Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tudo o que eu queria nunca esteve aqui


Caminhando a passos largos no ar
Com uma pedra num punho
E uma pena na outra
Meio. Fim. Começo.
E não, não se pode recomeçar
Detesto isso
Tentar correr sem pernas ou fazer pegadas
sem pés
Com cacos de vidro e ossos de metal
Impregnando borboletas de pimenta
nos meus olhos
E eu tento pensar sobre isso
Eu penso demais às vezes
Quero um pouco mais.
Balas, açúcar, um show de horrores
Eu amo horrorshow
Nós somos uma bizarrice
de um circo chamado Solitude
e o apresentador se chama Carma
Carmas são baboseiras
Eu acredito no Carma
Quero quebrar os tsunamis
e quero foder aquela boca
com o meu pau
deixá-la sem dentes.
E hoje está um belo dia
Para matar ouriços do mar
com as botas de outono
beber suco de algas
E é tudo tão esplêndido
e alguma coisa
e frio
e fervente
e fracassado.
Esta noite vou
fazer aviões de papel
e cartas de depressão
Virar do vinho
pra água
Eu serei o único
que você escolherá
e nada
nunca
será
tão forte
e profundo
e doloroso
e catastrófico
e apocalíptico
e agonizante
quanto os meus olhos
que um dia estiveram cheios
de raiva e frustração
quando tiros à queima-roupa
vindos de você
Me dissiparam num império
cheio de guerreiros cansados
e sombras envergonhadas
Mas
Na
Multidão
Eu só vejo a sua armadura
sendo jogada ao ar
pela minha possessão
E eu vou te segurar até o fim.





~







Andrew Oliveira
~ E uma pitada de Lilith

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Third shelter


E lá estava.

Não sei dizer bem como deveria me sentir, ou o quê deveria sentir. Algumas penas foram se dissipando no ar, enquanto eu cantava na maresia, algum sussurro ou necessidade de querer entender. As luzes apagadas. Apenas o sol vespertino aceso. Eu fechei meus olhos, com vontade de acreditar, eu queria acreditar, eu precisava disso. Mas eu nunca consegui viver numa mentira, e talvez esse tenha sido meu maior erro. Certo dia vi uma criança, toda suja, vestida com trapos e urrando de fome. Ela foi em direção ao lixo para se alimentar, e logo outras crianças também surgiram, um grupo fétido de crianças famintas metia a cabeça naquela lata de lixo, como cachorros de rua. Certo dia vi uma criança faminta no frio de uma cruel imensidão, ela estava faminta de amor.

E o que mais poderia ser?

Meus domingos sempre foram os mais entediantes, um verdadeiro homicídio da auto-estima, quer dizer, auto-estima não é bem isso, mas enfim. Ah, e aqueles campos doirados cheios de verde, vento e vida, isso, vá fundo, querido. Atrás de tudo isso, eu sempre soube, se escondia uma outra platéia, eu nunca tive coragem para ver como eles eram, na verdade, nunca tive coragem pra muita coisa, até mesmo pra falar coisas tão banais.

E minhas asas doeram.

Eram grandes e brancas, eu as arranquei. Não quero ser um anjo, não quero ser um demônio, não quero ser nada. Acho que, combinaria mais se eu fosse um enorme e cinzento vazio, igualzinho ao que tem aqui dentro. Asas não vão desperceber a dor que existe e se instala aqui dentro. A ordem é: se apaixonar, e depois sentir a dor. Quer dizer, a dor não é só isso, e se apaixonar é algo tão bobo. Então que me deem logo o chapéu de arlequim. Um pedaço de madeira para servir de cetro. E ele.

E um buraco se arrancou sobre ele.

Eu vi, eu sempre vejo, eu sempre observo tudo. Cada movimento que ele faz. Aquilo é uma farsa ou ingenuidade? Eu nunca vou saber. Cada movimento que ele faz é tão singelo e gracioso, como se fosse um pequeno artesão. E eu não entendo aqueles olhos, eu não os entendo. Me sinto nu num lugar frio, encolhido como um feto, pensando nele. E lá vem a chuva. Ela só não consegue lavar a minha alma. Mas ela consegue tirar de mim aquela chave, como se os respingos formassem uma criatura suave e agonizante que consegue, consegue mesmo, me expelir de mim mesmo.

