Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prostituta Ruiva


Ah... Como ela era teimosa, balançando a cabeça bruscamente em tom negativo e batendo os pés calçados com saltos-agulhas, mesmo escondendo algumas sardas do rosto com pó, ou estivesse cansada de passar sombra nos olhos quando várias lágrimas intrometidas já passeavam por lá. Não adianta, não adianta, não adianta. Ela não calava a boca nem um minuto, para respirar ou deixar alguém falar, ela era meio ditadora, Isabelle era tão contraditória.

Isabelle era uma daquelas garotas em que só se fala uma vez, as explicações eram para depois, as questões e as atitudes estavam sempre em primeiro lugar. Ela, cheia de gestos obscenos, palavras desbocadas, maquiagem borrada, dignidade zero, cambalhotas, pulos e pulsos. Mas acho que não se pode esperar muita dignidade de uma prostituta, não é? Mas Isabelle era diferente, não pelo seu perfume suave impregnado em sua pele mesmo depois de um bom banho quente, ou pelas suas roupas caras de homens que a presenteavam, se humilhando por ela, tampouco por suas atitudes de garoto vândalo, e nem um pouco de glamour no que falava, afinal, ela só queria sexo com preço. Ela era diferente por uma caixa, uma caixa pequena, compacta, escondida dentro dela, que ela não deixava ninguém ver ou tocar. Dentro daquela caixa poderia ter amor, ou o seu coração. Mas dentro daquela caixa tinha um sentimento muito maior.

Isabelle corava com facilidade, embora o pó nunca deixasse isso transparecer, ela não tinha uma pele muito clara, era meio parda, seus olhos de boneca de porcelana delineavam seu rosto cínico e fino, com lábios tão rosados e famintos que eu poderia jurar que ela tinha roubado de uma deusa, Vênus talvez. E ainda mais belo do que seu rosto, ou tanto quanto, eram seus cabelos, longos, que passavam uns cinco centímetros dos ombros de moça, cacheados, ruivos e fogosos, que ardiam só de olhar.

Ela vivia com luvas, luvas brancas que não eram tiradas nem nos atos sexuais de seus clientes. Afinal, o frio era mesmo necessário naquela capital. E por mais que fosse usada durante a noite, seus cachos perfeitos nunca ficavam desordenados, parecia uma peruca, mas eram tão naturais quanto seus seios adolescentes. E seu sexo soltava um odor e um aroma como se para provocar, que só podia ser sentido quando arrancavam-lhe a calcinha, ou quando lambiam seu pescoço.

Ah... e como Isabelle era doce, e não estou falando do seu jeito puro de tocar e olhar as coisas, curiosa. Estou me referindo ao seu sexo, você poderia ser o que quisesse com ela, bastava ela descobrir o que seus olhos queriam. Isabelle era uma ladra de corações, e ela nunca amou sequer algum, mas não tenho certeza disso.

E eu me tornei obcecado por Isabelle, toda vez que a procurava nas noites solitárias. E pagava o motel mais caro, e lhe mimava com vinho, e depois de alguns goles a jogava na cama com violência, e punha minhas partes íntimas para fora da calça, e tirava-lhe o sobretudo, e rasgava-lhe o vestido longo e cheio de detalhes mínimos, como se feito por um artesão, e chupava seus seios e ninhava seu corpo pequeno e pueril, e violentava seu olhar de pupila hipnotizada, e desamarrava suas botas e seu espartilho, e a fazia vociferar maldições e lamentos, e a desejava como nunca, até que sua carne me fizesse gozar espalhando por todo o seu corpo. Eu lambia-a.

Minhas costas arranhadas gritavam, meu corpo suado deitava-se ao seu lado, eu sentia seu cansaço sair e entrar pela sua respiração, eu nunca sabia se ela estava satisfeita, ela parecia imensamente insaciável. E depois adormecia, me fazendo fechar as pálpebras lentamente também, como se quisesse protegê-la de algum mal, mas eu sequer conseguia me proteger do seu encanto. Como poderia não amá-la?

Ela era tão perfeita aos meus olhos, e não me importava o quão sujo estivesse seu corpo já tão usado por outros bêbabos de Florença, não me importava o seu passado, eu só queria estar com ele para sempre. Eu estava desesperado para beber de Isabelle, Isabelle se tornou minha fonte de vida e vontade de respirar, Isabelle era tudo que preenchia a enorme cavidade no meu peitoral, ninguém via nem sentia, mas estava lá.

Acordei, e, como por hábito, ela não estava mais lá, e como por hábito eu me enroscava no lençol branco que deixava seu cheiro de lembrança para eu desejar mais do que já desejava. Esperei o dia passar, e a cada hora minha obsessão por ela ficava maior, eu ainda me sentia bêbado de prazer, queria ela, queria muito. A noite chegou.

E junto a noite trouxe a minha solidão caminhando comigo nas ruas fétidas cheias de ratazanas enormes passando perto dos meus sapatos manchados de vinho, nem lembrava mais de meu nome, lembrava apenas do nome dela. Isabelle. Um nome que parecia um beijo na minha nuca. Isabelle. E lá estava ela, se oferecendo para um homem qualquer, me deixando enfurecido.

Eu a tomei em meus braços, fazendo a gritar histéricamente. "Sebastian, o que estás fazendo? Enlouqueceste?". Enlouqueci por você. Pare com isso. Jamais vou conseguir parar. Eu a carreguei e andei com ela em cima de mim atravessando uma ponte, ela se agitava loucamente, e eu ainda estava bêbado de amor. Caímos.

Nadei até um solo frio daquela madrugada, desesperado por mim mesmo, e senti falta de algo. Não vi bolhas nem agitações na água, somente o corpo daquela bela donzela meretriz flutuando, provavelmente tinha sido nocauteada na cabeça em alguma coisa. E meu desespero se tornou ainda maior, voltando a nadar para buscar seu corpo imóvel. Ela estava respirando friamente, quase morrendo, apenas ouvindo meu choro incomodar seus ouvidos apurados. Eu sei que ela queria dizer alguma coisa, eu senti que ela poderia ter me amado, ou até mesmo me odiado. Talvez seja como eu sempre pensei, não existirá amor tão belo quanto o mistério da morte.

E morreu.













~









Black Cherry

Photo: McQueen

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