Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sadness



Tu seguras a minha mão com força, eu me retenho e digo que não, eu me recuso porque é o melhor a se fazer, e quem tu pensas que és para dizer que conhece a ventania? Eu sou assim não porque foi o destino que quis, mas porque não tive escolha. Então tu me seguras de novo, e sacode meus ombros, me obriga a olhá-lo erguendo-me pelo queixo com teus dedos ásperos, tua palma ardente e meu silêncio cáustico.
Não é a segunda vez, com certeza não. E eu te peço, te imploro, me humilho até a própria humilhação se cansar de mim. Quem é aquele que não desiste de si mesmo, que não caminha pela própria loucura que é a vontade de construir uma solidão mais consistente? Eu te chamo como chamei a chuva que agora me deixa aborrecido como me deixava encantado. Lhe pergunto, lhe pergunto de novo, em vinte e quatro dias sinto sua falta, e sinto também no pulo dessa era.
Últimas palavras, eu devia saber quem elas eram. Últimas palavras, elas desenham uma série de imagens dos meus sonhos, fazem-me um criador de uma vida inventada, fútil em devaneios demais, calores demais, mais alegria, isso, mais alegria, tristeza não se esvai, tristeza quer comer meu coração.
Estive cego por isso e por tudo que me detinha. E tu continuas segurando minha mão, teu santuário de amor e harmonia, ardor e agonia. Tu gostas da minha insanidade. Mas eu sei, e por que não? Por que não? Eu tenho o direito! Ninguém tira o meu direito de me afogar na minha poesia. A superfície me deixa viver, prefiro morrer em mim mesmo, arrancar minha pele com a minha boca, sucumbir-me ao meu sangue vinho, do que ficar tanto tempo nessa superfície. Não tanto amena, e mais desmiolada, pudera ser pequena e portátil para eu levar no bolso.
Isso mesmo, a rua fria, eu durmo na sarjeta, tu não me deixas dormir, tu não me deixas em paz. Eu não te suporto, eu te detesto, eu quero o teu sofrimento e o teu castigo, e desejo te ver arder no inferno e morrer cedo e quebrar cada osso teu como gravetos por aí. Estou confuso porque isso me fazia te amar.
Eu não encontro os ensaios, eu perdi as contas de lágrimas em algum lugar, em algum abrigo em que dormi, uma sarjeta em que me alimentei. Não sei mais onde está a poesia, a última vez em que a explorei foi quando tu disseste aquelas palavras da superfície, as que tanto detesto e as que tanto me acompanharam. Eu reencarnei e elas continuam a me perseguir, e eu corro, meus pés doem, mas eu pouco me importo, eu só desejo isso, eu só desejo desejar. Faz tempo que tristeza não se sente viva.
Ah, beije-me com força, sei que esse beijo não é forte o suficiente para permanecer por muito tempo, mas me beija. Não me faça mais isso, me prometa, me prometa de novo, fale, ajoelha-te porque essa é a última vez em que meu silêncio severo declara a proclamação da dor eterna.
Não me segure mais porque não te suporto, já não te disse? Isso é difícil, não consigo respirar com esse sentimento, é por isso que de vez em quando o mato, por ele ser perigoso, terminal, mais inconsequente do que a minha língua. Ah, eu queria tanto te falar, e poder dizer que tudo isso é real numa fotografia que guardei debaixo da minha cama, e olho quando menos preciso antes de ir escovar os dentes.
Eu sou liquefeito e solidificado na esperança da vontade de ter vontade que a vontade se foi. É impossível explicar, foi como não lhe contei e tu compreendeste na distância descompassa e injusta da chance que mal tive para perder. O tempo em que tive para dizer que não foi meu, jamais será meu, eu sei disso e já estou conformado com essa ideia. É sempre assim. Me dou a esse trabalho... Compreendo ao máximo, e tudo o que quero é a não compreensão, tudo o que quero é que me digas que não consegues me entender, e que não faz questão disso, porque sou assim. Tenho asco porque foi isso que aprendi. Não adianta. Não insista. Há como entender a ventania, a tempestade que sacode a tal superfície desconexa?
Escolha. E teu último caminho, e é o meu primeiro. Sei que poderíamos ter tudo, é clichê, é asquerosamente romântico, mas eu tenho certeza disso. Tu perdes a graça do brinquedo antigo quando ganha um novo. Que engraçado, que fofo, que previsível. Então pare com isso, pare de falar de mim, pensar em mim, dizer o quanto sou especial, porque não sou. É tua última chance, e se agora já não te suporto mais, não é porque te amei, é porque o que me encantava agora me causa desprezo. Um asco tão intenso que sou capaz de invocar um demônio pra se alimentar da tua carne enquanto dormes. Então deixa-te, pare, não conheces nada, não conheces o mundo, não sabes de nada da chuva, e ela nunca pertencerá a ti.








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Black Cherry

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