Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quinta-feira, 16 de junho de 2011

The Birds - Capítulo 3

- Angelina estava muito magra quando chegou aqui. - disse Madalena, enquanto José segurava sua mão direita. - Você quer mesmo saber o que aconteceu com a grande quantidade de pessoas que estava com a gente?
Scarlett balançou a cabeça. Rhett dormia docemente no colo de Angelina.
- A minha história é quase parecida com a de Angelina. Com o fato de que eu também acordei no meio de pessoas com cabeças de corvos. Mas elas estavam vivas, e estavam esperando a hora de eu despertar para me atacar. Para minha sorte, a cela já estava aberta, e eu claro, corrí como uma louca para fora. Corri e corri, foi tudo o que fiz durante todo aquele dia, subi e desci escadas, passeei por corredores quilométricos, e não encontrei nada que pudesse explicar o fato de eu ter chegado aqui. Mas eu só estava em busca de uma pessoa, o meu marido José. - ela sorriu para o homem ao seu lado.
“Aquele ‘dia’ parecia que não acabava, era como se fossem vinte e quatro horas de sol, eu podia sentir o calor lá de fora, ou sei lá. A questão é que eu já não conseguia discernir o que eu realmente queria. Até que cheguei numa sala triangular, que continha três portas, duas só havia escuridão, uma continha o meu marido.
Quando entrei, o dia havia acabado e as luzes se apagado. Mas a luz naquele salão se acendeu, e esverdeou tudo ao seu redor, era uma luz verde que fedia a carne podre. Eu olhei mais adiante e vi um grande aquário, também iluminado com aquela luz, dentro dele havia uma quantidade exorbitante de... casulos. Casulos brancos e gosmentos, pulsando como se fossem corações anêmicos no fundo do mar. Eu fiquei de certa forma encantada com aquilo, até numa situação como essa...
Olhei para cima e lá estava José, encolhido e preso numa espécie de teia. Ele caiu e bateu a cabeça com força no chão, mas nada tão grave assim. Eu o chamei durante um bom tempo até que ele acordou, e então os casulos no aquário passaram a se agitar, se contorcer, estavam de alguma forma furiosos. O alimento deles não estava mais lá.
José e eu saímos, e ele me explicou que já estava lá a quatro dias, junto com outros quatro homens. Cada dia era um homem, e ele conseguiu se livrar da teia antes de ter o mesmo e desconhecido destino. Bem, as pessoas que nós encontrávamos obviamente nós acolhíamos, foi o mesmo com Khaydan, Khayran e Angelina, os únicos que restaram ao nosso lado.
- Mas o que aconteceu para tanta genter desaparecer de forma tão rápida? - questionou Scarlett.
- Foi num dia em que procurávamos mais mantimento por aí. O dia parecia que estava passando devagar lá fora, então aproveitamos e todos saíram conosco para ajudar. Nenhum relógio avisou que a noite chegaria, mas ela chegou. Uma surpresa que nenhum ser humano são desejaria.
Quando clareou de novo, só tinha sangue, José, Khaydan, Khayran, Angelina e eu. O único resto daquela escuridão foi uma barata preta e cheia de olhos, do tamanho de um notebook, nas costas de Khaydan. Quando ela percebeu que havia luz, ela encolheu os ferrões e algo que parecia ser um tubo para depositar seus ovos, voou e desapareceu como se nunca existisse.
Desde então, só sobrou nós nesses seis meses que se passaram.”
Scarlett engoliu em seco. Khayran adormeceu no peitoral de Khaydan, Angelina também estava sonolenta e ainda afagava os cabelos de Rhett, e Madalena e João apenas encararam Scarlett.
- Vamos descansar. Não sabemos como será o dia amanhã, infelizmente, esse lugar é que traça o nosso destino. – sussurrou Madalena, sem precisar falar com um tom normal, já que estava tão silencioso que se ouvia até a circulação de sangue nas suas artérias.
Todos arranjaram um jeito de descansar e se acomodar na Toca. Khaydan abraçou Khayran e dormiu sentindo-se seguro com seu calor, o mesmo houve com Angelina e Rhett, Madalena e João. Scarlett ficou algum tempo fitando cada um, cada alma confusa que procurava um meio de calmaria naquela tortura incoerente. Por que eles estavam ali? O que aconteceu para eles estarem ali? Aliás, como estava o mundo lá fora.
Perdida em seus devaneios, ela adormeceu profundamente durante um certo tempo. Até uma sirene soar e a Toca ganhar uma luminosidade avermelhada.
