" [...]
- Seu cabelo parece feito de âmbar, como se âmbar pudesse derreter e ser tirado de chamas de vela em longos fios etéreos e deixado secar assim para fazer todas essas tranças lustrosas. Você é doce, com cara de menino bonitinho como uma menina. Por um momento, eu gostaria de ter podido ver você vestido de veludo antigo da maneira como você era para ele, para Marius. Gostaria de ter podido te ver por um momento como você ficava de meias e gibão cintado bordado com rubis. Olhe para você, a criança gelada. Meu amor nem sequer o afeta.
Isso não era verdade.
Os lábios dele eram quentes, e senti as presas embaixo, senti a urgência em seus dedos apertando subitamente meu crânio. Esse contato me arrepiou todo, meu corpo se contraiu, depois estremeceu, e a sensação foi mais doce do que seria previsível. Essa intimidade solitária me incomodou, incomodou-me o bastante para transformá-la, ou livrar-me dela completamente. Melhor morrer ou estar longe, no escuro, simples e solitário com lágrimas comuns.
Pelo olhar, achei que ele poderia amar sem dar nada. Não um conhecedor, apenas um bebedor de sangue.
- Você me deixa com fome - sussurrei. - Não de você mas de alguém que esteja condenado e no entanto vivo. Quero caçar. Pare com isso. Por que me toca? Por que tanta delicadeza?
- Todo mundo o quer - disse ele.
- Ah, eu sei. Todo mundo destruiria uma criança culpada e esperta! Todo mundo terá um garoto risonho que sabe onde pisa. Criança é melhor para comer do que mulher, e menina se parece muito com mulher, mas garotinho? Garotinho não é igual a homem, é?
- Não zombe de mim. Quis dizer que queria apenas tocar você, sentir como você é macio, como é eternamente jovem.
- Ah, sou eternamente jovem mesmo - respondi. - Você diz coisas absurdas para alguém assim tão bonito. Vou sair. Preciso me alimentar. E quando tiver terminado, quando estiver saciado e aquecido, volto aqui para lhe contar tudo o que você quiser. - Afasfei-me dele, sentindo arrepios quando ele soltou meu cabelo. Olhei para a janela branca vazia, muito em cima para se ver as árvores.
- Eles não conseguíam ver nada verde aqui, e é primavera lá fora, primavera do sul. Dá para sentir o cheiro por entre as paredes. Quero enxergar flores só por um instante. Matar, beber sangue e ter flores.
- Não basta. Quero [...] - disse ele. - Quero fazê-lo agora e quero que você venha comigo. Não vou ficar por aí para sempre.
- Ah, bobagem, claro que vai. Acha que sou um boneco, não? Acha que sou uma gracinha e feito de cera, e você fica desde que eu fique.
- Você é mauzinho, Armand. Tem cara de anjo e fala como um bandido comum.
- Que arrogância! Pensei que você me quisesse.
- Só em determinados termos. "
~
Anne Rice
"O Vampiro Armand"
Leiam, sintam, sussurrem de dor e prazer como as vítimas de Armand :9
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