Eu me deformo e me formo de novo.

Meus ossos dóem, minha visão turva, minhas articulações travam, eu me sinto mal, eu nunca me senti bem com isso. Eu tenho medo de saber o que é o amor. Talvez eu já saiba, e esteja apenas falando e pensando em frases covardes de solidão para tentar tirar isso de mim. E eu queria tanto que ele fosse parte de mim.

E que ele me tocasse.

Me beijasse carinhosamente todos os dias, me mordesse pela noite, me escrevesse cartas apaixonadas, me ligasse, me mandasse mensagens, recados, me falasse o que sentisse, e que sua resistência elétrica ligasse as luzes do meu coração. E no primeiro abrigo, fosse o luar. No segundo abrigo, fosse a alma. E no terceiro, no último, fossem os seus olhos. Eu tenho tanta raiva de não saber sobre eles. Queria sair quebrando tudo que visse pela frente.

E eu não tenho nada disso.

Eu não tenho o companheirismo e a alegria daquelas crianças que, mesmo comendo lixo, estão felizes por estarem juntas. Eu como lixo e continuo só, eu me vomito de tanto nojo que sinto de mim. Talvez debaixo de algum outro abrigo eu o encontre. Isso é meu maior sonho, encontrá-lo, e saber que ele existe somente para mim.

Mas nem no primeiro, nem no segundo, nem no terceiro.

Ou, talvez apenas no terceiro, não tenho tanta certeza disso, não gosto das certezas, gosto de pular e me dispersar no cristalino ar de um amanhecer que, por algum motivo está ali. Eu quero poder falar, e abraçar, e sentir um outro calor que me ajude a sustentar essa dor. Eu quero respirar, me beija, me-respira, morte-me.






~





The Black Cherry

Hidden Place II: Capítulo 4 - Pássaros


A enorme cortina inútil que cobria aquele enorme quadro incompleto de uma enorme dor guardada escorregou e caiu, um roçar de abstinência e amor se acomodou naquele lugar, a meia-imagem estava à mostra. Ele apagou seu cigarro num cinzeiro levantando-se da poltrona e se aproximando da tela, que o chamava, como se fosse uma ninfa semi-nua soltando gargalhadas pela floresta enquanto corre através das petunias, trevos, margaridas, e toda a variedade de flores e folhas borbulhando pelo ar. Mas era só um quadro. Ele ainda sentia o cheiro forte da tinta, tocou nos detalhes da pintura inacabada como se toca numa virgem, seu corpo todo reage num estado de medo e êxtase, mas pinturas não reagem, ou pelo menos não deveriam reagir. Mas aquela pintura reagiu, e tocou de uma forma cirúrgica-amadora no seu coração, e lá estava Frey. Ele perseguiu Frey por todo canto da sua casa e o devorou na cozinha. E quando ejaculou sobre o corpo daquela criatura, percebeu que não era Frey, não era ninguém, ele tinha acabado de acordar. Olhou pela porta aberta do seu quarto, a pintura estava coberta pela cortina branca.

A campainha tocou, e aquela campainha só tocava de manhã cedo por causa de sua sobrinha, Psiquê. Psiquê era uma daquelas garotas que choravam histéricamente, como se estivessem sendo torturadas ou sendo obrigadas a irem pro inferno. Psiquê realmente era uma garota histérica quando queria, Heimdall já sabia o motivo de tanto choro, ele sempre sabia, Psiquê contava tudo para ele, ele era o seu diário, o seu abrigo. Heimdall realmente não podia fazer mais nada a não ser consolar a pobre criança. Aquela criança suja com o próprio sangue, era como se ela adorasse se ferir. E sentaram na poltrona, de frente para as janelas daquele apartemento que davam uma ampla vista da cidade.

- Psiquê tem certeza disso? - Disse para Psiquê.

- Psiquê não sabe lidar com certezas. - Respondeu Psiquê.

- E ela sabe lidar com o quê?

- Com todas as dúvidas que surgem.

- Ela não parece ser muito corajosa. Imagine quando surgir uma tempestade...

- Ela se recolhe na sua concha.

- Ela não deveria fugir das coisas ruins o tempo inteiro. Aliás, ela está com uma aparência péssima, está parecendo um urso panda de tantas olheiras.

