Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Hidden Place II - Capítulo 1: Espuma


Psiquê já estava exausta, o dia estava escurecendo, e ainda permanecia na escola, prestando atenção na aula, quer dizer, estava tão de saco cheio que não faria nenhuma diferença se saísse dali agora mesmo, mas resolveu ficar, aquilo era para o seu próprio bem. Olhou para Freya e sorriu, Freya era uma menina tão boa, Psiquê sentia um pouco de inveja, ao mesmo tempo em que uma admiração tomava conta de seu coração, ela queria ser como Freya.

Cartas e mais cartas de amor chegavam à Freya, ela nunca ligava, aliás, para ela aquilo era apenas amor pela sua beleza, Frey se sentia assim também? Eu não sei. Psiquê tinha espinhas na testa, uma franja mal feita, pele morena, óculos de aro grosso, se vestia da forma mais simples possível, não falava com quase ninguém, o exemplo perfeito de uma pessoa excluída. E mantinha um amor enorme por Apolo, um amor tão doce quanto doloroso, certa vez ela emprestara uma caneta pra ele, foi o melhor dia da sua vida, ele agradeceu com um sorriso, ah... Que sorriso mais belo.

Era sempre assim, a admiração por Freya, o amor por Apolo, a vida entediante e sem grandes alardes, durante as aulas só ficava presa em devaneios, estudava muito em casa, era uma menina esforçada, afinal, ela tinha que ter ao menos uma meta em sua vida. Sua vida era um circulo, e ela, uma corda. Alguém um dia precisaria dessa corda? Ah... E suspirou mais uma vez admirando a beleza lânguida de Apolo. Ela estava cada vez mais decidida.

Umas mechas cairam nos seus olhos enquanto escrevia o assunto, e de uma forma tão suave colocou-as para trás da orelha, seus lábios secos pelo frio, seus olhos hazel, tão inconstantes, era alto e bem definido, era o mais bonito daquela sala, era mais um apaixonado por Freya, a beleza arrogante e voraz de Freya, quase um grito de guerra.

A aula estava terminando e o rapaz arrumou seu material na mochila, era tão frágil, parecia de porcelana, lembrou de alguma coisa que eu não sei o que é e riu bem baixinho, soltou mais um daqueles sorrisos magnânimos dos quais Psiquê sempre guardava na caixinha da sua alma, Psiquê era tão boba... E percebeu o olhar de Psiquê, e olhou para ela.

Por um momento a sala parecia estar num silêncio forçado, onde apenas um som macio passava por ali, quase imperceptível, como uma vibração, e aquela vibração atormentou a sombra de Psiquê, que se deformou de uma maneira tão assustadora que nem ela mesma pôde recuperar a própria sombra. Era assim que ela se sentia quando os olhos de Apolo acusavam-na, e era assim que ela estava naquele momento. Ela poderia chamar aquele sentimento de nervosismo ou medo, mas era amor. O amor nunca me deixa viver da maneira que gostaria.

Apolo sorriu para Psiquê, descontraído, bobo, de um jeito tão terno que só ele conseguia fazer, aquele sorriso era persuasivo, questionador, travesso, e tudo ao mesmo tempo, aquele sorriso era uma verdadeira incógnita. Psiquê não sabia se ria ou se ficava séria, estava atordoada demais para ficar racional naquela hora, Psiquê era uma completa otária. Mas que se foda.

E a aula terminou, Psiquê, calma como sempre, arrumou seu material lenta e lerdamente, como se não quisesse mais nada, e aquele material fosse a única coisa restante na sua vida. Os alunos logo sairam e se dispersaram para todos os lados na frente da escola, Psiquê foi ao banheiro trocar de blusa e os corredores já se encontravam vazios, exceto por uma bela criatura encostada num dos vários armários, Apolo.

Dessa vez Psiquê conseguiu sorrir, mas não sabia se ele estava lá por ela, por que estaria? Ele não é mais um apaixonado por Freya? Deve estar esperando outra pessoa, mas a outra pessoa não apareceu, é, realmente era por ela.

- Por quanto tempo você ainda vai estar calada?

- Até o momento em que estiver conveniente. - Ah, droga, ela não conseguia ser nem um pouco graciosa...

- Agora está conveniente?

- Você quebrou a conveniência, Apolo.

- Está tudo bem com você? Achei você meio mal hoje durante a aula.

- Só estava pensando.

- Vamos para uma lanchonete?

- Por que alguém como você me convidaria pra comer?

- Eu não posso?

- Eu não disse que não pode. Só é de se espantar.

- Ah... Então você não se ama o suficiente, Psiquê.

- E quem é você pra falar sobre o que eu sinto?

E sussurrou um cupido travesso dentro do corpo de um deus do som:

- Um demônio que chegou para te atormentar.


Droga, agora eu estou louca para ir pro inferno.




~






Andrew Oliveira

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Hidden Place II - Prólogo - Vazio


Ela poderia passar o resto de sua vida ali, durante dez, vinte, mil anos, ouvindo aquela mesma música, olhando pro nada, roendo as unhas e acabando com seu esmalte, mexendo nos cabelos negros, ou bocejando. Tudo da forma que desejasse. Seu professor a chamou, era sua vez de atuar, e não estava nem um pouco nervosa, apesar de que suas apresentações sempre lotavam os teatros em que se apresentava.

- Eu sou a saliva da sua boca. - Disse nem um pouco astuta. - Me ferve, meu amor.

- Vagabunda qualquer? Acho melhor não.

- Você nunca sabe de nada mesmo. - Rodeou o cenário, devagar. Apenas de calcinha.

- Não ouse falar mais isso, sua qualquer. - Ameaçou o outro ator.

- Ah... Você não consegue falar uma frase inteira sem me insultar?

- Piranha, vou te esganar.

- Tenta, fracassado. Quero ver você valer o tamanho do seu pau. - Apontou para lá.

E ele correu atrás dela, ela soltou gritinhos entusiasmados, a platéia até riu, apesar de ser uma péssia trágica. E ele a segurou forte em seus braços, parecia um romance conflituoso de verdade, ela bem que queria que fosse...

