E lá estava.
Não sei dizer bem como deveria me sentir, ou o quê deveria sentir. Algumas penas foram se dissipando no ar, enquanto eu cantava na maresia, algum sussurro ou necessidade de querer entender. As luzes apagadas. Apenas o sol vespertino aceso. Eu fechei meus olhos, com vontade de acreditar, eu queria acreditar, eu precisava disso. Mas eu nunca consegui viver numa mentira, e talvez esse tenha sido meu maior erro. Certo dia vi uma criança, toda suja, vestida com trapos e urrando de fome. Ela foi em direção ao lixo para se alimentar, e logo outras crianças também surgiram, um grupo fétido de crianças famintas metia a cabeça naquela lata de lixo, como cachorros de rua. Certo dia vi uma criança faminta no frio de uma cruel imensidão, ela estava faminta de amor.
E o que mais poderia ser?
Meus domingos sempre foram os mais entediantes, um verdadeiro homicídio da auto-estima, quer dizer, auto-estima não é bem isso, mas enfim. Ah, e aqueles campos doirados cheios de verde, vento e vida, isso, vá fundo, querido. Atrás de tudo isso, eu sempre soube, se escondia uma outra platéia, eu nunca tive coragem para ver como eles eram, na verdade, nunca tive coragem pra muita coisa, até mesmo pra falar coisas tão banais.
E minhas asas doeram.
Eram grandes e brancas, eu as arranquei. Não quero ser um anjo, não quero ser um demônio, não quero ser nada. Acho que, combinaria mais se eu fosse um enorme e cinzento vazio, igualzinho ao que tem aqui dentro. Asas não vão desperceber a dor que existe e se instala aqui dentro. A ordem é: se apaixonar, e depois sentir a dor. Quer dizer, a dor não é só isso, e se apaixonar é algo tão bobo. Então que me deem logo o chapéu de arlequim. Um pedaço de madeira para servir de cetro. E ele.
E um buraco se arrancou sobre ele.
Eu vi, eu sempre vejo, eu sempre observo tudo. Cada movimento que ele faz. Aquilo é uma farsa ou ingenuidade? Eu nunca vou saber. Cada movimento que ele faz é tão singelo e gracioso, como se fosse um pequeno artesão. E eu não entendo aqueles olhos, eu não os entendo. Me sinto nu num lugar frio, encolhido como um feto, pensando nele. E lá vem a chuva. Ela só não consegue lavar a minha alma. Mas ela consegue tirar de mim aquela chave, como se os respingos formassem uma criatura suave e agonizante que consegue, consegue mesmo, me expelir de mim mesmo.
Eu me deformo e me formo de novo.
Meus ossos dóem, minha visão turva, minhas articulações travam, eu me sinto mal, eu nunca me senti bem com isso. Eu tenho medo de saber o que é o amor. Talvez eu já saiba, e esteja apenas falando e pensando em frases covardes de solidão para tentar tirar isso de mim. E eu queria tanto que ele fosse parte de mim.
E que ele me tocasse.
Me beijasse carinhosamente todos os dias, me mordesse pela noite, me escrevesse cartas apaixonadas, me ligasse, me mandasse mensagens, recados, me falasse o que sentisse, e que sua resistência elétrica ligasse as luzes do meu coração. E no primeiro abrigo, fosse o luar. No segundo abrigo, fosse a alma. E no terceiro, no último, fossem os seus olhos. Eu tenho tanta raiva de não saber sobre eles. Queria sair quebrando tudo que visse pela frente.
E eu não tenho nada disso.
Eu não tenho o companheirismo e a alegria daquelas crianças que, mesmo comendo lixo, estão felizes por estarem juntas. Eu como lixo e continuo só, eu me vomito de tanto nojo que sinto de mim. Talvez debaixo de algum outro abrigo eu o encontre. Isso é meu maior sonho, encontrá-lo, e saber que ele existe somente para mim.
Mas nem no primeiro, nem no segundo, nem no terceiro.
Ou, talvez apenas no terceiro, não tenho tanta certeza disso, não gosto das certezas, gosto de pular e me dispersar no cristalino ar de um amanhecer que, por algum motivo está ali. Eu quero poder falar, e abraçar, e sentir um outro calor que me ajude a sustentar essa dor. Eu quero respirar, me beija, me-respira, morte-me.
