E exatamente, naquele instante, Deus olhou para Frey, com compaixão, assim como Frey olhara para Heimdall um dia desses,
acho que isso se chama universo.
O universo é uma forma que se escorrega por entre os dedos, é como água, é como um deserto de espelhos e cacos no chão, você se perde, você se fere, você enxerga somente a si mesmo. Não se pode dizer também que não é uma sombra, ou várias linhas de costura da morte e da vida.
Nós somos a roupa.
Inicialmente Hermod não sabia o que fazer vendo o corpo trêmulo de Frey, ficou apenas ali, parado, com medo, o que está acontecendo com ele? Enquanto que há algumas quadras daquela pequena cidade, Forseti levantava da cadeira de espera, com o coração a mil, prestes a arrancar seu filho do ventre, como se tira a pulga de um cão, pressionando com as unhas até matar a criatura parasita, naquele momento ela o sentia como um parasita também, e não como um ser mais belo do mundo, um presente dos anjos. Sua culpa era maior.
Heimdall apenas a vigiava com o olhar morno, sem transparecer concordar ou discordar da decisão de Forseti, mas Forseti de alguma forma se sentiu repreendida, como se ele dissesse "não faça isso". Forseti suspirou e tentou manter a calma, ainda era tempo de voltar atrás, mas o que será de mim?
E ela entrou onde fora chamada, e Frey começou a ficar inconsciente, eu tenho que tomar uma decisão, eu preciso tomar uma decisão.
Um outro garoto que passava ali perto logo reconheceu Frey. Foi em direção a ele. Pegou uma caneta e a penetrou com força na coxa do rapaz. Frey num susto levantou. E olhou para Hermod, evergonhado. E chorou.
- Seu estúpido, você tem que aprender a se controlar. - Disse o rapaz. - Se você morrer desse jeito pode sobrar pra mim.
- Me desculpa, eu estava desesperado.
- Desespero não é motivo. Todos nós somos primatas orgulhosos com uma auto-confiança barata estampada na cara, cheios de dor e desespero. Se enxerga idiota. - Resmungou o desconhecido.
- Você vai parar de vender isso pra mim? - Disse Frey esfregando os olhos.
- Você nem vai pensar em comprar isso mais, Frey. - Falou Hermod, ainda assustado com toda aquela adrenalina repentina.
Frey encarou Hermod, de uma forma duvidosa, mas logo cessou o comportamento ansioso. Hermod o levantou e foram embora para casa, o desconhecido ficou apenas ali, pairado no seu cotidiano, que, para ele, não era grande coisa.
E os segundos também se balançavam para Forseti, que hesitou um pouco enquanto observava a sala de atrocidades, sentiu um cheiro forte de desinfetante, viu vários objetos médicos numa bandeja prateada, a luz branca e forte nos olhos, suor frio, culpa, uma médica, culpa, e culpa. Ela não aguentou e logo saiu correndo daquela sala, e depois da clínica, com medo, cheia de insegurança, e outra decisão tomada.
Heimdall logo chegou perto dela, com um ar compreensivo, colocando a mão nos ombros de uma Forseti ajoelhada, com a neve molhando sua calça, suas botas pretas aquecendo seus frágeis pés, e todo agasalhada, tirou o cachecol e aguentou o choro.
- Eu... Não tenho coragem de fazer isso. Não é o certo.
E o que seria o certo? O errado?
- Vamos pra casa, Forseti, seu dia foi mais longo do que parece.
- Eu quero ver o mar.
Heimdall pegou a sua mão, e foram em direção ao som das ondas. O sol como sempre morno, o pássaro negro observando tudo por ali, e foi assim que Forseti terminou o seu dia. Sonhando ver o mar e ouvir as ondas, asas, núvens e um sol bem quente, num verão nostálgico, numa vida comum e cheia de felicidade, ao lado de seu filho.
~
E o natal chegou, para Heimdall, Forseti e Hermod, não era um grande dia. Heimdall como sempre sem descanso algum na faculdade, Forseti na pediatria ajudando a mãe, Hermod em casa olhando para o nada, e Frey, arrumando suas malas, feliz, indo para a casa de Hermod, Hermod morava sozinho, mas ainda era sustentado pelos pais, que ficavam muito longe dali. Frey colocou sua última camisa. Seu padrasto entrou no seu quarto.
- O que você pensa que está fazendo? - Grunhiu Loki.
- Eu vou sair daqui.
- E quem te deu permissão, moleque?
- Eu não preciso da sua permissão.
O som de um tabefe silenciou tudo.
- Nem pense em fazer isso. - Ameaçou.
Frey levantou a sua mala, Loki o empurrou e o socou até Frey ficar todo inchado. Partiu. Frey descansou ali mesmo, cansado daquela mesma rotina, daquele mesmo ciclo vicioso, o rosto inchado, cheiro do próprio sangue, frio, muito frio. E disse para si mesmo, bem baixinho, tão baixinho que nem Deus pôde ouvi-lo e ajudá-lo dessa vez.
"Eu vou acabar com tudo isso de uma vez, agora mesmo."
E sonhou, sonhou estar ao lado de Freya, abraçando-a, amando-a como se ama imensamente uma irmãzinha que tem o melhor amor do mundo.
Seu amor estava longe.
E cortou os pulsos com uma navalha. E sangrou até morrer.