- Pare de me torturar. Esse seu corpo ardente, esses seus cabelos, esses seus olhos, eu te amo tanto que poderia te devorar aqui mesmo, no meio do nada. - Disse o ator, com a voz chorosa.

- Eu não pedi para você me amar, agora sofra sozinho.

- Sofra comigo.

- Não.

- Morra comigo.

- Não.

- Me mata, então.

- Não tô afim.

- Então eu vou te estuprar.

- Mas eu quero, então não é estupro.

- Falar em estupro me excita.

- Estupro estupro estupro estupro estupro estupro estupro estupro.

E ela a puxou pelos cabelos, sugou seus seios e sua boca, e simularam um sexo violento cheio de tapas ininterruptos. Naquele mundo suas cortinas se abriam e ele a penetrava com força, sádico, cheio de um prazer estupidamente sem fim. E a peça se esvaiu em conflitos e dramas, ela sabia perfeitamente ser outra pessoa, mentir para a platéia, fazer a platéia acreditar, ela sabia de quase tudo, só não sabia muito dela mesma, na verdade, ela nem sabia dela mesma. Para ela, atuar era tudo na sua vida, era uma amante do teatro, e era tão nova ainda, apenas dezessete anos, uma doce ninfa concebida na madrugada dos distraídos, ou dos afogados, como desejasse.

Sentou-se, e após se sentar sentiu um sentimento que de alguma forma, em alguma outra vida, ela já havia sentido, só não sabia quando, e isso era complicado. Lembrou dele, ele era uma vaga lembrança pra ela, como se fosse apenas um personagem que ela criou, e só tinha certeza dele pelas fotografias, as fotografias de uma vida tão curta, e que se transformava a cada segundo. Ela sonhava em algum dia se transformar, mas ela já estava se transformando, e não conseguia parar. Sequer conseguia parar pra pensar nisso.

Foi para casa, era noite, era um pouco de frio. Pôs sua jaqueta de couro para andar por ali, e resolveu ir para uma boate. Entrou facilmente numa ali por perto, e dançou, dançou tudo o que tinha pra dançar, mas ainda assim, mesmo depois daquele dia tão cheio, ela não conseguia encontrar nada.

Sua mente estava quase toda branca, e lá, havia somente um pontinho negro, que estava crescendo de forma lenta e dolorosa, aquilo era a sua única esperança, resolveu se agarrar à ela. E a prendeu com as suas mãos de unhas mordiscadas, não adianta, eu não vou te largar.








~






Andrew Oliveira

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Desejo do Mar


L: Estamos num mesmo barquinho

A: no meio de um mar furioso

L: e não há ao menos velas neste barquinho

temos que remar com as mãos

para chegar ao nossos objetivos

A: e cansamos... queremos chorar mas não podemos

temos que continuar remando com as mãos

L: e o sal do mar junto com o sol está cozinhando nossas mãos que estão remando

e não há agua doce pra saciar nossa sede

A: nem um pouco de um doce lábio, pra saciar a sede do nosso coração

L: e a nossa fome de um amor, está consumindo nossos corpos, estamos pele e osso

A: sonhando na escuridão, com o frio da tempestade, e esse mar que não tem fim, mas ainda sonhando, talvez ainda exista alguém que possa guardar um lugar pra gente no horizonte

L: e esse sonho é o que alimenta nossa alma

é o que nos mantém com vida

mesmo que por um fino fio

mas ainda assim é vida

A: ainda assim é um pouco de esperança, como uma semente pronta para ser semeada, sendo segura em nosso coração

L: a esperança, de que amanhã possamos abrir nossos olhos, e como que por encanto estarmos a beira da praia, pisando na areia de nossos objetivos

A: e nossos pés fazendo sulcos nessa areia, da mais boa sensação de alcance e felicidade,

e nossos cabelos recebendo a brisa à beira-mar

e nossos corpos resgatados por nós mesmos, estivemos sempre ali nos esperando
estivemos sempre ali

L: querido Deus, o que eu queria era apenas beijar e sentir essa felicidade, minhas mãos estão cansadas, e meu corpo está definhando, meus olhos estão cheios de lágrimas, por tanto me leve para voar agora

permita-nos voar agora

A: eu quero sentir as núvens sobre minhas pernas, e aquele carinho que um dia pedi a ti

eu quero abraçá-lo até se tornar parte de mim

eu posso estar sendo egoísta ou possessivo

mas eu quero apenas, e o quanto eu quero, isso ninguém vai me tirar







~






Luísa Amoêdo e Andrew Oliveira.

Visitem, sintam: http://luhamoedohello.blogspot.com/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Despudor


Ah
Não tenho beleza em nada
nunca vou ter
e é por isso que acho tudo uma completa estupidez
Devo ser completamente podre por dentro
e por isso que
Ah
eu queria morrer agora mesmo
ao som de all i need da radiohead
foda-se tudo
eu não queria mais nada
nem quero mesmo
que tudo vá pro inferno
e se eu for pra lá
vou virar o porteiro.
O que mais se pode ter
por enquanto e quanto e agora?
pingo de felicidade ao contrário
Vou ouvir outras músicas
e sonhar sobre tudo
e minhas expectativas
mas ainda quero morrer
quero morrer
quero morrer
quero morrer
quero morrer
quero morrer
eu queria saber cantar
e saber escrever coisas melhores
me acho tão vazio
sou um idiota bastante medíocre, aliás
Cheio de um egoísmo desnecessário
E num efeito me definhando, isso nunca pára
Mas todos nós nascemos para carregar nosso crucifixo
Podia ser mais fácil se não existisse a dor?
Ah
tô aqui falando merda de novo
que bosta
que saco
vão tudo tomar no cu
Eu tô pouco me lixando.






~







Andrew Oliveira, na falta de ter o que fazer .-.

Kill me


Ando apaixonado por algum sentimento anônimo
De qualquer forma, eu poderia dar mil exemplos
E nenhum conseguir detalhar sobre nada
Acho que sim.

