Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Witch Fire - 04: Archiri


16.074 - Tempos dos Reinos-Demônios



Quando Archiri chegou cavalgando no seu bode gigante, Radamathys a recebeu com seu habitual abraço cavalheiro. Archiri tinha uma aparência juvenil, era pequena e seus cabelos longos e negros chegavam até o chão, possuía um chifre torto abaixo da nuca, e sua testa era marcada por um círculo negro e profundo, como um grande vazio na sua cabeça, mas na verdade era apenas uma tatuagem feita pela deusa Tunridha.
- Chegaste, minha dama dos beijos. – Radamathys dizia, com sua voz grossa de veludo demoníaco.
Archiri o enlaçou pelo pescoço com esforço. Radamathys era grande, musculoso, tinha a pele dourada e usava apenas um pedaço de couro de bode para cobrir seu nu frontal. Sua beleza era estranha, exótica, e atiçava. Ao contrário de Archiri, que era dona de olhos claros, os de Radamathys eram escuros e discretos. Tinha um par de chifres que nascia nas laterais de sua cabeça, entre os cabelos meio lisos e meio cacheados que chegavam até os ombros.
- Estou cansada, meu demônio, mande preparem um banho para mim. – sua voz era doce e aguda, porém rouca, e combinava com seu corpo e aparência juvenis.
- Mas é claro. – ele enrolou uma mecha dos seus cabelos nos dedos grossos, grandes e ásperos, e depois eram apenas cabelos ao vento e Archiri de frente para uma névoa negra.
Archiri, princesa do reino de Tunridha, entrou na sua grande morada a passos lentos e calculados na majestosa escadaria coberta por um infinito carpete violeta. A mansão era sustentada por pilares circulares, as portas de ouro escondiam uma beleza ainda maior. Dentro desta, os tetos mal podiam-se ver, eles se confundiam com os céus em meio a pinturas extremamente realísticas nas abóbadas e lustres que suspendiam centenas de luzes brandas. Espíritos de humanos condenados.
Ela fez o mesmo que seu marido Radamathys, se desfez em névoa negra e se teletransportou para o seu quarto, tão grandioso e luxurioso quanto o salão de entrada. Desabotoou seu longo vestido negro que deixava os ombros nus e partiu descoberta para o banheiro. Deitou-se numa banheira cheia de uma água avermelhada – água mesclada a sangue humano – e lavou-se com toda a sensualidade que um demônio poderia ter. Radamathys surgiu nu na banheira circular, passeando sua língua vermelha e longa na barriga magra de Archiri, subindo nos seus seios de mamilos púrpuros e aconchegando seu queixo no pescoço da sua princesa.
- Quero um filho, meu Radamathys. Quero um pequeno demônio para amar e criar. Quero que ele seja o rei de Tunridha, que governe esta terra com toda a força que herdar de nós.
Radamathys respondeu com beijos e carícias, segurando o chifre na nuca de Archiri e engolindo seus lábios com tal ferocidade que ela estremeceu sob seu corpo grande, duro e nu. Ela se ergueu sobre ele, mordeu e penetrou seu peitoral com seus dentes afiados, e sorveu do seu sangue negro e apetitoso, com um gosto de homem, de coragem e ao mesmo tempo de um sentimento obscuro que ela não conseguia distinguir ou reconhecer.
Radamathys penetrou em Archiri debaixo da água ensanguentada, enquanto ela dançava lentamente em cima de suas coxas grossas, e soltava gemidos e uivos agudos comemorando o acasalamento. Apenas ele sabia que ela nunca poderia ter filhos, e teria de encontrar uma forma de obter um para aquela princesa tão amaldiçoada.
Condenada a viver presa no reino de Tunridha, sem procriar. Apenas ela, alí, desamparada, governando aquela terra esquecida sobre tantas terras e tantos países maiores, mais poderosos e infinitamente superiores.
Ah, como Radamathys desejava a felicidade de sua alma gêmea!
O que ele poderia fazer? A não ser enganá-la e manipulá-la pelo máximo de tempo possível até ter um plano em mãos?