Não sei dizer bem como deveria me sentir, ou o quê deveria sentir. Algumas penas foram se dissipando no ar, enquanto eu cantava na maresia, algum sussurro ou necessidade de querer entender. As luzes apagadas. Apenas o sol vespertino aceso. Eu fechei meus olhos, com vontade de acreditar, eu queria acreditar, eu precisava disso. Mas eu nunca consegui viver numa mentira, e talvez esse tenha sido meu maior erro. Certo dia vi uma criança, toda suja, vestida com trapos e urrando de fome. Ela foi em direção ao lixo para se alimentar, e logo outras crianças também surgiram, um grupo fétido de crianças famintas metia a cabeça naquela lata de lixo, como cachorros de rua. Certo dia vi uma criança faminta no frio de uma cruel imensidão, ela estava faminta de amor.
E o que mais poderia ser?
Meus domingos sempre foram os mais entediantes, um verdadeiro homicídio da auto-estima, quer dizer, auto-estima não é bem isso, mas enfim. Ah, e aqueles campos doirados cheios de verde, vento e vida, isso, vá fundo, querido. Atrás de tudo isso, eu sempre soube, se escondia uma outra platéia, eu nunca tive coragem para ver como eles eram, na verdade, nunca tive coragem pra muita coisa, até mesmo pra falar coisas tão banais.
E minhas asas doeram.
Eram grandes e brancas, eu as arranquei. Não quero ser um anjo, não quero ser um demônio, não quero ser nada. Acho que, combinaria mais se eu fosse um enorme e cinzento vazio, igualzinho ao que tem aqui dentro. Asas não vão desperceber a dor que existe e se instala aqui dentro. A ordem é: se apaixonar, e depois sentir a dor. Quer dizer, a dor não é só isso, e se apaixonar é algo tão bobo. Então que me deem logo o chapéu de arlequim. Um pedaço de madeira para servir de cetro. E ele.
E um buraco se arrancou sobre ele.
Eu vi, eu sempre vejo, eu sempre observo tudo. Cada movimento que ele faz. Aquilo é uma farsa ou ingenuidade? Eu nunca vou saber. Cada movimento que ele faz é tão singelo e gracioso, como se fosse um pequeno artesão. E eu não entendo aqueles olhos, eu não os entendo. Me sinto nu num lugar frio, encolhido como um feto, pensando nele. E lá vem a chuva. Ela só não consegue lavar a minha alma. Mas ela consegue tirar de mim aquela chave, como se os respingos formassem uma criatura suave e agonizante que consegue, consegue mesmo, me expelir de mim mesmo.
Eu me deformo e me formo de novo.
Meus ossos dóem, minha visão turva, minhas articulações travam, eu me sinto mal, eu nunca me senti bem com isso. Eu tenho medo de saber o que é o amor. Talvez eu já saiba, e esteja apenas falando e pensando em frases covardes de solidão para tentar tirar isso de mim. E eu queria tanto que ele fosse parte de mim.
E que ele me tocasse.
Me beijasse carinhosamente todos os dias, me mordesse pela noite, me escrevesse cartas apaixonadas, me ligasse, me mandasse mensagens, recados, me falasse o que sentisse, e que sua resistência elétrica ligasse as luzes do meu coração. E no primeiro abrigo, fosse o luar. No segundo abrigo, fosse a alma. E no terceiro, no último, fossem os seus olhos. Eu tenho tanta raiva de não saber sobre eles. Queria sair quebrando tudo que visse pela frente.
E eu não tenho nada disso.
Eu não tenho o companheirismo e a alegria daquelas crianças que, mesmo comendo lixo, estão felizes por estarem juntas. Eu como lixo e continuo só, eu me vomito de tanto nojo que sinto de mim. Talvez debaixo de algum outro abrigo eu o encontre. Isso é meu maior sonho, encontrá-lo, e saber que ele existe somente para mim.
Mas nem no primeiro, nem no segundo, nem no terceiro.
Ou, talvez apenas no terceiro, não tenho tanta certeza disso, não gosto das certezas, gosto de pular e me dispersar no cristalino ar de um amanhecer que, por algum motivo está ali. Eu quero poder falar, e abraçar, e sentir um outro calor que me ajude a sustentar essa dor. Eu quero respirar, me beija, me-respira, morte-me.
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The Black Cherry
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