E não, não posso sequer me mexer
Tomar uma atitude que mudaria
Sobre como eu te faria
De todas as formas que desejar

Algumas vezes, ou todas as vezes
Brincando com os seus cabelos
E roçando minha mão macia na sua pouca barba
Não digo que nunca foi amor

Meu mais doce
E bêbado coração
Seu sabor me provocou do começo ao fim
E agora não consigo mais parar

Estou exausto, você se cansará de me chamar
Eu não tenho mais ouvidos para escutar suas dores
Nem um olhar cínico para chorar suas decepções
Talvez seus escapismos sobre a tristeza estejam mortos

E ali, naquele ponto redondo e brilhante
Você pode me esperar, ou simplesmente partir
Não importa quanto tempo eu permaneça só
Não importa se eu perder a minha voz

Eu vou fugir para as montanhas
Queda livre de água doce
Folhas e chás de devaneio
Me esconder de mim

Não chore mais.






~






Andrew Oliveira

terça-feira, 14 de setembro de 2010

OST - Hidden Place


Ah... E aqui deixo a Trilha Sonora da Primeira parte de Hidden Place pra vocês, aconselho a baixar, essas músicas são maravilhosas :*

- Hidden Place OST's -

1 - Almost Lover - A Fine Frenzy [Álbum: One Cell in the Sea]

2 - Watch You Sleeping - Blue Foundation [Álbum: Life of a Ghost]

3 - Clowns - Goldfrapp [Álbum: Sevent Tree]

4 - Stepping Stone - Duffy [Álbum: Rockferry]

5 - Oh Father - Madonna [Álbum: Like a Prayer]

6 - Between Two Lungs - Florence + The Machine [Álbum: Lungs]

7 - Cover My Eyes - La Roux [Álbum: La Roux]

8 - Numb - Sia [Álbum: Colour the Small One]

9 - Blue Light - Emilie Simon [Álbum: Emilie Simon]

10 - All I Need - Radiohead [Álbum: In Rainbows]

11 - Spark - Tori Amos [Álbum: From The Choirgirl Hotel]

12 - It's In Our Hands - Björk [Álbum: Greatest Hits]








~










OST Por Andrew Oliveira :)

Foto: Björk no clipe Pagan Poetry s2

Hidden Place - Último capítulo: O encontro deles


Não se sabe o por quê, mas o inverno daquela pequena cidade se foi. Nas últimas pás de terra, ele foi simplesmente, sem deixar satisfação alguma, partindo, bem devagar, e o dia seguinte foi, para todos, o mais quente daquela época, e ainda permanece assim. Ninguém nunca descobriu o motivo da partida daquele inverno tão egoísta, assim como ninguém até agora conseguiu descobrir o motivo do suicídio de Frey. Mas eu sabia. Era Loki.

Aquela época foi a mais difícil para todos eles, para Forseti, que agora era uma enfermeira, para Heimdall, que agora era um renomado advogado, para Hermod, que estava no último semestre de psicologia, e para Freya, uma adolescente cheia de impulsos e rebeldia.

Agora era sol, era girassol e calor, o frio egocêntrico se foi, mas ainda há muito esperando lá na frente, todavia, estes são outros detalhes.

Hermod lembrou do dia em que pôs fogo nas suas roupas manchadas do sangue de Frey, não que ele quisesse esquecê-lo, nem se nascesse de novo ele esqueceria de seu amado, mas porque ele realmente queria dar um passo na sua vida, e não continuar sentado esperando o tempo andar, como sempre fazia. Acordou com aquilo ainda pairando na sua mente, fez a barba, se lavou, pôs uma camisa azul estilo folk e uma bermuda xadrez, e foi para a biblioteca da sua faculdade estudar. Uma leve pontada deu-se no seu peito, mas ele não se importou, e continuou estudando.

E a porta foi aberta, lá estava ela, bela e jovem, a cada dia mais idêntica a Frey, como se fosse uma irmã gêmea que nascera depois, lá estava Freya visitando a pessoa que ela mais admirava, Forseti. Forseti deu um etéreo sorriso, e a convidou para entrar, era um final de semana, e Forseti já sabia, Freya sempre gostava de visitá-la nos finais de semana, sábado e domingo, o dia inteiro lá. Tyr sentia um pouco de ciúmes, porém, ele ainda gostava muito de Freya, de fato, ela era uma ótima companheira.

- Oi Freya, entre. Tudo bem com você? - Disse Forseti numa voz materna.

- Onde está o Tyr?

Dessa vez, era Forseti sentindo uma leve pontada.

- Meu filho está lá no quarto, ouvindo música, como sempre. - Ela adorava falar 'meu filho', sentia-se segura de si.

- Ah... Depois eu falo com ele.

- Quer um sanduíche?

- Quero sim. - Sorriu Freya, era incrível como os traços dela eram igualzinhos aos de Frey.

- Como foi sua semana?

- Foi um pouco entediante. Sabe, eu ando com uma pontada estranha no peito, é como se eu quisesse visitar meu irmão.

- Então vamos, ué. Vou ligar para Hermod e para Heimdall.

- N-Não... - Disse meio envergonhada.

- Por que não? - Questionou Forseti fazendo uma expressão triste, parecia com um desamparo.

- Queria ir só eu e você, Forseti.

- Mas Frey foi importante para todos nós, Freya. Não seja egoísta.

- Tudo bem.

Forseti deu outro sorriso materno, Freya adorava aquele sorriso, ela esperava a semana inteira para vê-lo. Deu um beijo carinhoso na bochecha rosada da menina, e pegou seu celular, discou alguns números e o pôs na orelha, meio séria.

- Hermod?

- Forseti! - Forseti sentiu a vontade de sorrir de Hermod.

- Vamos visitar Frey? Agora mesmo?

- Era exatamente nisso que eu estava pensando. - Revelou um Hermod um pouco assustado. - Vou ligar para Heimdall, espero que ele esteja livre.

- Para Frey, nós sempre temos que estar livres. - Sorriu a mãe.

A casa vantajosa de Forseti ficava um pouquinho longe daquela cidade, era como uma moça do campo, Freya adorava ir lá de bicicleta, só assim, só com Forseti, só com aquele lugar tão calmo e parado, Freya se sentia bem. O sol dourava as casas e as ruas, o cemitério também, até ele ficava com uma aparência melhor, parecia que a morte tinha se transformado em libertação, talvez fosse.

