Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 9: O corpo dele


Uma faísca derramou de um chafariz fluorescente no meio de uma floresta, vinda de um coração ardente e fumegante. A faísca percorreu voando acima de mares e florestas, numa tentativa frustrada de procurar a si mesma, ela nunca se encontrava, ela nunca se permitia encontrar. Até que um dia ela conheceu a chama, e com a chama se transformaram em uma só, e com a chama puderam ver o quanto o mundo era belo, e com a chama, ela se conheceu, amou a chama, amou-a como nunca amara algo na vida, a chama era o motivo da sua vida, até chegar o fim chamado Chuva, e da chuva, restaram as cinzas de um efêmero amor.

Um violoncelo circunspecto passeava pelos ouvidos de todos, Heimdall o tocava ternamente, como se fosse a última canção para o mundo. Passeava por Forseti, que estendia seus lençois brancos, pensando no que faria dali pra frente. Passeava por Frey, que cheirava cocaína descontroladamente, tentando fugir da realidade. E passeava por Hermod, ainda com o celular nas mãos, e com o seu futuro também. O que eles poderiam fazer naquele momento? O que eles deveriam sentir ou pensar? O que mais eles fariam, e se fizessem, o que aconteceria depois?

Um dezembro insensível ainda se estendia, já era dia 23, a véspera de natal será amanhã, pensaram. O que eu vou dar de presente para ele? E para ela? Elas não sabiam de resposta alguma.

E se tornaram apenas parte de noites soturnas. E se tornaram apenas um grão de areia naquele doce infinito. E desejavam gritar, expelir toda aquela dor que se impregnava nas paredes de seus corações, mas eles nada podiam fazer, a não ser, por enquanto, serem passivos ao que acontecia a eles. Mas nada era suficientemente bom, nem o bastante para sobreviver naquele mundo. E então, resolveram ir para a luz. O natal chegou.

- Você não vai sair hoje, Hermod? É véspera de natal. - Disse Frey, colocando uma cueca.

- Não, não estou afim.

- Por quê? Você não gosta do natal?

- Não, não me sinto bem. Só isso. E você? Por que você gosta do natal?

- O natal me lembra a minha mãe, e na boa época em que ela morava conosco, junto com Freya, ela ainda era bebê nesses tempos. Por isso que eu gosto dele. - Sorriu.

- Isso é inspirador.

- Pelo menos me acompanhe. É tão chato andar por aí sozinho.

Hermod deu um olhar de désdem, ainda deitado no sofá, Frey foi em direção a ele, e se posicionou em cima do rapaz:

- Por favor.

Hermod cedeu-lhe um longo beijo. Aceitou.

~

- Está tudo bem? Por que estás tão triste? - Perguntou Heimdall.

Ela fez que não com a cabeça.

- Quer um pouco de café?

Ela fez que sim. Heimdall foi em direção a cozinha, pegou uma garrafa térmica, uma xícara, e a encheu de café.

- Toma. - Disse para a moça já sentada no sofá. - O que aconteceu, Forseti? Foi Hermod de novo?

- Não, dessa vez fomos nós dois. - Disse chorosa, as lágrimas não paravam de escorrer.

- Você ainda o ama, não é?

- Eu não sei se sou a pior pessoa do mundo por ainda amá-lo. Mas eu só quero que ele seja feliz. Eu não sei o que fazer com este filho, eu não sei o que fazer da minha vida agora, me sinto como se não tivesse mais nada nesse mundo. Eu só quero alguém onde possa me apoiar e me sentir segura, isso é errado?

- É claro que não, Forseti. Olha, eu vou te ajudar o quanto for preciso e até onde meu limite possa chegar, eu vou estar sempre do seu lado.

- Obrigada. - Disse abraçando-o. - Heimdall...

- O quê?

- Acho que vou abortar.

- A decisão é sua, se você quiser, eu vou com você.

Heimdall breve se arrumou para sair, trancou a casa e logo foram passar as horas de dezembro num hospital. A cada passo seu corpo ficava mais pesado, como se fosse algum tipo de culpa, não deixava de ser, era culpa, dor, angústia, arrependimento, amor, paixão, raiva, depressão, todos misturados e fazendo com que Forseti ficasse uma pilha de nervos. Chegaram no local.

- Você tem certeza mesmo, Forseti?

- Tenho.

Entraram no local, e esperaram, esperaram, esperaram....

Num beco ali próximo, Frey se entupia de cocaína, enquanto Hermod dava uma olhada numa loja. Usou tudo o que tinha, desesperado, louco por mais, até que seu corpo todo se contorceu, Frey caiu no chão, e uma overdose tomou conta da sua alma tão ferida, tão estúpida.

- Forseti! Forseti Ann, é a sua vez.




~




Andrew Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário