Talvez ele não estivesse tão satisfeito comigo, ou nem tão feliz como parecia, talvez ele tenha sido apenas uma máscara durante os dois anos em que estive com ele. Eu não havia parado de pensar em Danilo Armand um minuto sequer desde a primeira vez em que o vi.
Minhas malas já estavam prontas, eu ía sair da cidade Cartesis, não queria mais ficar ali, aquele ar me intoxicava, me deixava com lembranças ruins. Dei um último passeio pela cidade nebulosa, e fiquei um tempo observando o quintal cheio de flores silvestres da casa de Danilo, seu irmão deveria estar por aí, jogado em algum beco com o braço entrando em processo de necrose, bem feito, pensei.
A garoazinha inocente cresceu para uma chuva grossa, espessa. Corri de volta para o meu apartamento, minha mãe decidiu que íamos embora depois que a chuva ficasse mais fraca, mas não ficou. E partimos.
A estrada estava um inferno, os faróis dos carros até foram acendidos para não ocorrerem acidentes, a chuva grossa tornou-se tempestade, meu coração fragilizado tornou-se tempestade, eu não tinha ido ao enterro de Danilo Armand, não queria me despedir dele, para mim, ele ainda estava vivo, dando o seu único sorriso.
Minha sombra tornou-se luz, e a luz que me guiava tornou-se sombra, eu estava brilhando, mas não conseguia ver para onde meu caminho áspero iria se trilhar, uma imagem de Danilo violentou os meus olhos, e me tornei cego de mim mesmo.
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Continua...
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Andrew Oliveira
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