E logo todos se encontraram na lápide de Frey, todos com o mesmo sentimento. Não era de perda, nem de tristeza, era de felicidade, a mais pura felicidade. Um doce aroma de uma flor era inalada naquele lugar, poderia ser o hálito de Frey, o seu perfume, o cheiro do seu corpo, mas além disso, era outra coisa. Era muito mais do que amor, do que paixão, do que qualquer sentimento bom e ruim, era grandioso, esplêndido, cheio de um orgulho necessário para se manter.

Eu ainda estou aqui, te abraçando e te dando proteção, meu mar, meu náufrago da minha ilha que pertence somente a ti. Era sim, pois naquele momento, todos sentiram o mesmo, Frey estava sorrindo, Freya sabia disso, ela sabia sim.






~





Hidden Place - Fim.
Pelo menos a primeira parte :)



~







Andrew Oliveira

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 12: O nirvana dela



- E quando você olhar para trás, vai ser válido todo esse risco?

- Eu não sei... Eu não consigo saber. É como se a minha mente estivesse presa. É como se eu
quisesse fugir da minha própria sombra.

- Você ama Heimdall tanto assim? Vale à pena sofrer tanto por ele?

- Por que você mesma não se pergunta? Pra sentir como eu estou agora? O que é exatamente correr riscos por uma pessoa? É se humilhar por ela? - As perguntas de Frey se dissiparam nas memórias de Forseti.

Forseti ainda chorava, afinal, não se tem mais nada pra se fazer num velório, além de chorar. Freya gritava desesperadamente, como se tivessem arrancado alguma parte de seu corpo, e sua avó tentava acalmá-la, sem sucesso algum. O ar estava abafado, apesar do frio lá fora. Roupas e sapatos pretos, todos sociais. Poquíssimas pessoas, na verdade, lá estava a mãe de Frey, sentada numa cadeira, perdida em seu próprio mundo. Algumas pessoas não conseguem acordar para os outros mundos, ou algum horizonte qualquer. Heimdall segurava o choro, não se sabe porquê.

Apenas o silêncio tomava conta daquela sala acalentada por uma dor dilacerante. E ainda tinha Hermod, Hermod olhava apenas de modo vago e vazio, sem expressar nada, para o corpo magro, pálido e frio de Frey, ele não brilhava mais. Não tocou nas suas mãos, nem chorou, permaneceu apenas com a boca meio aberta, com o olhar cabisbaixo. A lareira da casa da avó de Freya e Frey respirava ali, o carpete absurdamente branco, e o caixão no centro da sala, exposto para aquelas criaturas mornas de alguma coisa que eu também não consigo explicar.

Não se pode explicar o vazio, apenas senti-lo.

O pássaro negro estava longe, Hermod se encontrava sentado no seu inconsciente, assistindo a si mesmo deitando ao lado de Frey por tantos dias, todos aqueles dias eram ardentes para ele.
E o seu hálito quente passando pelo seu pescoço, mordendo-o como se fosse um vampiro, e soltando leves gemidos de satisfação. E Hermod adorava devorar aquela boca. Ele passeava todo o seu corpo pelo corpo de Frey, aquela palidez tão quente e devassa, de um cheiro doce como uma primavera esquecida num outono de café. Seus olhos ofuscantes, meio desfocados, meio distraídos, que dançavam com a canção de amor do coração de Hermod.

Aquilo se chamava Felicidade.

Forseti ainda sentia os abraços de Frey, mas ela não queria que ele se tornasse apenas uma lembrança, entretanto, já estava se tornando. E todas as vezes que brincaram juntos na areia, na frente de casa, nos parquinhos, na escola, e todas as vezes que conversaram sobre o amor, sobre a felicidade, sobre seus sonhos e suas expectativas, sobre seus objetivos, e todas as vezes que choraram juntos, que dormiam juntos, como dois irmãos. Tudo estava se definhando num espaço fechado, meio escuro meio clareado, não era lembrança, nem espera, nem felicidade.
O amor é um quarto escuro e fechado, onde só se ouve o ressoar de uma canção chamada Esperança, e de um sussurro chamado Dor.

As horas se descosturavam devagar, como se o tempo estivesse com preguiça, quase parando, aliás, andar num deserto durante toda a eternidade é mesmo entediante. Mas é assim que as coisas são. E por que não quase ninguém consegue mudá-las? Até que o meio dia chegou, pouco sol, como sempre, hora de enterrar. Ninguém estava com apetite, nem com a mínima vontade de fazer qualquer outra coisa, comida ou ação alguma poderia tirar aquela sensação de perda. As pessoas precisam de um fardo para suportar o mundo.

A Perda é um sentimento consequênte do egoísmo, os egos são apenas um peso cinzento no além.
Forseti deu mais uma olhada na mãe de Frey, que estava apenas com a cabeça baixa, os cabelos desarrumados, ela não estava sentindo o mesmo que aquela mulher, com certeza não. Mas mesmo assim, foi em direção à ela.

- Eu não faço a mínima ideia de como você se sente agora. Eu não sei o que você vai pensar de mim. Mas por que você o abandonou?

Ela apenas chorava, de cabeça baixa. Não respondeu nada, nem tentou, Forseti se sentiu ignorada e se irritou um pouco.

- Acho que isso se chama castigo. É o que sempre acontece. - Disse ainda Forseti.

Ela segurou um braço de Forseti, impedindo-a de ir embora. E ela não conseguia parar de ver Frey segurando aquele ursinho de pelúcia no parque, todo sujo da areia, eu tenho que lavá-lo filho! Ele está uma imundície! A senhora vai devolver ele, mãe?

Você vai devolver o meu coração?

- Forseti... O que você faria se tivesse que escolher entre respirar no inferno, ou ser uma escrava no céu?

Forseti tirou lentamente a mão da mulher de seu braço, com delicadeza.

- Eu ainda escolheria morrer e permanecer na terra. Não se pode fugir do que é certo.

- E o que é certo, pra você?

- Enfrentar as adversidades que me impõem. O que mais eu poderia fazer?

