Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

terça-feira, 30 de novembro de 2010

I Love Him


Não me descubra
Eu não sou fácil de se descobrir
Não me abrigue
Nunca terei um teto sólido
O meu é feito de estrelas

Pare de tentar ver
O quanto eu me humilho
Por pensar em você
O quanto eu me escondo
Em escombros de um coração partido

Não respire mais como eu respiro
Não sonhe mais como eu sonho
Você pode ouvir
Em todas as vezes que eu grito?

Me sinto cansado dos seus beijos
Nunca devolvidos a mim
Do seu calor que nunca houve

Das suas promessas esquecida
Que eu costumo contar nos dedos

Mas me prometa uma coisa
Não, não me prometa
Apenas diga, ou permaneça em silêncio
E tudo seria
Tão fácil e leve de se sentir

Me abrace de verdade,

Eu te amo.




~






Andrew Oliveira

Fotografia


Forseti acordou. Não porque ela queria, mas porque tinha que acordar, já fazia três dias que não fora para a escola, e ainda estava tendo acessos de raiva e soluços sem parar. Era uma garota estressada e exausta. Mas ainda conseguiu arrumar a mochila, ou pelo menos tentou. E após acordar tomou um banho e escovou os dentes, pôs um absorvente na mochila e se vestiu. Não com a fúria que estava, tampouco com o vazio entregue por obrigação à ela, se vestiu com a delicadeza que almejava um dia ter, ou com a força que um dia sonhara. Na verdade ela era forte, era uma garota forte e repleta de atitudes que passavam confiança. Só não sabia disso. Não sabia quase nada. E não queria saber. Mesmo se soubesse, colocaria isso onde? No coração é que não, ele já estava pesado demais, carregando uma tonelada ou mais de fortes sensações e pesadelos constantes numa cinza solidão.

Não entenderam? Fortes sensações e pesadelos são mais conhecidos como depressão. Ou simplesmente um estúpido, rude e estabanado vazio. Ah, o vazio era um tédio e uma necessidade, mas não se pode fugir disso. Não se pode fugir do vazio e tentar levantar a cabeça? É claro que não. Pelo menos não por enquanto.

Quando estava prestes a sair de casa, olhou mais uma vez para a estante no seu quarto, e lá estava ele, esperando ser admirado pelos olhos quase sempre marejados de Forseti, esperando ser compreendido, ele também era um vazio, mas ao menos tinha uma fotografia preenchendo-o. Diferente de Forseti, que só tinha um gosto amargo e horrendo e imcompreensível e instável da perda no seu coração de costas largas.

Eu prefiro estar me decompondo numa vala pútrida a ter que aguentar essa maldita fotografia, pensou Forseti. Mas claro que ela não preferia isso, só estava tentando machucar a si mesma. E estava conseguindo.

Um

Dois

Três

E saiu.

E abandonou o sorriso de Frey ao seu lado naquela alegria improvisada. Certo dia numa praia de uma cidadezinha invernal.

~

E claro que ele jamais abandonaria o sorriso de Frey, nem se tentasse. Mas o que mais ele faria quando fosse necessário esquecê-lo e continuar a caminhar? Quer dizer, não que fosse necessário esquecê-lo para seguir em frente. Para seguir em frente basta caminhar. E é tão fácil decorar essas frases de lugar-comum.

Tudo isso não passa de uma baboseira.

