Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Hidden Place II - Prólogo - Vazio


Ela poderia passar o resto de sua vida ali, durante dez, vinte, mil anos, ouvindo aquela mesma música, olhando pro nada, roendo as unhas e acabando com seu esmalte, mexendo nos cabelos negros, ou bocejando. Tudo da forma que desejasse. Seu professor a chamou, era sua vez de atuar, e não estava nem um pouco nervosa, apesar de que suas apresentações sempre lotavam os teatros em que se apresentava.

- Eu sou a saliva da sua boca. - Disse nem um pouco astuta. - Me ferve, meu amor.

- Vagabunda qualquer? Acho melhor não.

- Você nunca sabe de nada mesmo. - Rodeou o cenário, devagar. Apenas de calcinha.

- Não ouse falar mais isso, sua qualquer. - Ameaçou o outro ator.

- Ah... Você não consegue falar uma frase inteira sem me insultar?

- Piranha, vou te esganar.

- Tenta, fracassado. Quero ver você valer o tamanho do seu pau. - Apontou para lá.

E ele correu atrás dela, ela soltou gritinhos entusiasmados, a platéia até riu, apesar de ser uma péssia trágica. E ele a segurou forte em seus braços, parecia um romance conflituoso de verdade, ela bem que queria que fosse...

- Pare de me torturar. Esse seu corpo ardente, esses seus cabelos, esses seus olhos, eu te amo tanto que poderia te devorar aqui mesmo, no meio do nada. - Disse o ator, com a voz chorosa.

- Eu não pedi para você me amar, agora sofra sozinho.

- Sofra comigo.

- Não.

- Morra comigo.

- Não.

- Me mata, então.

- Não tô afim.

- Então eu vou te estuprar.

- Mas eu quero, então não é estupro.

- Falar em estupro me excita.

- Estupro estupro estupro estupro estupro estupro estupro estupro.

E ela a puxou pelos cabelos, sugou seus seios e sua boca, e simularam um sexo violento cheio de tapas ininterruptos. Naquele mundo suas cortinas se abriam e ele a penetrava com força, sádico, cheio de um prazer estupidamente sem fim. E a peça se esvaiu em conflitos e dramas, ela sabia perfeitamente ser outra pessoa, mentir para a platéia, fazer a platéia acreditar, ela sabia de quase tudo, só não sabia muito dela mesma, na verdade, ela nem sabia dela mesma. Para ela, atuar era tudo na sua vida, era uma amante do teatro, e era tão nova ainda, apenas dezessete anos, uma doce ninfa concebida na madrugada dos distraídos, ou dos afogados, como desejasse.

Sentou-se, e após se sentar sentiu um sentimento que de alguma forma, em alguma outra vida, ela já havia sentido, só não sabia quando, e isso era complicado. Lembrou dele, ele era uma vaga lembrança pra ela, como se fosse apenas um personagem que ela criou, e só tinha certeza dele pelas fotografias, as fotografias de uma vida tão curta, e que se transformava a cada segundo. Ela sonhava em algum dia se transformar, mas ela já estava se transformando, e não conseguia parar. Sequer conseguia parar pra pensar nisso.

Foi para casa, era noite, era um pouco de frio. Pôs sua jaqueta de couro para andar por ali, e resolveu ir para uma boate. Entrou facilmente numa ali por perto, e dançou, dançou tudo o que tinha pra dançar, mas ainda assim, mesmo depois daquele dia tão cheio, ela não conseguia encontrar nada.

Sua mente estava quase toda branca, e lá, havia somente um pontinho negro, que estava crescendo de forma lenta e dolorosa, aquilo era a sua única esperança, resolveu se agarrar à ela. E a prendeu com as suas mãos de unhas mordiscadas, não adianta, eu não vou te largar.








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Andrew Oliveira

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