Quando terminaram, ele a carregou para a cama triangular, da qual pingava sangue nas bordas dos lençóis. Os acolchoados eram corpos, eram caça, eram o símbolo de poder e força, usados como reles lugar de repouso. Um anjo de asas atrofiadas, machucadas e amarradas em cordas escuras, entrou com uma bandeja e serviu dentro de uma taça pontiaguda um líquido transparente com algo mais denso e azul no fundo. Archiri o bebeu e adormeceu.
- Boa noite, minha bela.
Radamathys se desfez em névoa negra e saiu do castelo de sua amada. Assoviou e dilatou as pupilas para chamar seu ajudante, um cavalo negro de seis pernas e duas cabeças, olhos escuros e bafo de inferno, para montá-lo e partir em busca de consolidar o plano ousado que ele estivera construindo em pouco tempo.
Ele subiria ao mundo dos humanos, para assim penetrar no mundo dos céus, e roubar uma alma pura para que pudesse, assim, dar vida a um filho.
Com fortes galopadas, rasgou as terras de Tunridha e empoeirou as estrelas do céu violeta, em que residia uma lua pentagonal, como um círculo de várias pontas, de cor azul-marinho e que pouco iluminava as colinas e o gramado logo abaixo.
O cavalo relinchou, ergueu as quatro patas dianteiras e balançou as cabeças como se estivesse enlouquecendo, Radamathys não o acalmou, permaneceu firme em cima do seu animal e, com uma unha afiada, fez um corte no seu pescoço e rugiu para o fim do horizonte.
Agora estava completamente escuro, mesmo sua vista acostumada com a mais mórbida das escuridões não conseguia distinguir nada. Ele caminhou em cima de algo mole, fedorento e que chiava a cada passo seu, queimando seus pés descobertos. Radamathys rugiu mais uma vez para se proteger e uma aura que saiu dos poros da sua pele repeliu toda aquela criatura disforme e gigante que queria engolí-lo. Ele rasgou todo o couro que cobria sua cintura, parte do seu peitoral e suas costas, ficando completamente vulnerável a qualquer toque e ato de agressividade. Mas ele já sabia o que fazer.
Radamathys rugiu o mais alto que pôde, quase estourando suas cordas vocais, fez movimentos rápidos com os braços e as mãos, numa dança mútua e veloz, e então pulou para fora de uma fogueira negra, enquanto seus súditos o olhavam em total apreensão.


~
1674


Sentiu aquele ar frio, com odor de espíritos vivos, carne humana e árvores enormes e apetitosas da qual ele poderia sorver a vida quando bem quisesse para sobreviver naquela dimensão.
Os súditos de Radamathys, criaturas horrendas com a pele escura como o breu, começaram a venerá-lo em ritmos perfeitamente compassados, voltando às suas canções interrompidas quando o próprio saíra da fogueira feita por eles para adentrar o mundo humano. Aquele lugar frio, cruel, cheio de criaturas que visavam somente o seu único bem.
Os homens gigantes trouxeram alimento e roupas de couro para seu dono se vestir. Radamathys se sentou na grama, ainda nu, e mordeu um pedaço grande e sangrento de carne de carneiro. Aquilo era incrivelmente amargo para ele, mas por ora era necessário.
- Por que demoraram? – ele falou, numa voz séria, repreendendo o trabalho, o único trabalho, que seus súditos tinham. – Gaia quase me engole, esqueceram que não é permitido alguém da minha espécie passar na porta dela?
- Perdão, senhor. – uma das anciãs abaixou a cabeça, e todos fizeram o mesmo. – Uma mortal nos interferiu enquanto clamávamos pelo senhor.
Radamathys descansou fitando o horizonte, o céu estava adquirindo tonalidades mais claras e mais bonitas, era o amanhecer.
- Uma mortal? Mortais não podem nos ver.
- Então... O que ela era, se não mortal, senhor?
Ele engoliu o último pedaço da carne crua, e então respirou fundo, procurando acalmar seu espírito daquele medo que ainda pulsava nas suas veias de quase ser devorado por uma titã furiosa, de um poder incomensurável.
- Bruxa.
Radamathys se ergueu, assustando seus súditos que o fitavam em total concentração, e então ergueu a palma da mão para eles, esticando os dedos para cima e colocando o polegar no meio, enquanto o longo anelar lentamente se aproximava da ponta do primeiro dedo.