Ah, mas talvez nem chegasse ao patamar deplorável em que Hermod estava. Nu numa banheira sem água, sem comer nem tomar banho desde que saíra do enterro de Frey, dois dias engolindo as próprias tripas. Viver não era tão necessário. E por quê? Por que tudo aquilo não poderia acabar de uma vez só? Mas Hermod não se matou, não chegou nem perto disso. Hermod era tão fraco quanto Frey. E o cheiro de velas ainda se impregnava no seu corpo que não exalava o mínimo de odor, era inverno, era sempre inverno por lá, e ele não se mexera desde que entrara naquela banheira. Acostumando-se a dormir por umas duas horas até acordar excitado e chorando, pensando em Frey. No seu cabelo, nos seus olhos, nas suas orelhas frias, na sua nuca próxima ás mechas lisas e negras, nas suas bochechas, na sua boca, no seu nariz, na sua língua. E depois no seu pescoço, nos seus ombros, nos seus sinais pintando a pele quase albina de tão branca, como um dia ensolarado demais. E terminando na sua barriga magra, nas suas costas, no seu sexo, nas suas nádegas, nas suas pernas, nos seus pés,

na sua alma negra e inconstante.

Era disso que ele precisava.

Ele precisava de uma boa trepada. De uma boa cama, de um bom verão, e do amor de Frey. O amor dele era infinito demais para o infinito, incômodo demais para o universo, caloroso demais para o verão inexistente, amado demais para o próprio amor. Hermod ainda ouvia sua voz, seus gemidos, suas canções sussurradas, e ainda via seus sorrisos tímidos, seu suor a percorrer-lhe a face, seus lábios se mordendo, e ainda sentia suas frases incompletas, o seu calor necessitando de outro calor, sua sombra fria e infeliz, tão desgraçada e tão bem escondida que ele só percebeu quando o viu morrendo na banheira de sua casa, e ainda pensava no que ele estaria pensando ou em todos os seus sonhos rasgados por uma lâmina afiada como um anjo negro. E Frey era um anjo de sangue. Fugindo para não se sabe onde. Chorando pelo que não se sabe o quê. Guardando os gritos na sua caixa torácica, ou silenciando seus pulmões para que não notassem que ainda estava vivo. Mas Hermod notara, Hermod notara e sabia.

Ele sempre soube

Chega

Chega de Frey.

Não, não chega, porque ele ainda estava com o cheiro do seu amado nos seus dedos, nos seus lábios, em cada pupila da sua língua, na sua ereção, nos seus sonhos, em cada pêlo da sua pele e em cada póro da sua paixão. Talvez maior do que paixão, do que amor.

Amor e paixão são coisas limitadas.

- No que você está pensando? - Diria Hermod.

- Não posso te contar. - Diria Frey.

- E o que você pode me contar? - Retrocederia Hermod.

- Eu não posso descrever. - Responderia Frey.

E ele o abraçaria, e depois morderia seu pescoço, e depois o beijaria, e o faria gritar. Então, por quê? Tudo isso por nada? Deus estaria brincando com a sua cara? No que ele estava pensando em tirar Frey da sua vida? Mas não foi Deus, não foi ninguém. Frey foi dono da própria vida à ponto de tirá-la. Mas Hermod não se importava se aquilo fosse egoísmo, na verdade nem se foi ou não Deus, tudo aquilo continuava uma droga do mesmo jeito.

Voltou a chorar, chorar como uma criança abandonada ou um cachorro atropelado. A criança? Sempre só. O cachorro? Sempre machucado. Era sempre assim, ele sempre acabava assim, pelado no frio e sem ninguém pra desabafar. Sem nada para fazer, e até ser levado pelas ondas furiosas da sua tristeza. E mesmo depois de tudo aquilo, ele não sabia como começar tampouco como terminar de chorar. Mas nada mais importava, pois ele levantou, magro e com fome, nu e com frio, para perambular pela sua casa no terceiro amanhecer, e lá estava, a fotografia na estante do seu quarto.

Três

Dois

Um

Ele a pegou e a abraçou

Tocou nos seus detalhes, ainda chorando.


- Você está ouvindo, Frey? Você consegue ouvir? Meu coração não pára de bater. Isso é sua culpa. Você deveria pensar mais nele, e em como ele está agora. Tudo isso é culpa sua.


Você consegue ouvir?




~





Andrew Oliveira


Um pequeno epílogo que não está em Hidden Place I, mas aí está (=

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Andrei, Amadeo, ou Armand


" [...]