Uma outra Psiquê riu. Heimdall sempre conseguia. Talvez esse fosse o motivo da sua existência.

- Aliás, tio, o que tem atrás daquela enorme cortina branca?

- Um quadro.

- É seu?

- Não, eu o encontrei, num beco escuro. Está incompleto.

- Se o lugar era escuro, como você conseguiu ver?

- Eu tinha uma lanterna.

- Você sabe o nome desse quadro?

Heimdall acendeu as luzes da sua mente, e ouviu aquela voz preservada em seus devaneios.

Jezebel.

O nome da sombra sobre a janela, uma ilha. Um personagem qualquer. Uma vida de um outro lugar.

- Eu posso?

- Claro.

Psiquê se levantou e se aproximou do quadro, com calma, puxou a cortina, e ela foi caindo. Parte da imagem era negra, os detalhes em vermelho, e um pouco de cinza no centro que ainda ía se completar, dentro do meio-círculo cinza um meio-coração, e nele uma enorme asa avermelhada que se estendia pela tinta negra, e dava uma sensação de que iria se debater naquela escuridão. O coração de Psiquê acelerou, como se fosse explodir e...

- Já chega, você já o viu. Agora cubra.

- Como você consegue guardar algo tão pertubador aqui? - Assustou-se a adolescente.

- Foi a única coisa que me restou.

- Você não o tinha achado num beco escuro?

- Acho que ainda era pior que um beco escuro. Eu nunca tive realmente coragem de entrar naquela escuridão.

Heimdall escovou os dentes e preparou o seu café-da-manhã , enquanto Psiquê, ainda atordoada, lia um de seus vários livros. Cada segundo de Heimdall era dedicado à Psiquê e Frey, talvez mais à Frey, o que era uma completa baboseira. Tomou banho, comeu o café-da-manhã, e saiu naquele sábado com a sobrinha, o aniversário dela estava chegando, e ele compraria um lindo vestido.

~

Forseti não chorou, em momento algum, e nem poderia, ela teria que mostrar confiança e força na frente daquela criança dali por diante. Noite quase-chegando, vinho espumado, jazz e um clima morno. Sua cabeça estava dando voltas em cima de seu pescoço, como se quisesse fugir, e se fugisse, ela com certeza nem sentiria falta, seu coração estava ocupado demais para isso. Olhou para a lareira apagada, e pegou o telefone ao seu lado, é, ela tinha que contar.

- Hermod...

- Forseti? Nossa que...

- Eu preciso da sua ajuda.

- Forseti, eu já entendi, eu vou sair de vez da sua vida e da vida do meu filho. Não vou me aproximar dele, está tudo bem.

Forseti sentiu vontade de vomitar. E não aguentou, seus olhos entraram numa imensa tempestade de tristeza, e o peso de uma responsabilidade maior do que qualquer coisa que ela já tenha sentido. A voz de Hermod, a voz de Tyr. Ela estava flutuando no meio de um oceano com uma barra de ferro de uma tonelada sobre seu corpo. E chorou, chorou por toda aquela semana em que não tinha chorado, desde aquela segunda-feira em que o médico deu a notícia de que seu filho provavelmente iria morrer, e talvez o provavelmente nem tivesse tanta certeza disso. O provavelmente também não sabe lidar com certezas.

- Tyr está muito doente. - Soluçou.

- Forseti, tenha calma, não estou entendendo.

- Tyr está com leucemia! - Gritou, fazendo o ursinho de pelúcia de Tyr cair de sua mão enquanto assistia à mãe na penúmbra de uma porta.

- O quê? - A testa de Hermod franziu.

- Por favor, eu só peço que me ajude. Eu não vou dar conta de tudo isso sozinha.

- Forseti eu...

Tyr correu para aquele mesmo mar em que sua mãe se encontrou uma vez, ao descobrir que seu ex maior amor não a amava. Mas não era inverno como daquela vez. Sua casa ficava ali perto. Era uma criança que já tinha noção do que era a dor, e a morte, era uma criança precoce, afinal. Ele não queria causar dor à sua mãe. E correu.