- Vão. – ele sussurrou. Um sussurro que nem ele conseguira ouvir muito bem, e todos os seus súditos desapareceram, deixando um odor ocre de carne queimada e putrefata.
Radamathys adentrou a floresta de pinheiros, eucaliptos e extensas angiospermas e gimnospermas, e começou a acostumar suas pernas ao gosto daquela terra e ao cheiro daquele mundo. Já estivera alí uma vez, mas nunca conseguiria se acostumar à qualquer coisa daquele mundo, pensou.
Então começou a correr e a pular, já estava menos travado e mais solto para dar grandes saltos por cima das árvores quebradas e troncos retorcidos e despencados por trovões. Naquela floresta, aliás, havia uma quantidade imensa de troncos e galhos caídos, mais do que o normal, observação que ele associou a presença de humanos e bruxas não muito longe dalí. Provavelmente uma vila.
Radamathys tropeçou e bateu com o ombro numa árvore, caindo para o lado e olhando para todos os cantos com extrema surpresa. O que era aquilo do qual ele não sentira a presença?
Ouviu o choro de uma criança e imediatamente tomou uma forma mais humana e ocultou seus chifres com o poder da sua mente. Uma das leis de Gaia era a de que um demônio jamais deveria ir para o mundo dos humanos, pois, se topasse com um, seria rapidamente visto em sua forma original. Radamathys foi mais veloz e esperto.
Uma velha senhora com os cabelos grisalhos bagunçados, o nariz sangrando sem parar e os braços velhos e trêmulos buscou um bebê também ensanguentado que chorava escandalosamente. Ninou-o até que conseguiu fazê-lo se silenciar, e só então olhou para Radamathys, que estava bem convincente como humano.
Foi a vez da velha gritar e tentar correr, mas Radamathys a segurou pelos pés com as sombras das copas das árvores. Mil folhas caíram sobre eles.
- Me largue, demônio! – ela o fitou com fúria e desprezo. – Volta para teu mundo!
- Demônio? Não sou um demônio. Sou humano! Não vês? – ele esticou seu braço e beliscou a pele branca e humana, mas tudo o que conseguiu foi fazer a velha se encolher ainda mais.
- Tu não me enganas. Sei quem tu és, sinto tua aura maligna debaixo desta pele falsa!
- Então, quem eu sou? – Ele riu, brincalhão.
- Demônio! Criatura manipuladora e capciosa! Um adversário de Deus!
- Tu acreditas em Deus, mulher?
A mulher o repreendeu ainda mais com o olhar, como se ele tivesse feito algo asqueroso na sua frente. Radamathys se aproximou ainda mais, já até podia ouvir os pulmões da velha trabalhando e fazendo-a ofegar de medo. Ela gritou quando ele tocou nos seus cabelos e os cheirou.
- Mary Donna! É este o teu nome, não é? – E cheirou novamente para confirmar. – Foste tu, não foste? Que interferiu no ritual de abertura dos meus súditos e quase me fez ser engolido por Gaia?!
- Demônio! Afasta-te de mim! Vou lhe amaldiçoar como nunca amaldiçoei ninguém! Tu conheces as leis, finja que não existo, e eu finjo que tu não existes. Não invada meu mundo, que eu não invado o teu!
- Ahh... Então tu és uma bruxa! – ele sorriu vitorioso. – Senti isso a partir do momento em que topei contigo!
- Vá embora!
- E que criança é essa? Tu também sentes o poder dela? E que poder! – Ele fitou a criança, espantado e admirado, e então, aprisionando ainda mais a velha nas sombras, tocou na cabecinha que adormecia como um anjo minúsculo. – Sabes que ela é mais poderosa que tu? Esta pequena criatura?
- Conheço minha dinastia, demônio. Conheço seus poderes. Conheço quem veio antes de mim, e quem virá depois. Não ouse me advertir de algo que já sei, que na verdade sempre soube.
- Ela... Charlotte é o seu nome, não é? – Ele acarinhou ainda mais a cabecinha encolhida no manto manchado de sangue da velha. – Ela é... Ela é perfeita!