- Seu cabelo parece feito de âmbar, como se âmbar pudesse derreter e ser tirado de chamas de vela em longos fios etéreos e deixado secar assim para fazer todas essas tranças lustrosas. Você é doce, com cara de menino bonitinho como uma menina. Por um momento, eu gostaria de ter podido ver você vestido de veludo antigo da maneira como você era para ele, para Marius. Gostaria de ter podido te ver por um momento como você ficava de meias e gibão cintado bordado com rubis. Olhe para você, a criança gelada. Meu amor nem sequer o afeta.

Isso não era verdade.

Os lábios dele eram quentes, e senti as presas embaixo, senti a urgência em seus dedos apertando subitamente meu crânio. Esse contato me arrepiou todo, meu corpo se contraiu, depois estremeceu, e a sensação foi mais doce do que seria previsível. Essa intimidade solitária me incomodou, incomodou-me o bastante para transformá-la, ou livrar-me dela completamente. Melhor morrer ou estar longe, no escuro, simples e solitário com lágrimas comuns.

Pelo olhar, achei que ele poderia amar sem dar nada. Não um conhecedor, apenas um bebedor de sangue.

- Você me deixa com fome - sussurrei. - Não de você mas de alguém que esteja condenado e no entanto vivo. Quero caçar. Pare com isso. Por que me toca? Por que tanta delicadeza?

- Todo mundo o quer - disse ele.

- Ah, eu sei. Todo mundo destruiria uma criança culpada e esperta! Todo mundo terá um garoto risonho que sabe onde pisa. Criança é melhor para comer do que mulher, e menina se parece muito com mulher, mas garotinho? Garotinho não é igual a homem, é?

- Não zombe de mim. Quis dizer que queria apenas tocar você, sentir como você é macio, como é eternamente jovem.

- Ah, sou eternamente jovem mesmo - respondi. - Você diz coisas absurdas para alguém assim tão bonito. Vou sair. Preciso me alimentar. E quando tiver terminado, quando estiver saciado e aquecido, volto aqui para lhe contar tudo o que você quiser. - Afasfei-me dele, sentindo arrepios quando ele soltou meu cabelo. Olhei para a janela branca vazia, muito em cima para se ver as árvores.

- Eles não conseguíam ver nada verde aqui, e é primavera lá fora, primavera do sul. Dá para sentir o cheiro por entre as paredes. Quero enxergar flores só por um instante. Matar, beber sangue e ter flores.

- Não basta. Quero [...] - disse ele. - Quero fazê-lo agora e quero que você venha comigo. Não vou ficar por aí para sempre.

- Ah, bobagem, claro que vai. Acha que sou um boneco, não? Acha que sou uma gracinha e feito de cera, e você fica desde que eu fique.

- Você é mauzinho, Armand. Tem cara de anjo e fala como um bandido comum.

- Que arrogância! Pensei que você me quisesse.

- Só em determinados termos. "





~








Anne Rice


"O Vampiro Armand"

Leiam, sintam, sussurrem de dor e prazer como as vítimas de Armand :9

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prostituta Ruiva


Ah... Como ela era teimosa, balançando a cabeça bruscamente em tom negativo e batendo os pés calçados com saltos-agulhas, mesmo escondendo algumas sardas do rosto com pó, ou estivesse cansada de passar sombra nos olhos quando várias lágrimas intrometidas já passeavam por lá. Não adianta, não adianta, não adianta. Ela não calava a boca nem um minuto, para respirar ou deixar alguém falar, ela era meio ditadora, Isabelle era tão contraditória.