Por um breve momento pôde sentir uma música passando pela sua boca, querendo respirar, querendo amar, querendo cruzar todos os oceanos e possuí-los para imperar ao lado da solidão e da vontade. Solidão e vontade. A areia deixando marcas de seus passos, a areia gostava de Tyr. O céu com tons lilás, azuis, laranjas, e um pouco de vermelho naquele pôr-do-sol, um espetáculo, um requiém, o céu chamava Tyr para um doce luar. E o mar, a espuma do mar, as ondas do mar, como se estivessem numa orquestra, desejando nunca mais parar. O mar também pára as vezes. Mas não a solidão e a vontade.

Tyr foi chamado por aquele mar parado, e se transformou em água, afogado, cheio de dores pelo corpo. Mas aquelas dores não eram da leucemia. Eram outras dores, escondidas na penúmbra de uma porta, ouvindo o que nunca imaginava ouvir da sua única esperança no mundo.








~








Andrew Oliveira,
Desculpem por demorar a postar de novo :x

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Hidden Place II: Capítulo 3 - Praia


Freya não sabia pintar as unhas, nem de tirar as cutículas sem se ferir, nem de fazer um bom penteado, nem se portar como uma mocinha. Muito menos se controlar. É, ela queria muito encher a cara de Apolo de porrada, ele merecia, realmente, mas apenas parcela da culpa era dele. De qualquer forma, Psiquê conseguiu convencê-la a não socá-lo, e no dia seguinte todos ficaram calados, tristes e sem vontade de estudar.

Psiquê gostava muito de ir à praia na frente da cidade, ela e Freya quase não se lembravam da época em que aquela cidade era completamente cinza e sem sol, tão fria que até na lareira de suas casas as pessoas usavam agasalhos, tão fria que as pessoas congelaram todas as suas lembranças ruins naquele inverno que durou décadas e de uma hora pra outra sumiu. Forseti, Hermod e Heimdall nunca esqueceram do dia em que viram o verão pela primeira vez, foi a melhor sensação que já tiveram, a melhor visão que seus olhos cheios de lágrimas congeladas já vislumbraram, era como se Deus tivesse lembrado daquele recante. Vou aquecê-los também.

Forseti sempre esquecia de ligar o celular, e já havia mil e uma chamadas perdidas nele quando ela se lembrava de ligar. Uma das mil e uma era de Hermod, por que Hermod? Tomou uma pequena decisão e discou os números.

- O que você quer Hermod? - Disse, ríspida.

- Olá Freya, só queria saber como Tyr está e...

Freya respirou fundo, ele sabia disso.

- Está começando a perguntar porque não tem um pai, Hermod. Por quê?

Hermod calou-se.

- Hermod, por favor, não comece essa história de novo. Eu já criei uma mentira pra ele, e é assim que vai ficar.

- Forseti, ele precisa de um pai...

- Precisa de um pai? Como você tem a cara de pau de dizer isso? Só agora você se arrepende?

- Você não me deu alternativas, disse que iria cuidar dele sozinha.

- Deixa de ser infantil, Hermod. O que eu mais queria naquela época era de alguém pra me ajudar a criar Tyr. Nem isso você percebeu.

Desligou.

Droga, essa história nunca vai ter fim?

Não.

Esperou até que chegasse o dia seguinte. E de manhã, bem cedo, chamou Tyr e Freya para irem a praia, Freya convidou Psiquê, que entusiasmada aceitou na hora. De manhã cedo foram para a praia, bem a tempo de ver o nascer do sol, de manhã cedo já estavam pensando em faltar às aulas, de manhã cedo seus corações se aqueceram, e conseguiram esquecer, ao menos um pouco, do mundo real. Pegaram conchas, estrelas-do-mar, corriam atrás das gaivotas, e aquele parecia ser o dia perfeito. Forseti parou para passar protetor solar no seu filho, tirando sua camisa, e vendo vários hematomas em suas costas, o sol matutino doeu nos olhos. O mundo real tinha voltado, e tudo voltou a passar rápido demais.

- Tyr, meu filho, o que é isso?

- O quê mamãe?

- Essas manchas horríveis nas suas costas.

- Eu não sei.