Eu quero ver o mar.
acho que isso se chama universo.
O universo é uma forma que se escorrega por entre os dedos, é como água, é como um deserto de espelhos e cacos no chão, você se perde, você se fere, você enxerga somente a si mesmo. Não se pode dizer também que não é uma sombra, ou várias linhas de costura da morte e da vida.
Nós somos a roupa.
Inicialmente Hermod não sabia o que fazer vendo o corpo trêmulo de Frey, ficou apenas ali, parado, com medo, o que está acontecendo com ele? Enquanto que há algumas quadras daquela pequena cidade, Forseti levantava da cadeira de espera, com o coração a mil, prestes a arrancar seu filho do ventre, como se tira a pulga de um cão, pressionando com as unhas até matar a criatura parasita, naquele momento ela o sentia como um parasita também, e não como um ser mais belo do mundo, um presente dos anjos. Sua culpa era maior.
Heimdall apenas a vigiava com o olhar morno, sem transparecer concordar ou discordar da decisão de Forseti, mas Forseti de alguma forma se sentiu repreendida, como se ele dissesse "não faça isso". Forseti suspirou e tentou manter a calma, ainda era tempo de voltar atrás, mas o que será de mim?
E ela entrou onde fora chamada, e Frey começou a ficar inconsciente, eu tenho que tomar uma decisão, eu preciso tomar uma decisão.
Um outro garoto que passava ali perto logo reconheceu Frey. Foi em direção a ele. Pegou uma caneta e a penetrou com força na coxa do rapaz. Frey num susto levantou. E olhou para Hermod, evergonhado. E chorou.
- Seu estúpido, você tem que aprender a se controlar. - Disse o rapaz. - Se você morrer desse jeito pode sobrar pra mim.
- Me desculpa, eu estava desesperado.
- Desespero não é motivo. Todos nós somos primatas orgulhosos com uma auto-confiança barata estampada na cara, cheios de dor e desespero. Se enxerga idiota. - Resmungou o desconhecido.
- Você vai parar de vender isso pra mim? - Disse Frey esfregando os olhos.
- Você nem vai pensar em comprar isso mais, Frey. - Falou Hermod, ainda assustado com toda aquela adrenalina repentina.
Frey encarou Hermod, de uma forma duvidosa, mas logo cessou o comportamento ansioso. Hermod o levantou e foram embora para casa, o desconhecido ficou apenas ali, pairado no seu cotidiano, que, para ele, não era grande coisa.
E os segundos também se balançavam para Forseti, que hesitou um pouco enquanto observava a sala de atrocidades, sentiu um cheiro forte de desinfetante, viu vários objetos médicos numa bandeja prateada, a luz branca e forte nos olhos, suor frio, culpa, uma médica, culpa, e culpa. Ela não aguentou e logo saiu correndo daquela sala, e depois da clínica, com medo, cheia de insegurança, e outra decisão tomada.
Heimdall logo chegou perto dela, com um ar compreensivo, colocando a mão nos ombros de uma Forseti ajoelhada, com a neve molhando sua calça, suas botas pretas aquecendo seus frágeis pés, e todo agasalhada, tirou o cachecol e aguentou o choro.
- Eu... Não tenho coragem de fazer isso. Não é o certo.
E o que seria o certo? O errado?
- Vamos pra casa, Forseti, seu dia foi mais longo do que parece.
- Eu quero ver o mar.
Heimdall pegou a sua mão, e foram em direção ao som das ondas. O sol como sempre morno, o pássaro negro observando tudo por ali, e foi assim que Forseti terminou o seu dia. Sonhando ver o mar e ouvir as ondas, asas, núvens e um sol bem quente, num verão nostálgico, numa vida comum e cheia de felicidade, ao lado de seu filho.
~
E o natal chegou, para Heimdall, Forseti e Hermod, não era um grande dia. Heimdall como sempre sem descanso algum na faculdade, Forseti na pediatria ajudando a mãe, Hermod em casa olhando para o nada, e Frey, arrumando suas malas, feliz, indo para a casa de Hermod, Hermod morava sozinho, mas ainda era sustentado pelos pais, que ficavam muito longe dali. Frey colocou sua última camisa. Seu padrasto entrou no seu quarto.
- O que você pensa que está fazendo? - Grunhiu Loki.
- Eu vou sair daqui.
- E quem te deu permissão, moleque?
- Eu não preciso da sua permissão.
O som de um tabefe silenciou tudo.
- Nem pense em fazer isso. - Ameaçou.
Frey levantou a sua mala, Loki o empurrou e o socou até Frey ficar todo inchado. Partiu. Frey descansou ali mesmo, cansado daquela mesma rotina, daquele mesmo ciclo vicioso, o rosto inchado, cheiro do próprio sangue, frio, muito frio. E disse para si mesmo, bem baixinho, tão baixinho que nem Deus pôde ouvi-lo e ajudá-lo dessa vez.
"Eu vou acabar com tudo isso de uma vez, agora mesmo."
E sonhou, sonhou estar ao lado de Freya, abraçando-a, amando-a como se ama imensamente uma irmãzinha que tem o melhor amor do mundo.
Seu amor estava longe.
E cortou os pulsos com uma navalha. E sangrou até morrer.
Eu quero ver o mar.
~
Andrew Oliveira
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