Isabelle era uma daquelas garotas em que só se fala uma vez, as explicações eram para depois, as questões e as atitudes estavam sempre em primeiro lugar. Ela, cheia de gestos obscenos, palavras desbocadas, maquiagem borrada, dignidade zero, cambalhotas, pulos e pulsos. Mas acho que não se pode esperar muita dignidade de uma prostituta, não é? Mas Isabelle era diferente, não pelo seu perfume suave impregnado em sua pele mesmo depois de um bom banho quente, ou pelas suas roupas caras de homens que a presenteavam, se humilhando por ela, tampouco por suas atitudes de garoto vândalo, e nem um pouco de glamour no que falava, afinal, ela só queria sexo com preço. Ela era diferente por uma caixa, uma caixa pequena, compacta, escondida dentro dela, que ela não deixava ninguém ver ou tocar. Dentro daquela caixa poderia ter amor, ou o seu coração. Mas dentro daquela caixa tinha um sentimento muito maior.

Isabelle corava com facilidade, embora o pó nunca deixasse isso transparecer, ela não tinha uma pele muito clara, era meio parda, seus olhos de boneca de porcelana delineavam seu rosto cínico e fino, com lábios tão rosados e famintos que eu poderia jurar que ela tinha roubado de uma deusa, Vênus talvez. E ainda mais belo do que seu rosto, ou tanto quanto, eram seus cabelos, longos, que passavam uns cinco centímetros dos ombros de moça, cacheados, ruivos e fogosos, que ardiam só de olhar.

Ela vivia com luvas, luvas brancas que não eram tiradas nem nos atos sexuais de seus clientes. Afinal, o frio era mesmo necessário naquela capital. E por mais que fosse usada durante a noite, seus cachos perfeitos nunca ficavam desordenados, parecia uma peruca, mas eram tão naturais quanto seus seios adolescentes. E seu sexo soltava um odor e um aroma como se para provocar, que só podia ser sentido quando arrancavam-lhe a calcinha, ou quando lambiam seu pescoço.

Ah... e como Isabelle era doce, e não estou falando do seu jeito puro de tocar e olhar as coisas, curiosa. Estou me referindo ao seu sexo, você poderia ser o que quisesse com ela, bastava ela descobrir o que seus olhos queriam. Isabelle era uma ladra de corações, e ela nunca amou sequer algum, mas não tenho certeza disso.

E eu me tornei obcecado por Isabelle, toda vez que a procurava nas noites solitárias. E pagava o motel mais caro, e lhe mimava com vinho, e depois de alguns goles a jogava na cama com violência, e punha minhas partes íntimas para fora da calça, e tirava-lhe o sobretudo, e rasgava-lhe o vestido longo e cheio de detalhes mínimos, como se feito por um artesão, e chupava seus seios e ninhava seu corpo pequeno e pueril, e violentava seu olhar de pupila hipnotizada, e desamarrava suas botas e seu espartilho, e a fazia vociferar maldições e lamentos, e a desejava como nunca, até que sua carne me fizesse gozar espalhando por todo o seu corpo. Eu lambia-a.

Minhas costas arranhadas gritavam, meu corpo suado deitava-se ao seu lado, eu sentia seu cansaço sair e entrar pela sua respiração, eu nunca sabia se ela estava satisfeita, ela parecia imensamente insaciável. E depois adormecia, me fazendo fechar as pálpebras lentamente também, como se quisesse protegê-la de algum mal, mas eu sequer conseguia me proteger do seu encanto. Como poderia não amá-la?

Ela era tão perfeita aos meus olhos, e não me importava o quão sujo estivesse seu corpo já tão usado por outros bêbabos de Florença, não me importava o seu passado, eu só queria estar com ele para sempre. Eu estava desesperado para beber de Isabelle, Isabelle se tornou minha fonte de vida e vontade de respirar, Isabelle era tudo que preenchia a enorme cavidade no meu peitoral, ninguém via nem sentia, mas estava lá.

Acordei, e, como por hábito, ela não estava mais lá, e como por hábito eu me enroscava no lençol branco que deixava seu cheiro de lembrança para eu desejar mais do que já desejava. Esperei o dia passar, e a cada hora minha obsessão por ela ficava maior, eu ainda me sentia bêbado de prazer, queria ela, queria muito. A noite chegou.