Freya e Psiquê pararam de brincar com a água, e encararam a mãe e o filho, até mesmo as gaivotas pararam de piar, só se ouviam as ondas chiando e fazendo espuma, que jogavam alguns gravetos pra lá e pra cá na maresia, e conchas, nem tantas nem poucas. As rochas ali perto soltaram um gemido, Forseti sentiu algo doer dentro de si, e não era no coração.

- Desculpe meninas, acho que temos que voltar.

- Tudo bem, Forseti. - Disse Freya, aproximando-se e pegando na sua mão, com um ar compreensivo. - Temos que ir ver um médico, não é?

Psiquê também se aproximou, e, com Freya, trocaram as camisas molhadas e os biquínis por outras vestes, entraram no carro e partiram de volta pra casa, com um gosto estranho na boca. Aqueles dias estavam estranhos e velozes, como se cada tique-taque fosse um dia. E o dia da consulta e do diagnóstico chegaram.

Freya já estava na porta da casa de Forseti, esperando-a se arrumar. Forseti pôs cada parte da sua armadura bem devagar, os brincos, o batom vermelho-vinho, um pouco de pó-de-arroz, os sapatos, as roupas. Penteou os cabelos como se aquela fosse a última vez, levantou, pegou sua bolsa, desceu a escada, pegou nas mãos de Freya e Tyr, e foram para o hospital.

Cheiro de sangue, remédios fortes, vômito, soro e morte, era o cheiro de hospital. Freya nunca gostou daquilo, Tyr nunca entendeu, e Forseti se sentia forçada a lembrar de uma série de coisas. Entraram na sala do médico e sentaram nas cadeiras, Freya ficou numa poltrona um pouco distante da escrivaninha do médico.

Realmente, Forseti sabia de muita coisa, muita mesmo, que conseguiu aprender durante a trajetória de sua vida até lá. Ela sabia onde encontrar abrigo, como sobreviver no fim do mundo, como escrever um poema ou até mesmo como pintar um quadro, ela sabia ler partiruras e tocar piano perfeitamente.Forseti era uma daquelas mulheres em que só pelo fato de você olhar em seus olhos você se sente seguro, ela se tornou uma boa presença, ainda que cheia de segredos que a faziam segurar uma mentira dolorosa para o seu filho, se aquilo era necessário ou não, ela também sabia, mas preferia guardar para si mesma. Mas ela não sabia de duas coisas, naquele mundo, apenas de duas coisas, que atormentavam a sua vida, e atormentariam ainda mais, o que ela não sabia também era de como começar a solucionar essas duas coisas das quais ela não sabia, tinha medo de saber, mas ainda assim queria saber.

1 - O que levou Frey a morrer.

2 - Por que meu filho tem leucemia.

Deus, eu te odeio.




~




Andrew Oliveira

sábado, 9 de outubro de 2010

Hidden Place II: Capítulo 2 - Língua



Ah, óbviamente ela sabia o que Apolo queria, e mesmo assim aceitou, cedeu-se a ele. Psiquê realmente não se amava o suficiente, e talvez só amasse a beleza de Apolo, aquele garoto tão terrívelmente belo, ah... O amor estava realmente em tudo? Isso tudo foge tão rápido da minha mente. A madrugada estrelada era o palco para a janela do quarto de Apolo, onde ele se lambuzava de Psiquê e Prazer. Uma música tocava no seu micro-system, era frágil e onírica, se chamava Shelter.Apolo a beijava de uma forma que ela acreditava ser por paixão, ele a pressionava contra o seu corpo másculo e grande, deixando-a completamente desfalecida, como se estivesse sugando sua alma para se alimentar, Apolo era um ladrão de almas. E a lambia voraz, Psiquê estava mole, apenas seguindo o ritmo daquela criatura tão incansável, seu corpo todo tremia, arrepiado, era como se o ar da meia-noite estivesse entrando na sua pele e ela estivesse se transformando em noite. Apolo a despiu, e se despiu, passeando sua boca por todo o corpo daquela garota tão confusa, ele a torturava com sua língua.E ele a beijou ainda mais, enquanto penetrava devagar o seu membro rígido no sexo da menina, expulsando a sua virgindade, uma lágrima desceu de seu olho esquerdo, mas era de felicidade. Ela se contentava com tão pouco, que garota mais medíocre.

