porém mais alto. Cabelos brilhantes, unhas cuidadas, bem vestido, e olhar tímido-penetrante, oscilante entre um anjo e um demônio, ele se sentia amado com o seu olhar, e isso era muito doloroso, seu olhar tímido intimadava, brincava com a pulsação do seu coração, pensou que teria um infarto alí mesmo, e começou a pensar se deveria beijá-lo, talvez fosse perigoso, mas gostaria de arriscar, ele pedia por um beijo seu.

Como num esconderijo, o desejo saiu da toca, brando, mordeu nas vísceras do encantado, sentiu uma dor de culpa no peito, mas ainda assim o queria em seus braços, ou estar em seus braços, e começou a amar.
Começou a amá-lo profundamente, de uma forma oculta e intensa, de um aroma nostálgico, desde os olhos até o tênis que ele usava, cada objeto e pedaço de pele, ahh... sua pele...

Passou horas no automóvel, ao seu lado, e gostava daquilo. Nos vemos depois, disse ousado, e talvez veria, mas nunca se sabe. Sussurrou uma leve canção de tristeza e chegou em casa, arrumou seus pertences, mas não queria nem dormir, só pensava nele, ah... ele.
Eu queria tanto aqueles olhos, só para mim. E chorou, chorou um oceano inteiro de uma leve pontada de amor, se aquilo era só o começo, como seria o que viria daqui pra frente? E chorou mais ao tentar imaginar isso.

Estava sem o apoio de ninguém, completamente só, completamente perdido e desnorteado, não queria nem dormir, muito menos viver, por quê? Isso não depende de você, realmente não depende.
Mas queria, queria sofrer por ele, não estava nem aí se valeria à pena, não queria saber de ninguém, se sentia cansado de poupar os outros da dor, desta vez serei egoísta.

~

A porta se tremeu, era seu padrasto, vindo surrá-lo mais uma vez, vindo estuprá-lo também, já estava acostumado, de que importa sentir mais ou menos dor? Só conseguiu dormir às 3 da madrugada, como sempre, e chegou na escola no segundo horário, sem ânimo, sem nada.
Sua mãe era sempre ausente e submissa ao seu padrasto, sua irmãzinha mais nova vivia na casa da avó, ele sentia falta da sua irmã. E ainda achava tempo para pensar nele, por quê?







~





Andrew Oliveira

Um comentário:

  1. uma peculiaridade nos teus textos é que eles começam sempre pelas ações dos personagens, (sentou-se, cansou-se, pensou, etc.) e não pela história em si. curioso, muito curioso =)

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