E junto a noite trouxe a minha solidão caminhando comigo nas ruas fétidas cheias de ratazanas enormes passando perto dos meus sapatos manchados de vinho, nem lembrava mais de meu nome, lembrava apenas do nome dela. Isabelle. Um nome que parecia um beijo na minha nuca. Isabelle. E lá estava ela, se oferecendo para um homem qualquer, me deixando enfurecido.

Eu a tomei em meus braços, fazendo a gritar histéricamente. "Sebastian, o que estás fazendo? Enlouqueceste?". Enlouqueci por você. Pare com isso. Jamais vou conseguir parar. Eu a carreguei e andei com ela em cima de mim atravessando uma ponte, ela se agitava loucamente, e eu ainda estava bêbado de amor. Caímos.

Nadei até um solo frio daquela madrugada, desesperado por mim mesmo, e senti falta de algo. Não vi bolhas nem agitações na água, somente o corpo daquela bela donzela meretriz flutuando, provavelmente tinha sido nocauteada na cabeça em alguma coisa. E meu desespero se tornou ainda maior, voltando a nadar para buscar seu corpo imóvel. Ela estava respirando friamente, quase morrendo, apenas ouvindo meu choro incomodar seus ouvidos apurados. Eu sei que ela queria dizer alguma coisa, eu senti que ela poderia ter me amado, ou até mesmo me odiado. Talvez seja como eu sempre pensei, não existirá amor tão belo quanto o mistério da morte.

E morreu.













~









Black Cherry

Photo: McQueen

domingo, 7 de novembro de 2010

Siren Song


Você é minha família?
Posso ficar contigo por um instante?
Posso dormir em sua cama pela noite?

Eu poderia fazer você sorrir

Pela manhã farei um café da manhã
À noite aquecerei sua cama
E eu sempre estarei feliz em beijar você
Prometo que nunca estarei triste
Até que a sirene venha chamando, chamando

Isto está me tornando má, má

Fui uma conquistadora de corações, eu te amei
Da mesma forma que amo
Tenho tanta heresia e pecado
Meu nome é pérola
E te amarei da melhor maneira que eu conheça

Meus cachos loiros deslizam através do seu coração
E a sereia vem chamando
Não levará muito tempo
Até você fugir

Ajudo você a se vestir de forma extravagante
Dou banho em você quando sentir a dor
Serei boa, acho que eu poderia ser tudo o que você queria e mais e mais
Me orgulho quando você fascinar o maravilhoso

Ilumino seus olhos para a cidade
Digo a cada garoto que você é meu homem
Tento não deixar você desanimado
Até a sirene vir chamando, chamando

Isto está me tornando má, má

E eu te amarei da melhor maneira que eu conheça
Meus cachos loiros deslizam através do seu coração
E as estrelas estão explodindo as luzes

Não levará muito tempo até você fugir

Não levará muito tempo até você fugir

Não levará muito tempo até você fugir


Não, não levará muito tempo até você fugir










Natasha Khan [Bat For Lashes]

Hidden Place Saga - Ficha Técnica


Ah, eu realmente esqueci de colocar a filha técnica da saga Hidden Place, e fui logo postando minha nova série de contos, Oráculo das Feras (Espero que os fantasmas que leem meu blog gostem, sabe, é minha primeira série de contos fantasiosa... Enfim). Bem, aqui está:

- Hidden Place Saga - Gênero: Drama/Romance
Ano: 2010
Autor: Andrew Oliveira/Black Cherry


- Seleção de Capítulos -
Hidden Place Parte I:
0 - Prólogo: Íris
1 - As paixões dele
2 - Os sorrisos dela
3 - O calor dele
4 - A felicidade dela
5 - O egoísmo dele

6 - O coração dela
7 - O futuro dele
8 - A decisão dela
9 - O corpo dele
10 -A vida dela