O que mais se pode fazer quando você está numa ponte prestes a arrebentar a corda que a segura?

~

Forseti e todos os outros, após o enterro, foram para suas casas, chorar, bebericar café e ouvir alguma música de um rock pornográfico esquecido. E se definharam lentamente naquele luar cheio, naquelas estrelas que davam o caminho que ainda paira sobre o amor e a solidão. Talvez o amor e a solidão andem juntos, nenhum desses sentimentos precisam do que é recíproco para viverem e ainda continuarem ali, insistindo e penetrando seus espinhos na crucificação de cada um. Nós somos apenas animais orgulhosos cheios de pregos nos segurando na nossa cruz, porque nem a nossa própria cruz consegue segurar o nosso insignificante peso. Somos as antenas de uma formiga, procurando por abrigo e comida, que patéticos.

Você tem apenas que encontrar a si mesmo

Você tem apenas que ter auto-confiança o suficiente para continuar ali, firme e corajoso.

E foi isso que Forseti fez, após ter descoberto o vazio dentro dela, o vazio onde uma criança se instalava, o vazio de seu coração. E foi essa a atitude que Forseti tomou, durante os dias que começaram a acelerar, com o tempo correndo livre ao conseguir enxergar o horizonte de um oásis. Dias, semanas, meses. E foi assim que Forseti passou seus anos, descobrindo uma nova chance para viver bem, ao lado do melhor presente que Deus poderia lhe dar.










~








Andrew Oliveira

FLORENCE + THE MACHINE - Meu orgulho u.u


Agora, quebrando o clima mórbido de Hidden Place no meu blog, eu estou até agora emocionado, gritando e pulando loucamente aqui. E não, não estou feliz pela Lady Gaga finalmente ter parado de imitar os outros, mas por causa da Florence Welch, da Florence + The Machine, que se apresentou ontem no VMA. Eu realmente nunca parei pra assistir um VMA inteiro (e ainda bem que ela se apresentou lá pelas primeiras premiações...), mas eu fiz questão de esperar assim que soube que uma das maiores e melhores cantoras debut da atualidade iria se apresentar.

Ela sussurrou, ela gritou, ela pulou, ela dançou, ela chorou, e tudo em meio ao figurino estilo super-produção igualzinho ao clipe. Florence se libertou e libertou todo mundo dos padrões sociais cantando Dog Days Are Over no VMA desse ano, e muito mais do que isso, ela gritou para o mundo o seu nome e sua capacidade, tanto vocal quanto artística. Foi poético, foi suave, e ao mesmo tempo forte e ousado.

É assim que Florence é, e é assim que ela está conquistando o mundo, não por ser qualquer uma, mas por criar músicas tão belas num mundo cheio de um mecanismo superficial onde qualquer um acha que pode fazer música (vide as outras apresentações nesse VMA....).

Florence, além de fazer arte com suas letras e com sua voz, é melhor em tudo. Eu a conheci ano passado com Kiss with a fist, mas foi no início desse ano quando um amigo (É, foi o Antonio >.>) me apresentou suas outras músicas. E logo eu me apaixonei, e logo importei o CD Lungs pra mim. E logo estou aqui, emocionado, me sentindo super orgulhoso dessa artista de corpo e alma, fodam-se o que pensem sobre o que estou sentindo agora.

Mas é muito mais do que felicidade, eu sei que a Florence irá emocionar o mundo inteiro, eu sinto.

The dog days are over


E isso é apenas o começo.







~




Andrew Oliveira, com todo o prazer :)

domingo, 12 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 11: A alma dele


E ele correu, e ele sentiu seu coração pesar, e seus olhos arderam, e sua vida se entortou, e sua sombra dissipou, e ele ligou para ela, não estava nada bem, ele sabia disso, e lentamente algo dentro dele se definhou, ele não sabia o que era, e estava com medo de saber. A casa estava meio escura, ele ligou as luzes da sala e da cozinha, apreensivo, ele estava com uma vontade imensa de chorar, mas não sabia o porquê, achou ter ouvido o piar de um pássaro, mas não deu importância, o pássaro negro estava chorando, o pássaro negro se escondeu num espectro de si mesmo, enlouquecido e desamparado.

Você quer ser o oceano ou a lágrima? Disse Frey uma vez para Hermod. Eu quero ser um pouco dos dois, respondeu ele. Eu quero ser a imensidão de uma lágrima e a magnitude de um oceano. E o que você é agora? Um corpo ou uma alma? Eu sou a sua alma. Mas você não pode ser a minha alma, pois já tenho a minha. Eu sou somente seu. Você quer ser o meu corpo também? Eu quero possui-lo. Eu quero te estrangular, só assim você será apenas meu. Você pode me possuir ainda vivo. Eu quero ser seu.

Eu amo os seus olhos, eu amo sua orelha, eu amo sua nuca, eu amo seus cabelos lisos jogados no rosto, eu amo seu peitoral, eu amo seu pescoço, eu amo sua barriga magra, eu amo sua pele branca embelezada com alguns sinais, e aquela mancha parecida com um coração nas suas costas, eu amo também as suas costas, e as suas costelas, eu amo seu pênis, eu amo suas nádegas, eu amo tocá-los, eu amo suas coxas, eu amo suas canelas, eu amo seus pés, eu amo seus pêlos, eu amo seus arrepios, eu amo também seus gemidos, eu amo sua voz, eu amo suas lágrimas, eu amo seus sorrisos, eu amo seu esperma, eu amo cada póro seu, eu amo sua garganta, eu amo sua respiração ofegando em mim, eu amo seus abraços, eu amo seus braços, eu amo sua fraqueza, eu amo sua melancolia, eu amo a sua dor, eu amo seu amor, eu amo seus dedos, eu amo suas unhas, eu amo os seus ossos, eu amo suas vísceras, eu amo as batidas rápidas e fortes do seu coração, eu te amo tudo, eu te amo em mim.