A velha se libertou das sombras e, ironicamente, se ocultou nelas, enganando o olhar do demônio Radamathys. Radamathys entrou em pânico, em um minuto havia encontrado a criança mais poderosa e mais apta a tornar-se uma filha de Archiri, e já estava cancelando seus planos de invadir o reino dos céus, e no outro aquela velha, aquela bruxa de nome Mary Donna, desaparecera com o objeto da sua felicidade e da felicidade de sua amada!
- Apareça, Mary Donna! Não ouse me desafiar! – Ele gritou para a floresta, que dava como resposta apenas o chilrear de pássaros e o farfalhar frondoso das árvores. – Mary Donna! Negocie comigo, bruxa ignorante! Tu podes ter o mundo com o poder que posso lhe oferecer!
- Vá embora, demônio! – a resposta se propagou, e ele não soube distinguir de onde viera. – Nunca negociarei nada contigo! Ela pertence a mim!
- Ahh... Não pertence não! – Radamathys gargalhou para a floresta. – Pensas que não senti? Ela não é tua filha! Ela é filha de tua filha! E a filha de tua filha clamará por uma vingança cruel a ti quando te encontrar, Mary Donna. E quer saber mais? Eu a ajudarei quando a hora de nos toparmos chegar!
- Não ouse... – a voz de todos os lados ameaçou.
Radamathys gargalhou ainda mais alto.
- Então me dê! Dê-me esta criança! Eu preciso dela mais do que tu, bruxa inconsequente!
- AAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!
A velha reapareceu quando as sombras a expulsaram de sua invisibilidade, e caiu de joelhos, mas em momento algum deixou de proteger a pequena Charlotte nos braços. Radamathys se aproximou e ela se recolheu toda, como um pequeno caracol.
- Dê-me! E não tente mais me repelir! Sou um demônio! Sou mais poderoso do que teu medíocre sangue humano!
Ele pisou nas suas costas e tentou amparar o pequeno bebê, mas ali não havia mais bebê ou Mary Donna. Era apenas um vestido velho, preto e sujo, e um manto manchado de escarlate.
Radamathys, cheio de raiva por ter sido enganado, rogou:
- MARY DONNA! OUÇA-ME BEM! IREI AO REINO DOS CÉUS E TENTAREI TRAZER UMA ALMA, PARA CONSEGUIR CRIAR UM FILHO PARA MINHA AMADA ARCHIRI! SE EU FALHAR, VOLTAREI AO MUNDO DOS HUMANOS E LHE PROCURAREI ATÉ CONSEGUIR TER CHARLOTTE NOS MEUS BRAÇOS!
A resposta demorou, mas veio:
- PEGUE CHARLOTTE E EU ENTRO NO TEU MUNDO PARA ROUBAR A ALMA DE ARCHIRI, ARRANCAR SEUS OLHOS E MUTILAR SEU SEXO!
Depois, mais uma vez, apenas o som de pássaros, árvores e pequenos animais roedores. Radamathys se contorceu em agonia e desespero, chorando e apodrecendo árvores a cada passo firme que dava, voltando à sua forma original de um segundo para o outro.

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1680


Ammaleth deitou-se na sua cama com delicadeza e, com dois dedos, tirou um pouco do líquido espesso e denso do pequeno caldeirão, colocando-o nos olhos, na testa e, abrindo um pouco o vestido, no meio dos seios. Buscou um pano molhado com água quente em cima do criado-mudo, com um leve estalar de dedos fez as cortinas serem fechadas da janela do quarto, pôs a farpela sobre as pálpebras trêmulas, e então adormeceu.
Sentiu uma dor profunda em cada osso do seu corpo, em cada nervo e, mesmo dormindo, em toda a sua pele. O seu espírito estava se despregando do seu corpo à força, ela sabia que na próxima vez teria de moderar a quantidade de fiapos de Rim de Tengu na poção, pois todo aquele desvencilhamento estava acontecendo de uma maneira rápida demais. Ela mal teve tempo para meditar ou se acalmar no seu subconsciente.
