Ele costumava dizer assim: você é diferente de qualquer pessoa que eu já tenha conhecido, você realmente não veio desse mundo... Você... Você... Não vejo a hora de te encontrar! Torço para que isso aconteça!
E a sombra, a sombra cega, a sombra obliterada, a sombra esquecida totalmente de que era sombra, respondia com ternura, respondia para preservar e guardar até que aquela hora chegasse, até que a maldita hora finalmente chegasse.
E ele continuava, e a sombra se engrandecia.
A sombra então, ainda se esquecendo de que era só uma sombra, começou a criar uma centelha de esperança: e se com ele fosse diferente? E se realmente acontecesse? E se?
E a sombra dançava, e a sombra comemorava, e ele continuava, e a sombra não mais se calava, a sombra, oras, até sorria! Como pode aquela que nunca sorriu, conseguir fazer isso como se sempre soubesse tal feitiço?
Ninguém nunca lhe respondeu.
Na verdade, ninguém nunca lhe respondeu nada, e por que responderia?
A sombra ficou gigante, a sombra diminuiu, a sombra ficou gigante, a sombra diminuiu. Até que a sombra, na maré dos seus sonhos, viu que a hora, aquela hora, poderia chegar!
Então ele, ele e a sombra comemoraram, ele e a sombra sorriram, parece-me que a sombra também fê-lo mais risonho. Ele deveria ser grato à sombra pela sua compreensão...
E até que, e enfim que, como se esperava que, perto da hora, aquela hora, a hora, ahh! A Hora! Ele lhe fala, ele adverte, ele anuncia para a sombra como a mera notícia de um jornal:
“Estou perdidamente apaixonado por uma pessoa...”
E a sombra, a sombra boba, a sombra estúpida, lembrou-se até que enfim que era sombra, e que não passaria disso, que nunca passaria disso, que seria sempre sombra. Sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra penumbra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra escura sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombria sombra sombra sombra sombra sombra sombra escuridão sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra senhora das partes mais insignificantes, rainha dos desamparados. A própria desamparada.
Então a sombra, ainda, num ato covarde e mais estúpido, mais patético do que ela já era, mais boba e mais ingênua do que o seu coração sombrio de sombra sombria, aconselhou-o e arrancou-o sem ele sequer perceber o que havia acontecido. É claro, ele a comparara a qualquer amiga, a sombra era apenas mais uma sombra dentre tantas outras sombras, por que seria diferente? Por que seria uma excessão? Por que, por um átimo de momento, ela teve a esperança ridícula de pensar que, se o conhecesse, se o tocasse, se captasse a sua voz, se o abraçasse, alguma coisa aconteceria? Ela era uma sombra feia, mesquinha, pequena, um nada, menos que a própria sombra que ela era. E ele? Bem, ele era um príncipe num asteroide, exalando o amor e a harmonia entre todos, perdidamente apaixonado por outro príncipe tão cativante e tão especial quanto ele. É claro...
Agora, o que continua sem explicação, é o porquê da sombra ter a mínima esperança de que dessa vez fosse diferente? Por quê? Por quê? É claro que não seria diferente, nunca será diferente, ela é apenas uma sombra. E o que é uma sombra para um príncipe? Um fenômeno efêmero antes dele abrir a janela do seu quarto e expulsá-la de vez?
Que sombra covarde, que sombra burra. As coisas nunca funcionaram assim com ela, por que funcionaria agora? Ela deveria deixar de ser menos egoísta... E pensar mais, e pensar mais na felicidade do príncipe. Longe dela, bem longe, mesmo que agora perto, mas ainda longe, muito longe, longe demais, um lugar que nenhuma outra sombra pudesse chegar, uma cidade de cinzas que quase, quase começou a se reconstruir, uma sirene ainda tocando.
Ela vai sentir falta do príncipe, mesmo que, para o príncipe, ela nunca tenha sido tão relevante. Ela espera a felicidade do príncipe com seu outro príncipe. E ela promete que jamais interromperá nada. Vai voltar a se calar como sempre se calou, abdicar do que sente pelo que os outros sentem, voltar a sentar e ficar em silêncio no seu quarto escuro, sem janelas, sem portas, sem luz. É só isso que ela faz, é só isso que ela sabe fazer. Sombra, ahh, sombras! Qual seria a razão da existência do sorriso de um príncipe se as sombras já não existissem?