11 - A alma dele

12 - O nirvana dela

Último Capítulo - O encontro deles

Hidde Place Parte II:
0 - Prólogo: Vazio

1 - Espuma

2 - Língua

3 - Praia

4 - Pássaros
Último Capítulo: A dor da Esperança


- Origem dos nomes -
>Mitologia nórdica:
~ Frey: Deus do brilho do sol e da lua
~ Freya: Deusa do amor e da cura
~ Forseti: Deusa da justiça

~ Hermod: Mensageiro dos deuses
~ Heimdall: Vigia dos deuses, segurança do arco-íris
~ Loki: Poder do mal
~ Tyr: Deus da guerra
~ Nanna: Deusa da lua

>Mitologia grega:
~ Psiquê: A amada de Cupido

~ Apolo: Deus da música

- Original Soundtrack -
Parte I:
01 Almost Lover - A Fine Frenzy (Álbum: One Cell in the Sea)
02 Watch You sleeping - Blue Foundation (Álbum: Life of a Ghost)
03 Clowns - Goldfrapp (Álbum: Seventh Tree)

04 Stepping Stone - Duffy (Álbum:Rockferry)
05 Oh Father - Madonna (Álbum: Like a Prayer)

06 Between Two Lungs - Florence + The Machine (Álbum: Lungs)

07 Cover my Eyes - La Roux (Álbum: La Roux)

08 Numb - Sia (Álbum: Colour the Small One

09 Blue Light - Emilie Simon (Álbum: Emilie Simon)

10 All i Need - Radiohead (Álbum: In Rainbows)

11 - Spark - Tori Amos (Álbum: From the Choirgirl Hotel)

12 - It's in Our Hands - Björk (Álbum: Greatest Hits)

[ Bônus Track: 13 - A Sunday Smile - Beirut (Álbum: Flying Club Cup) ]

Parte II
:
01 Shelter - The XX (Álbum: The XX)

02 Bulletproof - Kerli (Álbum: Love is Dead)

03 Goodnight, Travel Well - The Killers (Álbum: Day & Age)

04 Tekno Love Song - CocoRosie (Álbum: Noah's Ark)

05 Birds - Emiliana Torrini (Álbum: Me and Armini)

06 Siren Song - Bat For Lashes (Álbum: Two Suns)







~









Uma produção Andrew Oliveira & Black Cherry Series (=
Photo: David Lachapelle

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Hidden Place II: Último Capítulo - A dor da esperança


Forseti não queria mesmo, de jeito nenhum, acordar, quer dizer, ela já estava acordada, na verdade ela só não queria se levantar, o mundo estava pesado demais naquele dia. Era o jeito. Na verdade, era sempre assim. Olhou para o despertador pairado no criado-mudo ao lado da sua cama, com os olhos semi-cerrados, e resolveu abri-los de vez. Uma leve dor de cabeça pulsava no seu cérebro, talvez fosse de tanto pensar. Mas não era isso. Também não era por isso que ela tinha passado a noite chorando. Apressou-se e arrumou-se, Freya não estava ali na porta, mas ela sentiu a presença de Frey, o que a confortou por alguns instantes até se dar conta de que Frey estava morto, estava morto, e ela nunca descobriria o motivo do seu suicídio. Ela não havia descoberto o motivo do suicídio do próprio filho. O que mais ela poderia descobrir naquele mundo? O telefone tocou, podia ser alguém importante, ou outra notícia horrível, mas ela resolveu não atender. Chega de notícias, tenho que cuidar de um enterro agora.

Documentos, dinheiro, caixão, preços, tamanhos. Aquelas coisas que, quando citadas, parecem ser tão banais, mas, se fosse para encaixá-las em algo realmente bom, não daria certo. Não demorou tanto até que aquele caixão branco estivesse preenchido no meio da sala da sua casa, onde gritos silenciosos e lágrimas infinitas davam aquele amargo clima de morte. A morte, de fato, é um sabor, um sabor forte.

Na verdade, depois da morte, não há nada, a não ser a tristeza dos vivos prendendo os mortos nesse mundo.