E ele abriu a porta do quarto de Frey, manchas de sangue no carpete, a janela aberta, Forseti, após ter recebido uma estranha ligação, logo chegou também. E debaixo da porta do banheiro mais manchas de sangue. Ele abriu a porta do banheiro. Forseti logo atrás, se aproximando. E lá estava Frey, deitado no banheira seca, apenas molhado pelo próprio sangue. Hermod lembrou de todas as vezes em que ele ficava assim. Ele nunca sabia o porquê. Agora sabia. E uma vontade de gritar empurrou seus ossos contra seus pulmões e ele mal pôde respirar e mal conseguia falar ou se expressar e os céus negros de seu mundo particular desabaram sobre os oceanos que um dia ele chamou de amor, ainda era amor, só estava forçando o seu fim.

Eu sou o sopro da vida que passa pelo seu pescoço, eu sou os seus sapatos e as suas roupas, eu sou o seu orgasmo mais prazeroso, eu sou seu animal, eu sou sua mentira, eu sou a inocência que ainda paira sobre ti, eu sou a tua luz e o teu fim, você é a única coisa nesse mundo que eu preciso.

Você é o amor que me faz viver, você é como a minha respiração, eu te respiro, tu me ferves. Não me deixe.

Forseti gritou, não sabia se chorava ou se fazia alguma coisa, os olhos de Hermod esvaziaram, como se algo tivesse saído dali, pareciam duas petecas de um vidro hazel, não tinham nada, a não ser a dor. Ele entrou na banheira, e pôs Frey em seu colo, sem expressar qualquer sentimento, o sangue manchou sua calça e seu súeter branco, o sangue dele impregnava na sua alma, Forseti se ajoelhou no chão chorando desesperadamente. Todos eram desesperados segurando a mesma lanterna do inverno daquele mundo tão cruel.

Hermod o abraçou forte, seu corpo já estava ficando mole, e o beijou, Frey ainda estava um pouco consciente, e se sentia feliz por ainda sentir o calor de Hermod. O calor dele acalentava a sua alma cheia de gestos inconstantes. E por um momento Frey se sentiu tão feliz que já estava até arrependido de ter feito aquilo. Ele sorriu.

- Não nos abandone. Nós precisamos de você.

E ele mal terminou a frase, e as gotas salgadas de amor começaram a sair da toca de seus olhos, ele não aguentou mais. O seu peso em cima dele, fraco, no último fiapo de sua vida, na última lasquinha de esperança, Frey abriu os olhos lentamente, ainda semicerrados, e falou bem baixinho, bem perto da orelha fria de Hermod, mas não eram últimas palavras,
tudo estava se abrindo para um recomeço.

- Eu vou te dar o oceano.



Não se esqueça disso.






~









Andrew Oliveira

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 10: A vida dela


E exatamente, naquele instante, Deus olhou para Frey, com compaixão, assim como Frey olhara para Heimdall um dia desses,

acho que isso se chama universo.

O universo é uma forma que se escorrega por entre os dedos, é como água, é como um deserto de espelhos e cacos no chão, você se perde, você se fere, você enxerga somente a si mesmo. Não se pode dizer também que não é uma sombra, ou várias linhas de costura da morte e da vida.

Nós somos a roupa.

Inicialmente Hermod não sabia o que fazer vendo o corpo trêmulo de Frey, ficou apenas ali, parado, com medo, o que está acontecendo com ele? Enquanto que há algumas quadras daquela pequena cidade, Forseti levantava da cadeira de espera, com o coração a mil, prestes a arrancar seu filho do ventre, como se tira a pulga de um cão, pressionando com as unhas até matar a criatura parasita, naquele momento ela o sentia como um parasita também, e não como um ser mais belo do mundo, um presente dos anjos. Sua culpa era maior.

Heimdall apenas a vigiava com o olhar morno, sem transparecer concordar ou discordar da decisão de Forseti, mas Forseti de alguma forma se sentiu repreendida, como se ele dissesse "não faça isso". Forseti suspirou e tentou manter a calma, ainda era tempo de voltar atrás, mas o que será de mim?

E ela entrou onde fora chamada, e Frey começou a ficar inconsciente, eu tenho que tomar uma decisão, eu preciso tomar uma decisão.

Um outro garoto que passava ali perto logo reconheceu Frey. Foi em direção a ele. Pegou uma caneta e a penetrou com força na coxa do rapaz. Frey num susto levantou. E olhou para Hermod, evergonhado. E chorou.

- Seu estúpido, você tem que aprender a se controlar. - Disse o rapaz. - Se você morrer desse jeito pode sobrar pra mim.

- Me desculpa, eu estava desesperado.

- Desespero não é motivo. Todos nós somos primatas orgulhosos com uma auto-confiança barata estampada na cara, cheios de dor e desespero. Se enxerga idiota. - Resmungou o desconhecido.

- Você vai parar de vender isso pra mim? - Disse Frey esfregando os olhos.

- Você nem vai pensar em comprar isso mais, Frey. - Falou Hermod, ainda assustado com toda aquela adrenalina repentina.

Frey encarou Hermod, de uma forma duvidosa, mas logo cessou o comportamento ansioso. Hermod o levantou e foram embora para casa, o desconhecido ficou apenas ali, pairado no seu cotidiano, que, para ele, não era grande coisa.

E os segundos também se balançavam para Forseti, que hesitou um pouco enquanto observava a sala de atrocidades, sentiu um cheiro forte de desinfetante, viu vários objetos médicos numa bandeja prateada, a luz branca e forte nos olhos, suor frio, culpa, uma médica, culpa, e culpa. Ela não aguentou e logo saiu correndo daquela sala, e depois da clínica, com medo, cheia de insegurança, e outra decisão tomada.

Heimdall logo chegou perto dela, com um ar compreensivo, colocando a mão nos ombros de uma Forseti ajoelhada, com a neve molhando sua calça, suas botas pretas aquecendo seus frágeis pés, e todo agasalhada, tirou o cachecol e aguentou o choro.

- Eu... Não tenho coragem de fazer isso. Não é o certo.

E o que seria o certo? O errado?

- Vamos pra casa, Forseti, seu dia foi mais longo do que parece.

- Eu quero ver o mar.

Heimdall pegou a sua mão, e foram em direção ao som das ondas. O sol como sempre morno, o pássaro negro observando tudo por ali, e foi assim que Forseti terminou o seu dia. Sonhando ver o mar e ouvir as ondas, asas, núvens e um sol bem quente, num verão nostálgico, numa vida comum e cheia de felicidade, ao lado de seu filho.