~
O que restou
E a sombra, a sombra cega, a sombra obliterada, a sombra esquecida totalmente de que era sombra, respondia com ternura, respondia para preservar e guardar até que aquela hora chegasse, até que a maldita hora finalmente chegasse.
E ele continuava, e a sombra se engrandecia.
A sombra então, ainda se esquecendo de que era só uma sombra, começou a criar uma centelha de esperança: e se com ele fosse diferente? E se realmente acontecesse? E se?
E a sombra dançava, e a sombra comemorava, e ele continuava, e a sombra não mais se calava, a sombra, oras, até sorria! Como pode aquela que nunca sorriu, conseguir fazer isso como se sempre soubesse tal feitiço?
Ninguém nunca lhe respondeu.
Na verdade, ninguém nunca lhe respondeu nada, e por que responderia?
A sombra ficou gigante, a sombra diminuiu, a sombra ficou gigante, a sombra diminuiu. Até que a sombra, na maré dos seus sonhos, viu que a hora, aquela hora, poderia chegar!
Então ele, ele e a sombra comemoraram, ele e a sombra sorriram, parece-me que a sombra também fê-lo mais risonho. Ele deveria ser grato à sombra pela sua compreensão...
E até que, e enfim que, como se esperava que, perto da hora, aquela hora, a hora, ahh! A Hora! Ele lhe fala, ele adverte, ele anuncia para a sombra como a mera notícia de um jornal:
“Estou perdidamente apaixonado por uma pessoa...”
E a sombra, a sombra boba, a sombra estúpida, lembrou-se até que enfim que era sombra, e que não passaria disso, que nunca passaria disso, que seria sempre sombra. Sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra penumbra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra escura sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombria sombra sombra sombra sombra sombra sombra escuridão sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra sombra senhora das partes mais insignificantes, rainha dos desamparados. A própria desamparada.
Então a sombra, ainda, num ato covarde e mais estúpido, mais patético do que ela já era, mais boba e mais ingênua do que o seu coração sombrio de sombra sombria, aconselhou-o e arrancou-o sem ele sequer perceber o que havia acontecido. É claro, ele a comparara a qualquer amiga, a sombra era apenas mais uma sombra dentre tantas outras sombras, por que seria diferente? Por que seria uma excessão? Por que, por um átimo de momento, ela teve a esperança ridícula de pensar que, se o conhecesse, se o tocasse, se captasse a sua voz, se o abraçasse, alguma coisa aconteceria? Ela era uma sombra feia, mesquinha, pequena, um nada, menos que a própria sombra que ela era. E ele? Bem, ele era um príncipe num asteroide, exalando o amor e a harmonia entre todos, perdidamente apaixonado por outro príncipe tão cativante e tão especial quanto ele. É claro...
Agora, o que continua sem explicação, é o porquê da sombra ter a mínima esperança de que dessa vez fosse diferente? Por quê? Por quê? É claro que não seria diferente, nunca será diferente, ela é apenas uma sombra. E o que é uma sombra para um príncipe? Um fenômeno efêmero antes dele abrir a janela do seu quarto e expulsá-la de vez?
Que sombra covarde, que sombra burra. As coisas nunca funcionaram assim com ela, por que funcionaria agora? Ela deveria deixar de ser menos egoísta... E pensar mais, e pensar mais na felicidade do príncipe. Longe dela, bem longe, mesmo que agora perto, mas ainda longe, muito longe, longe demais, um lugar que nenhuma outra sombra pudesse chegar, uma cidade de cinzas que quase, quase começou a se reconstruir, uma sirene ainda tocando.
Ela vai sentir falta do príncipe, mesmo que, para o príncipe, ela nunca tenha sido tão relevante. Ela espera a felicidade do príncipe com seu outro príncipe. E ela promete que jamais interromperá nada. Vai voltar a se calar como sempre se calou, abdicar do que sente pelo que os outros sentem, voltar a sentar e ficar em silêncio no seu quarto escuro, sem janelas, sem portas, sem luz. É só isso que ela faz, é só isso que ela sabe fazer. Sombra, ahh, sombras! Qual seria a razão da existência do sorriso de um príncipe se as sombras já não existissem?
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O que restou
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