Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Hidden Place II: Último Capítulo - A dor da esperança


Forseti não queria mesmo, de jeito nenhum, acordar, quer dizer, ela já estava acordada, na verdade ela só não queria se levantar, o mundo estava pesado demais naquele dia. Era o jeito. Na verdade, era sempre assim. Olhou para o despertador pairado no criado-mudo ao lado da sua cama, com os olhos semi-cerrados, e resolveu abri-los de vez. Uma leve dor de cabeça pulsava no seu cérebro, talvez fosse de tanto pensar. Mas não era isso. Também não era por isso que ela tinha passado a noite chorando. Apressou-se e arrumou-se, Freya não estava ali na porta, mas ela sentiu a presença de Frey, o que a confortou por alguns instantes até se dar conta de que Frey estava morto, estava morto, e ela nunca descobriria o motivo do seu suicídio. Ela não havia descoberto o motivo do suicídio do próprio filho. O que mais ela poderia descobrir naquele mundo? O telefone tocou, podia ser alguém importante, ou outra notícia horrível, mas ela resolveu não atender. Chega de notícias, tenho que cuidar de um enterro agora.

Documentos, dinheiro, caixão, preços, tamanhos. Aquelas coisas que, quando citadas, parecem ser tão banais, mas, se fosse para encaixá-las em algo realmente bom, não daria certo. Não demorou tanto até que aquele caixão branco estivesse preenchido no meio da sala da sua casa, onde gritos silenciosos e lágrimas infinitas davam aquele amargo clima de morte. A morte, de fato, é um sabor, um sabor forte.

Na verdade, depois da morte, não há nada, a não ser a tristeza dos vivos prendendo os mortos nesse mundo.

~

Não houve dia seguinte, não para Forseti, Freya, Psiquê, Heimdall e Hermod. Freya passou o dia numa sala mofada e inutilizada da escola enquanto que Psiquê descobria em seu armário uma carta anônima de amor. Heimdall não foi trabalhar, e Hermod decidiu se isolar do mundo. Estavam completamente desamparados, e ao mesmo tempo com um sentimento de raiva, por que essas coisas tem que acontecer? Por que não pode haver algo que possa parar tudo isso? A resposta é que, não há realmente resposta pra nada. As coisas simplesmente acontecem.

Freya, ao chegar em casa, tirou da sua mochila várias bisnagas de tinta, alguns pincéis, e logo após pegou um grande quadro que não foi usado do porão, provavelmente seria um quadro que Frey usaria, se ainda estivesse vivo. E, ao som de uma suave música, começou a usar os pincéis e as tintas sobre o quadro magistralmente, era a primeira vez que ela estava fazendo algo assim. E mesmo assim, conseguiu desenhar um lindo alvorecer, numa praia distante, onde ondas azuis-escuras cintilavam sobre os primeiros raios do filho da deusa Aurora. Sob lágrimas, ela conseguiu desenhar uma pequena vida, tão pequena que nem teve tempo de falar, ou de sorrir como se deve sorrir.Há muitas pessoas que ainda não aprenderam a sorrir de verdade.

Fugiu para aquela mesma praia.

Psiquê não parava de ler aquele poema tão simples e tão belo, aquilo, de certa forma, era a sua única esperança, as esperanças dela sempre morriam, por que não deixar aquela viva pelo tempo que desse? E ao virar-se, viu um belo garoto, alto, de olhos claros, encarando-a. Ela não conseguiu ficar séria.

Heimdall, pela primeira vez durante mais de dez anos, marcou um encontro com Hermod, que ainda não estava raciocinando muito bem, mas resolveu aceitar. E antes de todos irem para a praia, resolveram ir para um outro lugar.

Forseti abriu a porta, resmungando, arrumando o pijama sobre o corpo enrugado e colocando os enormes cabelos cinzas num coque, ainda estava com sono, era uma velha que vivia com sono, mas mesmo velha, ainda era defensora da justiça, embora tenha ficado ranzinza com o tempo. E na frente da sua casa, de manhã cedo, vários rostos conhecidos e pequenos desconhecidos. Psiquê e seu namorado, Forseti, seu marido e suas duas filhas, Hermod e Heimdall de mãos dadas.

- O quê vocês querem? - Falou em tom cansado, daqueles bem característicos da terceira idade.

- Forseti, queremos que você vá à praia conosco. - Começou Freya.

- Não estou afim, me desculpem.

- Forseti, por favor, nós iremos para aquele lugar se você quiser, antes de irmos à praia. - Insistiu Heimdall.

- Vamos Forseti, nós precisamos de você. - Disse Freya.

- Ai vocês me matam... Nem parece que se passaram tantos anos, veja o estado de vocês, parece que não dormiram a noite inteira, entrem, vamos tomar um café primeiro. - Resmungou a velha.

As crianças de Freya entraram correndo, enquanto que Hermod e Heimdall colocavam seus chapéus no cabide, Heimdall não largava nunca a sua bengala. Psiquê e seu namorado ficaram na poltrona conversando sobre novos projetos arquitetônicos. Mas logo todos sentaram-se à grande mesa de jantar de Forseti para o seu café-da-manhã.

- Mamãe, a gente vai demorar muito pra ir à praia? - Questionou uma das filhas de Freya.

- Tenha calma Nanna, nós vamos à praia sim.

- Mas por que vocês estão tão felizes se a gente ainda nem chegou na praia?

- Porque a nossa felicidade está com Forseti, filha.

A nossa felicidade depende da dela.




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Hidden Place II - Le finale
And so it is (=




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Andrew Oliveira, desculpem pela demora à postar, de novo, eu tava meio que mal :x

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