~

Um corredor, várias portas, nenhuma janela, tudo estava mal iluminado, Freya sentia o chão gelado cortando seu pé como pequenas lâminas formando o piso, mas ela não se importava, sentiu um ar de melancolia e logo após uma ventania entrar de forma brusca no corredor, como um carro em alta velocidade na estrada, e se sentiu nua, mas lá estava, um homem distante, quase uma sombra, ela podia ver seu rosto, ela queria ver seu rosto, e tentou acordar, mas não conseguiu, orou para si mesma e conseguiu abrir os olhos de uma forma calma, seu coração não estava mais batendo forte, nem estava suando, nem estava tentando gritar, estava relaxada. E só então, resolveu acordar para outra questão.

Quem é meu pai?

E só então ela se tocou, ela cresceu apenas do lado de sua distante mãe, e de Forseti, quer dizer, ela tinha uma imagem de seu pai, talvez fosse uma foto ou um sonho, até mesmo um pesadelo, mas naquela hora ela sentiu vontade de conhecê-lo, e a partir de então não conseguiu dormir mais.

As olheiras estavam realmente grandes, ela olhava para si mesma no espelho se chamando de Panda, além de ter a pele pra lá de pálida, nem maquiagem resolveu, e lá estava Freya, chegando na escola com a cara de pau mais mal tratada do mundo, que se danem essas pessoas vazias.

Eu sou vazia também?

De qualquer forma, o cotidiano continuava o mesmo, com as mesmas cores de sempre, as mesmas pessoas de sempre, as mesmas dúvidas de sempre, as mesmas tristezas de sempre, e a mesma dor de sempre. Ela nunca soube explicar aquela dor, poderia estar com medo ou com ódio daquilo, o que é a dor? Os dias estavam com alguma coisa a mais, ela sentia isso, e não eram as perguntas que ela sempre fazia a si mesma, o que era essa sensação? Olhou para Apolo, que a encarava durante quase toda a aula, sorriu pra ele, e ele retribuiu o sorriso, Psiquê cochilava enquanto o professor de matemática falava de mil fórmulas para a prova, Psiquê não era assim, não durante as aulas de matemática, Freya estranhou ao ver uma menina tão esforçada cochilando durante uma aula importante assim.

Acho que até meninas tão boas como ela se cansam às vezes, aliás, acho que todas as meninas se cansam de viver, e preferem cochilar durante as aulas de matemática pra tentarem se manter em pé. Os saltos doem, as calças esfriam, o batom resseca. Tudo isso é uma mentira mal contada. E eu não passo de mais um detalhe de toda essa encenação. Encenar demais é cansativo, mesmo.

Até há um dia antes, Psiquê era tudo o que Freya imaginava, mas não naquele presente, naquele presente Psiquê era outra pessoa que, após ter sido descoberta, só via as segundas intenções das pessoas, seus interesses, e como elas usavam as outras para benefício próprio, que podridão. Psiquê havia perdido a inocência não apenas do corpo, mas da sua alma. Psiquê estava banhada de sangue de leão.

Após a aula, Freya resolveu chamar Psiquê, que ainda estava desnorteada de sono e melancolia, igual ao seu pesadelo da noite anterior, que fez pensar em seu pai.

- Psiquê...

- Olá Freya. - Deu um meio sorriso, parecido com o de alguém.

- Está tudo bem com você ?

- Por que a pergunta? Estou sim.

- É que você estava dormindo durante a aula.

- Só tive uma noite ruim e...

Antes que pudesse terminar Apolo passou ao seu lado de uma forma fria, sem nem mesmo dar um olá, seu peito apertou e logo pôs a mão em cima dele.

- Aconteceu alguma coisa? Pode me contar. - Disse numa voz materna, percebendo o desconforto da garota.

Psiquê respirou fundo e abaixou a cabeça, a escola já estava se esvaziando, e um turbilhão veio à sua mente, sua cabeça doeu, seus olhos doeram, por que ele nem olhou pra mim hoje? Ela de alguma forma sabia que isso poderia acontecer, só não estava pronta para tal, queria vegetar ali mesmo, mas Freya não deixou, Freya pôs a mão no ombro da menina.

Psiquê hesitou, e uma pequena lágrima ficou na toca de seus olhos.