- Scarlett! Scarlett! Acorde! Temos que sair daqui! – Gritava Madalena ao seu ouvido, sacudindo-a loucamente.
Scarlett acordou com a cabeça voltando a latejar, e todos a fitavam com pressa.
- Mas deve começar a ficar escuro lá fora!
- Eu sei! Mas já não é mais seguro ficar aqui! – As olheiras de Madalena se acentuaram na luz escarlate.
- Por quê?
- Quando fica vermelho, é sinal de perigo... Vamos logo!
João já abria a portinhola da Toca, enquanto os olhos de Rhett encontravam segurança nos de Angelina, e Khaydan e Khayran seguravam suas mãos. Scarlett levantou num pulo e, atrás de Madalena e na frente de todos os outros, saiu do seu pouco lugar de descanso.
O salão estava com um odor estranho, como se algo muito ruim estivesse se aproximando, e duas das grandes luzes holofotais já estavam piscando numa gargalhada infindável. João estava correndo na frente, guiando seus companheiros naquele inferno, e na verdade sem saber muito para onde ir, apenas deixando-se levar pelo seu instinto de sobrevivência como fizera tantas vezes durante o rápido ano em que residia na prisão nonsense.
Mais um corredor, e a coisa piorava, a escuridão estava chegando mais rápido, e todos se sentiam desnorteados como baratas. Até que, sem avisar, tudo se apagou de uma vez, e as damas prisioneiras gritaram num coral de horror.
- Não... Não se afastem! – Esbravejava João no escuro do longo corredor. – Tentem se encontrar e ficar mais próximos!
Scarlett encontrou os braços dos gêmeos, e os gêmeos os de Angelina e o trêmulo Rhett. Madalena se perdeu dos outros.
- MADALENA! MADALENA! – Chamou João, também sem se encontrar com o amontoado do seu grupo perto de uma cela. Mas Madalena não respondeu.
Por um pequeno momento tudo se silenciou, e Angelina soltou um suspiro, tanto preocupada quanto com medo de fazer mais barulho do que João estava fazendo no seu provável futuro luto.
E então ela sentiu.
Uma mão tão fria que chegava a queimar segurou suas pernas, mas ela não gritou tampouco se mexeu, ela apenas segurava a mão de Rhett e orou para que aquela mão parasse de tocá-la com curiosidade, e para que Rhett não se desesperasse.. Depois, outras mãos seguraram as pernas dos gêmeos, e eles, percebendo que o mesmo acontecia com Angelina, ficaram calados e encostaram suas testas evitando ao máximo respirar forte. Scarlett levou um pequeno susto quando aconteceu com ela, o que fez as novas mãos segurarem com mais força suas canelas na calça jeans.
- Não... se mexa... vai ficar tudo bem... – sussurrou Angelina para Rhett, que não parava de tremer.
Mais mãos congelantes e fétidas surgiram para agarrar Rhett, mas seu desespero era maior, e as mãos gostavam do desespero, e então começaram a subir no seu corpo mais e mais. Rhett gritou, e as mãos se agitaram, retalhando e arranhando quem quer que estivesse ali. O grupo se dispersou e as luzes se acenderam violentando os olhos dos condenados.
As pernas de Rhett eram as que mais sangravam, e as de Scarlett estavam cheias de hematomas e marcas, mas Rhett estava ainda pior. Mãos e braços, longos, azuis e podres seguravam o adolescente como que querendo puxá-lo para baixo até esmagá-lo, Angelina não conteve os gritos e fez de tudo para salvar Rhett, mas uma mão grossa e áspera agarrou seu pescoço e a segurou levantando-a e deixando-a sufocada. Algumas mãos já estavam desaparecendo, mas aquilo não era nem o começo.
João, mais adiante, lutava contra uma Madalena enfurecida que vomitava sangue na sua face, seus dentes estavam crescendo como presas de leão e suas orelhas estavam pontiagudas, seus cabelos flutuavam como se tivessem vida própria. João a abraçou e começou a falar sem parar que a amava. Só Scarlett presenciou a cena.
Madalena gritou enquanto era abraçada pelo amor de João, e uma sombra enorme e disforme saiu das suas costas fazendo uma ferida horrenda atrás de si. Ela desmaiou, e pareceu que nunca havia se transformado num monstro feroz até a dez segundos atrás. E então, a hora de despertar chegou ao fim.





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Black Cherry

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