~

Não houve dia seguinte, não para Forseti, Freya, Psiquê, Heimdall e Hermod. Freya passou o dia numa sala mofada e inutilizada da escola enquanto que Psiquê descobria em seu armário uma carta anônima de amor. Heimdall não foi trabalhar, e Hermod decidiu se isolar do mundo. Estavam completamente desamparados, e ao mesmo tempo com um sentimento de raiva, por que essas coisas tem que acontecer? Por que não pode haver algo que possa parar tudo isso? A resposta é que, não há realmente resposta pra nada. As coisas simplesmente acontecem.

Freya, ao chegar em casa, tirou da sua mochila várias bisnagas de tinta, alguns pincéis, e logo após pegou um grande quadro que não foi usado do porão, provavelmente seria um quadro que Frey usaria, se ainda estivesse vivo. E, ao som de uma suave música, começou a usar os pincéis e as tintas sobre o quadro magistralmente, era a primeira vez que ela estava fazendo algo assim. E mesmo assim, conseguiu desenhar um lindo alvorecer, numa praia distante, onde ondas azuis-escuras cintilavam sobre os primeiros raios do filho da deusa Aurora. Sob lágrimas, ela conseguiu desenhar uma pequena vida, tão pequena que nem teve tempo de falar, ou de sorrir como se deve sorrir.Há muitas pessoas que ainda não aprenderam a sorrir de verdade.

Fugiu para aquela mesma praia.

Psiquê não parava de ler aquele poema tão simples e tão belo, aquilo, de certa forma, era a sua única esperança, as esperanças dela sempre morriam, por que não deixar aquela viva pelo tempo que desse? E ao virar-se, viu um belo garoto, alto, de olhos claros, encarando-a. Ela não conseguiu ficar séria.

Heimdall, pela primeira vez durante mais de dez anos, marcou um encontro com Hermod, que ainda não estava raciocinando muito bem, mas resolveu aceitar. E antes de todos irem para a praia, resolveram ir para um outro lugar.

Forseti abriu a porta, resmungando, arrumando o pijama sobre o corpo enrugado e colocando os enormes cabelos cinzas num coque, ainda estava com sono, era uma velha que vivia com sono, mas mesmo velha, ainda era defensora da justiça, embora tenha ficado ranzinza com o tempo. E na frente da sua casa, de manhã cedo, vários rostos conhecidos e pequenos desconhecidos. Psiquê e seu namorado, Forseti, seu marido e suas duas filhas, Hermod e Heimdall de mãos dadas.

- O quê vocês querem? - Falou em tom cansado, daqueles bem característicos da terceira idade.

- Forseti, queremos que você vá à praia conosco. - Começou Freya.

- Não estou afim, me desculpem.

- Forseti, por favor, nós iremos para aquele lugar se você quiser, antes de irmos à praia. - Insistiu Heimdall.

- Vamos Forseti, nós precisamos de você. - Disse Freya.

- Ai vocês me matam... Nem parece que se passaram tantos anos, veja o estado de vocês, parece que não dormiram a noite inteira, entrem, vamos tomar um café primeiro. - Resmungou a velha.

As crianças de Freya entraram correndo, enquanto que Hermod e Heimdall colocavam seus chapéus no cabide, Heimdall não largava nunca a sua bengala. Psiquê e seu namorado ficaram na poltrona conversando sobre novos projetos arquitetônicos. Mas logo todos sentaram-se à grande mesa de jantar de Forseti para o seu café-da-manhã.

- Mamãe, a gente vai demorar muito pra ir à praia? - Questionou uma das filhas de Freya.

- Tenha calma Nanna, nós vamos à praia sim.

- Mas por que vocês estão tão felizes se a gente ainda nem chegou na praia?

- Porque a nossa felicidade está com Forseti, filha.

A nossa felicidade depende da dela.




~





Hidden Place II - Le finale
And so it is (=




~







Andrew Oliveira, desculpem pela demora à postar, de novo, eu tava meio que mal :x