- Eu o amo tanto, tanto Freya. E eu fui tão idiota em acreditar que ele poderia me amar, ele só queria me usar, como outra qualquer, eu acho que sou isso mesmo. - E começou a chorar copiosamente.

Freya borbulhou de raiva por tal indivíduo, quem seria capaz de fazer isso com uma menina tão doce?

- Quem é esse garoto, Psiquê? É Apolo?

Ela fez que sim. Freya pensou logo em encher a cara de Apolo com socos. Psiquê uivou de dor.






~







Andrew Oliveira

Desculpem a demora pra postar, estou sem notebook )=

domingo, 3 de outubro de 2010

Lânguido


Um barulho ensurdecedor foi captado pelos meus tímpanos, não tinha vibração, minhas orelhas nem puderam sentir o seu gosto, foi um som sem som. As janelas enormes da mansão estavam abertas, frio entrando, e as cortinas dançavam como se dança num filme de terror, eu estava quieto em meu canto, mas resolvi levantar e andar por lá um pouco. A varanda tinha cheiro de mar, algas, estrelas, areia molhada, assovios, sal e um leve luar de açucar, um luar cheio, como se feito de queijo, queijo e açucar, porque eu sentia o gosto dele. Decidi ir para aquele mundo de sensações, acalmar o meu peito ansioso.

E lá estava, a consequência do som, uma taça quebrada, entre vinho branco, cacos do que foi uma bela figura, junto da ex-taça um banco, o suficiente para duas pessoas, e junto do banco uma mesinha, junto da mesinha as plantas, e junto das plantas as horas. Quem pegava as horas e as usava como massagem para as mãos era uma sombra, uma sombra robusta, eu não conseguia ver seu rosto muito bem, as luzes estavam todas apagadas, exceto a lua, mas a lua estava de frente para mim, e de costas para a sombra, como se eu estivesse numa arena, e a sombra no palco, apresentar sabe-se-lá-o-quê. A sombra das horas era sedutora e astuta, ela escolhia as palavras muito bem, e me persuadia. Eu sabia disso, mas queria ser levado pelo perigo. Eu me fingia de bobo e a sombra se fingia de dominadora. Era um teatro de marionetes de pano vagabundo.

A sombra pronúnciou meu nome com uma voz grossa, cheguei até a me arrepiar, e pegou na minha mão, com outra mão grossa e maior que a minha, mãos cheias de vontade, e se levantou, era uma sombra maior que eu. A sombra partiu para o meu quarto, aquele das janelas arregaçadas. Eu tinha um vício pelo frio. E me deixou ali, eu olhei para a lua e contei a ela sobre um sonho que não lembro agora, naquele momento eu devia estar inconsciente ou devia estar realmente dominado pelo charme da sombra. A lua me sussurrou outros de seus segredos, segredos que também faziam parte de mim, e eu resolvi ir para o meu quarto também, onde a sombra se instalava já emanando aquela vontade incansável de tocar em mim.

E já não era mais sombra, na cama já era um homem alto, forte e com uma beleza demoníaca, iluminado pela lua que entrava em meu quarto, por causa das janelas de mais de três metros abertas, as cortinas ainda dançavam, parecia um castigo, e eu parecia o sangue de uma presa, fora de seu corpo, ainda fervendo. Eu estava prestes a respirar, mas o homem não deixou.

Fui pressionado contra a parede e sufocado, ele pôs suas mãos ásperas no meu pescoço, me deixando sem nada, e mordeu com força meus lábios ressecados, puxando-os, e tirou meu pijama, me deixando só de cueca, assim como ele. No meio das suas pernas estava seu sexo enorme e ereto, com a cabeça melando o pano, sendo roçado no meu, me senti completamente fraco, não por falta de vitaminas, mas porque eu queria ser completamente abduzido por aquele corpo tão fervente, que queimava minha pele pálida e cheia de sinais, me reduzia à cinzas.

Ele me jogou na cama, e ficou em cima de mim, esfregando sua cintura no meu rosto corado, eu passava a língua por cima da sua cueca, enlouquecido com aquele calor sem fim. Até que ele arredou o pano melado para o lado e enfiou com força o seu pênis na minha boca, me deixando mais sem ar do que já estava. Era mais quente do que o seu corpo, grosso, da cor da sua pele, com as veias pulsando nos meus lábios, e a cabeça socando a minha garganta, o pré-sêmen ardendo na minha língua, e aquele vai-e-vem cretino, seu pênis era doce e ao mesmo tempo salgado, tinha um cheiro estranho, devia ser cheiro de desejo. Ele estava literalmente fodendo a minha boca.