~

E o natal chegou, para Heimdall, Forseti e Hermod, não era um grande dia. Heimdall como sempre sem descanso algum na faculdade, Forseti na pediatria ajudando a mãe, Hermod em casa olhando para o nada, e Frey, arrumando suas malas, feliz, indo para a casa de Hermod, Hermod morava sozinho, mas ainda era sustentado pelos pais, que ficavam muito longe dali. Frey colocou sua última camisa. Seu padrasto entrou no seu quarto.

- O que você pensa que está fazendo? - Grunhiu Loki.

- Eu vou sair daqui.

- E quem te deu permissão, moleque?

- Eu não preciso da sua permissão.

O som de um tabefe silenciou tudo.

- Nem pense em fazer isso. - Ameaçou.

Frey levantou a sua mala, Loki o empurrou e o socou até Frey ficar todo inchado. Partiu. Frey descansou ali mesmo, cansado daquela mesma rotina, daquele mesmo ciclo vicioso, o rosto inchado, cheiro do próprio sangue, frio, muito frio. E disse para si mesmo, bem baixinho, tão baixinho que nem Deus pôde ouvi-lo e ajudá-lo dessa vez.

"Eu vou acabar com tudo isso de uma vez, agora mesmo."

E sonhou, sonhou estar ao lado de Freya, abraçando-a, amando-a como se ama imensamente uma irmãzinha que tem o melhor amor do mundo.

Seu amor estava longe.

E cortou os pulsos com uma navalha. E sangrou até morrer.


Eu quero ver o mar.









~










Andrew Oliveira

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Hotter Than Hell


Entre um fio de respiração
Uma forma de querer entender
Sua mente insana,
Eu me renego

E nas tardes douradas
Que você deu de presente
Para cada dedo meu
Eu as pressiono contra o seu peito

E te transformo em sol
Dentro do teu coração
Te dou o ar da minha vida
Eu me entrego para os seus braços

E dentro, bem dentro
Eu procuro aquele sentimento
Com um mapa que fiz com sua esperança
Eu te escrevo em meu corpo

Estendo um crepúsculo sozinho
Meu amanhecer interno
Sombras se esticam pelo chão
Eu só quero poder te tocar na chuva

Mas quando o mundo parar
Quando o tudo permanecer imóvel
Nas luzes infocáveis que me cegam
Eu decidirei te pôr no meu peito

E eu vou te guardar
Nas cicatrizes que não param de sangrar
A cada batida, a cada gota de sangue
Eu vou te amar como se ama uma estrela

Aquela estrela que você me disse outro dia
Ser feita para mim

Você é minha fonte de água e sangue
Eu sobrevivo somente de ti

Me ferve.





~






Andrew Oliveira, ou Black Cherry :)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 9: O corpo dele


Uma faísca derramou de um chafariz fluorescente no meio de uma floresta, vinda de um coração ardente e fumegante. A faísca percorreu voando acima de mares e florestas, numa tentativa frustrada de procurar a si mesma, ela nunca se encontrava, ela nunca se permitia encontrar. Até que um dia ela conheceu a chama, e com a chama se transformaram em uma só, e com a chama puderam ver o quanto o mundo era belo, e com a chama, ela se conheceu, amou a chama, amou-a como nunca amara algo na vida, a chama era o motivo da sua vida, até chegar o fim chamado Chuva, e da chuva, restaram as cinzas de um efêmero amor.

Um violoncelo circunspecto passeava pelos ouvidos de todos, Heimdall o tocava ternamente, como se fosse a última canção para o mundo. Passeava por Forseti, que estendia seus lençois brancos, pensando no que faria dali pra frente. Passeava por Frey, que cheirava cocaína descontroladamente, tentando fugir da realidade. E passeava por Hermod, ainda com o celular nas mãos, e com o seu futuro também. O que eles poderiam fazer naquele momento? O que eles deveriam sentir ou pensar? O que mais eles fariam, e se fizessem, o que aconteceria depois?

Um dezembro insensível ainda se estendia, já era dia 23, a véspera de natal será amanhã, pensaram. O que eu vou dar de presente para ele? E para ela? Elas não sabiam de resposta alguma.

E se tornaram apenas parte de noites soturnas. E se tornaram apenas um grão de areia naquele doce infinito. E desejavam gritar, expelir toda aquela dor que se impregnava nas paredes de seus corações, mas eles nada podiam fazer, a não ser, por enquanto, serem passivos ao que acontecia a eles. Mas nada era suficientemente bom, nem o bastante para sobreviver naquele mundo. E então, resolveram ir para a luz. O natal chegou.

- Você não vai sair hoje, Hermod? É véspera de natal. - Disse Frey, colocando uma cueca.

- Não, não estou afim.

- Por quê? Você não gosta do natal?

- Não, não me sinto bem. Só isso. E você? Por que você gosta do natal?

- O natal me lembra a minha mãe, e na boa época em que ela morava conosco, junto com Freya, ela ainda era bebê nesses tempos. Por isso que eu gosto dele. - Sorriu.

- Isso é inspirador.

- Pelo menos me acompanhe. É tão chato andar por aí sozinho.

Hermod deu um olhar de désdem, ainda deitado no sofá, Frey foi em direção a ele, e se posicionou em cima do rapaz:

- Por favor.

Hermod cedeu-lhe um longo beijo. Aceitou.

~

- Está tudo bem? Por que estás tão triste? - Perguntou Heimdall.

Ela fez que não com a cabeça.

- Quer um pouco de café?

Ela fez que sim. Heimdall foi em direção a cozinha, pegou uma garrafa térmica, uma xícara, e a encheu de café.

- Toma. - Disse para a moça já sentada no sofá. - O que aconteceu, Forseti? Foi Hermod de novo?

- Não, dessa vez fomos nós dois. - Disse chorosa, as lágrimas não paravam de escorrer.

- Você ainda o ama, não é?