Por uma centelha de momento, viu a si mesma em lembranças segurando pela primeira e única vez Charlotte nos braços, enquanto Mary Donna a olhava impetuosa e pronta para tomá-la do seu domínio. Ela tinha que se concentrar, ela devia se concentrar, e então abraçou seu corpo espiritual e saiu daquela recordação no mesmo instante.
Ammaleth, em espírito, assistiu seu corpo na cama respirando lenta e profundamente, temeu que alguém quisesse visitá-la, ou que entrassem na cama. Pior ainda, que esse alguém fosse Auguste. Ela confiava em Auguste, sim, mas e se a sua fé fosse maior que o seu amor por ela?
Ammaleth temeu por tudo, mas saiu da sua casa flutuando com leveza e rapidez. Era bom estar em espírito, era agradável e ela não conseguia sentir nada de ruim. Mas se ficasse muito tempo assim, seu corpo físico poderia morrer e apodrecer na cama em poucas horas.
A bruxa enfim chegou à floresta, piscando várias vezes para se habituar à visão espírita. Quando se sentiu pronta, passou a fechar os olhos e tentar captar a energia do livro de Ramadathys.
- Rosanne, mãe de minha mãe, dê-me forças para captar a energia do segredo de Radamathys. Rosanne, Bruxa Clara, senhora das ilusões e mestra da curandeira, ajude-me.
A floresta pareceu responder a todas as preces de Ammaleth. Os pássaros empoleirados nos galhos se agitaram e passaram a piar escandalosamente, num estridente coral de notas agudas. Sentiu o cheiro dos orvalhos, dos eucaliptos, ipês, pinheiros, tudo de uma vez. Mesmo em espírito, aquilo era maravilhoso. Apenas o sol Ammaleth não via. Na verdade, em espírito era impossível de se ver. Aquele sol era para os mortais, se Ammaleth quisesse sol, ela teria de estar realmente morta para subir a outro plano e presenciar o Paraíso ou os reinos submersos.
Rosanne, mãe de Mary Donna, filha de Catherine e avó de Ammaleth, surgiu numa aparência cansada e taciturna. Os olhos verdes estavam fundos na pele enrugada e flácida, os cabelos cacheados cinzas e se misturando ao negro, um vestido preto e longo, a beleza da dinastia Coeurcourt desaparecendo desagregadamente.
- Ammaleth! – Ela sorriu, um sorriso triste e generoso, e sentou-se em cima de um tronco grosso e despencado.
- Rosanne, avó! Ajude-me!
- Onde está o preço?
- Eu lhe pagarei depois.
- Então. Eu confio em ti.
Como um sopro de vida e alegria, o espírito de Rosanne entrou no espírito de Ammaleth e, impulsivamente, passou a guiá-la em direção ao “caixão” do livro. Ammaleth sentiu-se puxada pelo peito sem ar, flutuou e passou entre árvores e galhos, folhas e frutas, sentindo seu sabor, mas sem poder prová-las de fato. Rosanne a levou até uma pequena gruta, escondida em rochas e montes de folhas secas, resultado de um trabalho árduo de pequenos animais daquele habitat.
Rosanne desapareceu de dentro da neta, deixando um suave calor emanando do seu espírito. Proteção.
Ammaleth pousou sobre as pedras frias e cobertas de musgo, penetrou na caverna estreita e então sentiu a força negativa do livro. Correu até ele, enterrado com desespero perto de um córrego e oculto por mais e mais pedras, enfiou a mão impalpável na terra, tocou na capa e despertou caindo com força no chão, enquanto cadeiras e mesas faziam o mesmo na sua casa. Além dela, quase tudo estava levitando nos quarenta e três minutos em que passou fora de seu corpo.
Levantou-se com dificuldade, sentindo uma dor de cabeça insuportável pelo atrito com o chão de madeira, e então abraçou o livro achado, por algum tempo, até sentir sua quentura negativa fazer seu coração pulsar mais rápido. Ammaleth o largou no mesma hora, buscou-o de novo, correu para o porão e começou a ler.
Radamathys e Archiri, Radamathys e os três arcanjos, Radamathys e a busca incansável e sangrenta por alguém ou alguma coisa que pudesse ser um filho para sua amada.








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Black Cherry
Arte: Nicole Absher

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