O homem soltava gemidos histéricos, aquilo satisfazia os meus ouvidos, até que um jato de esperma, como se fosse lava incandescente, rasgou minha garganta insaciável, e ele saiu de cima de mim, mas não estava nem um pouco cansado, e me puxou contra o seu corpo, eu provei cada pedaço daqueles músculos que pareciam maiores a cada lambida, seu pênis ainda estava enorme e duro, pulsando mais do que nunca. Ele me beijou como um cachorro, sentindo o sabor do próprio sexo na minha boca, até o meu hálito o excitava, e fiquei todo molhado da sua saliva.

Agora uma contagem regressiva visitava a minha mente, mesmo que naqueles minutos eu não conseguia pensar muito bem.

5

O homem me atirou contra a parede mais uma vez, ainda provando do meu corpo, estava extremamente fora de si, seguia somente os seus instintos, como um lobisomem honrando a luz da lua, aliás esse era o seu papel e seu dever. E meteu a boca nem tão carnuda nem tão fina no meu sexo. Seus lábios, sua língua, sua garganta, e até seus dentes me sugavam.

4

Sua saliva agora estava em cada pedaço de mim, até na minha alma, só o meu coração não alcançava o gosto da sua baba. E me mordeu, me mordeu enlouquecidamente, como se fosse um canibal. E eu descobri o seu nome. Ele não me disse. Nem eu perguntei. Eu senti o seu nome.

3

O homem dançava envolto em meu corpo, até me deixar de quatro, e me abraçou por trás, primeiro mordiscando minha orelha, depois beijando meu pescoço, chegando na minha nuca, me arrepiando. Ainda deixando rastros de saliva nas minhas costas, eu estava fedendo a suor e saliva. E chegou na minha cintura, no início das minhas nádegas suadas, mordendo-as sem dó, abrindo-as com a mão, e metendo sua língua dos deuses no meio delas. Eu gemi, não aguentava mais ser torturado, eu queria aquele homem dentro de mim.

2

Mas ele não cansava de me torturar, melou um dedo seu com a sua baba, após ter enfiado a mão inteira na minha boca, e foi colocando dentro das minhas nádegas, eu sentia cada centímetro me invadindo, como se numa descoberta proibida eu fosse a terra que ele cavava. Depois dois dedos, depois três, até que ele achou que eu estava suficiente pronto para receber o seu pênis na minha bunda, na verdade eu já estava pronto desde o início.

1

E ele me abraçou de novo, sempre me beijando, me deixando à flor-da-pele, e foi penetrando seu sexo enorme em mim, eu gritei de dor e prazer, empurrando meu corpo contra o dele, querendo mais. Seus músculos pesados atrás de mim, ele me invadindo carinhosamente. E quando tudo entrou, ele começou a ir e vir sem dó, eu gritava mais com aquela dor aguda estranhamente prazerosa, e ele gemia mais sentindo meu calor contrair seu pênis. Nosso suor se misturou, nossas vozes se misturaram, nossos corpos se misturaram, a noite, as cortinas, as poucas estrelas, o cheiro de mar, todos se misturaram em nós, furiosos de sexo.

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Ele gozou novamente, dentro, o seu esperma se tornava parte de mim, eu fiz o mesmo, um jato que saía de mim manchava a cama enquanto ele brincava com meu sexo, ele tirou seu sexo devagar, ainda aproveitando cada segundo, e logo nos deitamos, cansados, suados, nem fomos tomar um banho, preferimos ficar assim, nos beijando carinhosamente durante a madrugada. Eu dormi em seus braços musculosos.

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A janela ainda aberta me deu a luz forte do sol, as cortinas levemente paradas, eu ainda estava com cheiro de sexo, com o cheiro dele. Ele que um dia foi a pessoa mais especial do mundo.
Por ontem e por hoje, é só.



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Andrew Oliveira, ou Black Cherry :)
Um pequeno conto erótico pra vocês (:
Negrito