Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sábado, 25 de junho de 2011

The Birds - Capítulo 4

As mãos voltaram ao chão de concreto e desapareceram sem deixar rastros. Rhett desabou no chão, ferido e desmaiado, Angelina sugou todo o ar assim que a mão na sua garganta tomou antes de desaparecer por completo. Scarlett olhou de um lado para o outro, sem saber quem deveria ajudar primeiro. Mas ela foi a primeira a ter a razão retornada ao cérebro.
- Te... Temos que encontrar um lugar logo... – ela falou, sem se dirigir a alguém específico.
João se levantou mais adiante, carregando uma Madalena desfalecida, e Khaydan também fez o mesmo com Rhett.
- E... Eu já tinha visto uma pequena porta, acho q-que é uma toca, antes di-disso tu-tu-tudo acontecer, e... – Angelina pôs a mão sobre os seios, seu coração estava perigoso, e então ela ofegou durante algum tempo, mas não era asma, era o auge do medo.
- Nos mostre, Angelina. – chegou João, com o rosto tão soturno que parecia ser um pedaço das trevas flutuante.
Angelina caminhou com as pernas bambas, com Scarlett e Khayran não era diferente. Ali, apenas João parecia ter a força recuperada, ou pelo menos parte dela. A pequena loira dobrou por um outro corredor aparentemente não tão assustador, e então empurrou o que parecia ser uma parede normal, mas logo se revelou ter uma portinhola que levava ao novo lar.
~
A noite em Nova York estava deslumbrante, como quase sempre. Madalena desceu do elevador daquele grande edifício e enfim surgiu para o homem robusto e carrancudo que contava os minutos em que ela se atrasou. As luminárias cintilavam na sua pele negra, no seu vestido preto, curto e bordado, e nos seus olhos ambiciosos.
- Quanto vai ser? – ela perguntou, tirando um celular touch-screen da bolsinha preta que segurava com as longas e glamourosas unhas vermelhas, tão fortes quanto o seu batom.
- Quinhentos é o suficiente. – disse o homem, uma voz grossa e asquerosa.
- Ela não vale só isso. – ela agitou um pouco o salto direito, ansiosa.
- Me prove.
Madalena exibiu fotos sensuais e explícitas de uma garota no seu celular.
- E então, vai querer?
- Claro que quero, adoro carne asiática. – ele riu, e pegou um charuto cubano do bolso, acendendo-o com um isqueiro de ouro. – Quer um?
- Não obrigada. Parei de fumar.
- Traga-a daqui há vinte minutos. Se ela não vale quinhentos, ela vale então oitocentos.
- Ok.
Madalena apertou sua mão e se retirou do edifício quatro estrelas, entrou num carro esporte preto, grande o suficiente para mais carne, e partiu rumo a um beco. Um verdadeiro contraste onde ela estava agora e onde estava antes. De uma linda cobertura para um lugar pequeno, mofado, mal-iluminado, com cheiro de menininhas.
João abriu a porta de um quarto, estava suado e tinha um arranhão no pescoço. Atrás dele, nos cantos e na escuridão, garotas e garotos se encolhiam e abraçavam as pernas, desejando sair daquele pesadelo. Madalena o avaliou e depois avaliou sua mercadoria.
- O que aconteceu?
- Nada demais, Madalena. – João bufou.
- O QUE ACONTECEU? QUEM FEZ ISSO COM ELE? – ela se direcionou às adolescentes com olhar furioso.
- MADALENA! Deixe isso pra lá! De qualquer forma, elas não vão entender.
Madalena respirou fundo, e então a calma no seu rosto voltou.
- Jasmine queria fugir. Foi só isso. – ele explicou.
- Jasmine... Como ela está?
- Não se preocupe, está intacta.
- Ótimo, consegui um bom preço por ela. Traga-a pra mim no outro quarto.
Madalena desapareceu. João se voltou para os olhares amedrontados atrás dele e então se direcionou a uma linda garota de olhos puxados, olhos secos de tanto chorar, pouco mais de quinze anos, corpo perfeito e até bem desenvolvido. Ela sussurrava baixinho alguma coisa misteriosa, mas provavelmente estava orando ou chamando pela mãe.A pele branca como leite do seu braço se avermelhou quando João a puxou, tirou-a daquele quarto, e a postou num outro, bem mais iluminado, quase um pequeno estúdio, com um espelho bordado de luzes e uma mesa cheia de maquiagem, ali no canto, cabides exibindo vestidos, saias, camisas e calças.
Madalena já estava ali, sentada, esperando. Jasmine sentou-se na sua frente, e então pegou um lenço e tirou todo o suor do rosto, mas então novas lágrimas surgiram querendo sair dos seus olhos.
- Por que vocês fazem isso com a gente? – Jasmine perguntou, a voz rouca e pueril.
- Nesse mundo, Jasmine, existem dois tipos de pessoas. – Madalena disse, pegando um rímel e passando nos longos cílios de Jasmine. – As que sofrem e as que fazem sofrer. As que sofrem sempre terão que lutar contra as adversidades, e as que fazem sofrer um dia terão seu devido castigo.
- Por que você escolheu fazer sofrer?
- Isso não faz muita diferença agora. Já estamos no inferno, de qualquer forma. Deus é apenas a catarse disso tudo.
- Eu... Eu quero ir pra casa. Eu não aguento mais... – o delineador deixou seus olhos puxados poderosos.
- Isso já não me interessa.
Jasmine engoliu um soluço, não queria fazer Madalena borrar sua maquiagem, que já estava no fim.
- Vá se vestir. Pegue o vestido vermelho da Donna Karan, ele deixa suas curvas melhores do que já são.
- Si... Sim.
Minutos depois, Jasmine e Madalena já estavam no carro preto com o homem anônimo dirigindo, Jasmine pensou na sua mãe e teve a fértil imaginação de que esta ouviria suas preces e de alguma forma, de alguma maneira, ela a ajudaria a fugir dali. As duas entraram no mesmo edifício luxuoso onde Madalena se encontrava dezenove minutos atrás, e lá estavam o homem quarentão e carrancudo, fumando seu charuto e esperando a deliciosa mercadoria.
- Diga que é virgem, se faça de virgem na hora. E nem pense em estragar tudo. – Madalena sussurrou na orelha esquerda de Jasmine e então a empurrou em direção ao homem mórbido.
E Jasmine foi, andando lentamente e fazendo o que podia para parecer sensual, até que chegou perto do homem e deu um sorriso maravilhoso e encantador para ele. O amplo salão era mais um pesadelo do que um sonho de uma garota rica e esnobe. Mas Jasmine nunca foi rica, tampouco esnobe, e tudo ficou pior do que já era.
~
Madalena despertou, e o odor de corpo humano tão logo invadiu seu nariz com ferocidade. Estava no colo de João, sua costa ardia como o inferno, mas mesmo assim ela levantou.
- Madalena!
- Conseguiram obter comida?
- Não... – disse Scarlett, surgindo de um canto escuro da nova toca. – Você foi...
- Fui...?
- Possuída. – disse João, enfim, fitando com atenção a mulher para ver se esta não desmaiava.
Madalena arregalou os olhos quase deixando-os para fora das órbitas. E então tremeu de frio e horror. O que estava acontecendo? Ela estaria pagando por tudo o que ela fez? Se sim, então esse lugar era o verdadeiro inferno. Infinito, claustrofóbico, sem explicação, e ela provavelmente agora era um demônio no seu devido lugar.



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Black Cherry

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