- Eu não sei se sou a pior pessoa do mundo por ainda amá-lo. Mas eu só quero que ele seja feliz. Eu não sei o que fazer com este filho, eu não sei o que fazer da minha vida agora, me sinto como se não tivesse mais nada nesse mundo. Eu só quero alguém onde possa me apoiar e me sentir segura, isso é errado?

- É claro que não, Forseti. Olha, eu vou te ajudar o quanto for preciso e até onde meu limite possa chegar, eu vou estar sempre do seu lado.

- Obrigada. - Disse abraçando-o. - Heimdall...

- O quê?

- Acho que vou abortar.

- A decisão é sua, se você quiser, eu vou com você.

Heimdall breve se arrumou para sair, trancou a casa e logo foram passar as horas de dezembro num hospital. A cada passo seu corpo ficava mais pesado, como se fosse algum tipo de culpa, não deixava de ser, era culpa, dor, angústia, arrependimento, amor, paixão, raiva, depressão, todos misturados e fazendo com que Forseti ficasse uma pilha de nervos. Chegaram no local.

- Você tem certeza mesmo, Forseti?

- Tenho.

Entraram no local, e esperaram, esperaram, esperaram....

Num beco ali próximo, Frey se entupia de cocaína, enquanto Hermod dava uma olhada numa loja. Usou tudo o que tinha, desesperado, louco por mais, até que seu corpo todo se contorceu, Frey caiu no chão, e uma overdose tomou conta da sua alma tão ferida, tão estúpida.

- Forseti! Forseti Ann, é a sua vez.




~




Andrew Oliveira

domingo, 5 de setembro de 2010

Hidden Place - Capítulo 8: A decisão dela


E passeou pelo seu corpo, explorando cada parte dele, aquela pele pálida e tímida, agora estava se entregando, ele implorava por erupções e devastações nos seus póros, sua língua soltava leves gemidos de dor e prazer, seus pêlos se arrepiavam, seu sexo pulsava e esquentava como lava incandescente, Frey era como um furacão, e Hermod a cidade assolada por ele. Até que o compasso dos dois amantes se tornou um fim de carícias na cama, Hermod gostava de ser mimado, enquanto se deitava sobre o peito de Frey.

- Às vezes eu tenho a impressão de que, quando eu fosse te tocar, você desapareceria. - Sussurrou Hermod.

- Por que essa impressão tão estúpida?

- Você é como alguma forma inalcançável e efêmera, é algo especial que deve ser apenas visto, e não tocado.

- Você não deveria me idealizar.

- Mas é isso que eu sinto.

- Hermod, o que fez você gostar de mim?

- O desejo de abraçar um anjo no inferno.

- Eu sou o anjo?

- Você é o inferno.

Hermod adormeceu, era fim de tarde e uma nevasca deixava poucos rastros de sol saírem por entre as núvens gordas e vespertinas. O pássaro negro continuava ali. Frey pegou um saquinho do seu casaco e entrou no banheiro, ali permaneceu até a noite. Hermod sentiu a sua falta.

- Frey, onde você está? - Disse sonolento, procurando-o. - Frey!

Um leve ar entrou na sua pele, a janela estava fechada, mas ele não se importou, um calafrio na nuca, resolveu ir ao banheiro. E lá estava ele, deitado na banheira, submerso na água, divagando.

- Frey... - Ele o levantou e o abraçou. - Está tudo bem.

Hermod já estava se adaptando ao comportamento de Frey. Frey hesitou um pouco, mas logo cedeu ao seu abraço.

- Quando eu olho para o chão, não consigo ver meus pés, tampouco algo sólido. É um ar denso e escuro, é inatingível.

Talvez seja eu mesmo tentando fugir de mim.

- Você tem medo?

Talvez eu pudesse correr até o infinito, e encontrar várias coisas por lá.

- Eu tenho escuridão.

Eu posso imaginar o quanto posso ser feliz, ou somente viver essa realidade cinza.

- Você não precisa viver nela por obrigação.

Eu quero voar.

- Eu não consigo sair de dentro de mim.

Eu quero beber achocolatado ao seu lado e rir das suas piadas infâmes.

- Você pode o que quiser, Frey, basta ter força suficiente para isso.

Eu quero o seu sorriso para mim.

- Tome cuidado, eu posso te roubar para mim.

- Eu sou seu.

O celular de Hermod tocou.

~

Sua visão estava turva, se sentia enjoada quase sempre e mal conseguia sair de casa, ainda não tinha contado para sua mãe. O primeiro a saber devia ser Hermod. Pegou seu celular:

- Forseti? - Falou a outra linha.

- Hermod... - Não aguentou ouvir sua voz.

- O que foi? - Estranhou.

- Eu... Eu...

- O que foi, Forseti?

- Não se preocupe, eu nunca vou falar pra ele sobre o pai.

- O quê? Forseti, não estou entendendo nada.

- Mas eu não vou, jamais vou abortar.

O teto sobre Hermod desabou.

- Forseti, você tem certeza?

- Tenho! Hoje fui ao médico. - Começou a chorar.

- Aborte-o. - Falou sem pensar muito.

- O quê? Eu não estou acreditando em você, Hermod.

- Aborte-o.

- Eu não vou abortá-lo! Já disse!

- Aborte-o!

- NÃO! - Soluçou de tanto chorar. - Não! Eu vou criar esta criança, vou amá-la de todo jeito.

- Como você vai criá-la? Sua mãe não vai estar disponível o tempo inteiro pra você. E os seus estudos? Como é que ficam? E os seus sonhos? Você vai abdicar de tudo isso por uma criança que nem desejou? Você está enlouquecida?

- Não é o que chamam de instinto materno?

Por alguns minutos Hermod ficou apenas ouvindo Forseti chorar no telefone.

- Forseti... Como é que eu vou viver sabendo que tenho um filho por aí?

- Eu vou abandonar todos os meus sonhos, Hermod. Isso não é o suficiente?

Hermod calou-se.

- Você não pode se agarrar à uma mentira que possa chamar de esperança, mas dessa vez, eu estou presa numa verdade, e não há nada, absolutamente nada mais forte do que isso.

Eu vou voar, do jeito que eu quiser, quando eu quiser.






~





Andrew Oliveira