Existe um domínio
Numa praia dos céus
Suspenso
Sobre o pêndulo de amores
da areia da praia de sal
Eis o meu feitiço
E a minha paixão.
Numa praia dos céus
Suspenso
Sobre o pêndulo de amores
da areia da praia de sal
Eis o meu feitiço
E a minha paixão.
Num tempo em que Bruxas Escuras viviam escondidas em outras dimensões, por medo do preconceito e das chacinas que as Bruxas Claras causavam a estas, e também para manterem suas linhagens na cronologia das eras, príncipes, reis e Demônios passaram a cultuar as suas novas vizinhas. Conhecê-las, convidá-las para festivais e, até mesmo amá-las.
Sorath, um aprendiz de Demônio, deveria passar por uma provação para ter seu próprio reino, seus próprios chifres, símbolos de respeito e liderança. Ele deveria abdicar de uma parte muito importante de sua alma para ser iniciado no Ritual de Provação.
Quando ele percebeu, o sangue e a dor já tomavam conta do seu corpo. E nos seus braços, o pedaço de sua alma jazia morta. O pagamento para o treinamento de um futuro Demônio. Saroth, seu oposto, seu irmão gêmeo, o amor de uma pequena, ingênua e melancólica bruxa.
O pagamento estava feito, e qual seria o próximo passo?
~
1323
Inanna ergueu o corpo da areia funda e macia da caverna, tocou nas palmas das mãos com os dedos. Estavam frias. Pôs uma das palmas sobre a boca e arfou. O ar estava frio. Arrancou suas roupas e ficou nua. Tocou no ventre, e sentiu. Puxou os cabelos com força até arrancá-los e encharcar o couro cabeludo com sangue, mas as longas madeixas negras cresceram de novo. Mas seu corpo nunca mais cresceria. Teria aquela forma infantil pelo resto de sua eternidade.
Pois agora ela jamais conseguiria morrer.
Ela se sentou numa pedra, parou para ouvir a brisa suave do deserto carregado de areia fina e afiada, num assovio quase imperceptível. E tomou uma decisão. Afinal, ela não poderia ficar se lamentando pela maldição que agora estava dentro da sua alma. Ela iria atrás de Sorath.
Inanna saiu da caverna e começou a caminhar, descalça, esfarrapada e desnutrida, naquele deserto morno e estranho. O sol estava alí, despencado no horizonte como um relógio a marcar sempre a mesma hora. Mais como a escuridão do que como a luz. Ela sentiu uma ferroada no pé e viu um escorpião cravar-lhe a cauda negra no calcanhar. Tirou-o e o mastigou, faminta, o veneno escorrendo da boca. Ela precisava de uma carne farta e gordurosa que a nutrisse, mas no momento tudo o que havia eram escorpiões, serpentes e outras criaturas menos agradáveis de se digerir. Ou, ao menos, que apenas uma imortal conseguisse digerir.
Inanna ouviu um estrondo, olhou para trás ao mesmo tempo em que a caverna se ruía e se fechava com grossas pedras, tornando-se um amontoado de rocha e cinza no meio de um mar de areia. Então era essa a intenção? Torná-la imortal para assim aprisioná-la e deixá-la alí, esfomeada, sozinha e sem nenhuma esperança de alguém que pudesse libertá-la?
Ela não conhecia mais sua irmã. Aquela criatura horrenda, furiosa e mesquinha não era Hecate. Hecate era carinhosa, compreensiva, sempre falava frases soltas que futuramente serviam como conselhos, embora as vezes temperamental. Mas nada que chegasse naquele nível de ódio e rancor, movidos por uma manivela de intenções chamada Sorath.
Como Hecate poderia ter sido influenciada tão facilmente? Como, de uma hora para outra, sua irmã se transformara numa inimiga?
Pois a dinastia Inasumi agora deserdara Inanna. Do contrário, seu pai estaria procurando aos quatro cantos daquele mundo para encontrá-la. Ela sabia disso, sabia desde o momento em que vira os soldados do seu pai ao lado de Hecate, com Sorath rindo baixinho, de escárnio, deleitando-se com o seu triunfo. Ele provavelmente se tornaria o queridinho dos Inasumi, o marido perfeito para Hecate. Com a morte de Saroth, ele não teria obstáculos. E futuramente, sem ninguém perceber, o patriarca Inasumi estaria morto e Sorath já seria dono de suas posses, e do seu exército. Era esse o plano? Pois tudo aquilo era tão previsível. Hecate via o futuro, porque ela não estava vendo isso também?
Que fossem para os infernos. Ela não se importava com mais ninguém a não ser a si mesma. Enganaram-na, traíram-na, e depois a deserdaram sem dar tempo para que ela explicasse qualquer coisa. No final eram todos egoístas e viam apenas seus próprios objetivos pisando em cima dos menores. Inanna era uma peça inútil, obviamente ela seria descartada. Por que ela não pensou nisso antes? Agora tudo se encaixava tão bem...
Porque se Inanna se casasse com Saroth, ele, o verdadeiro príncipe das verdades, seria o favorito do patriarca Inasumi, seu pai. Hecate iria para longe morar nas Dimensões dos Demônios com Sorath, e Sorath só obteria ela, enquanto Saroth seria o futuro patriarca Inasumi, dono de terras infinitas e de um exército amendrontador e respeitado por qualquer mundo que ele fosse. E quem sairia ganhando com sua bondade e sua gentileza seria Saroth. Sorath teria de lutar séculos para obter ao menos um terço da riqueza que a dinastia Inasumi tinha. Sorath afinal foi inteligente. Descartou dois empecilhos do seu caminho e agora, não seria apenas mais um Demônio entre tantos, seria um Demônio líder de uma dinastia poderosa que sobreviveu com orgulho à Guerra das Dimensões.
E quanto à Hecate?
Inanna sentiu vergonha da irmã, e depois desprezo, culminando num ódio. Que mulher estúpida, enganada tão facilmente pelo amor...
Mas Hecate também pagaria com o mesmo preço, Hecate não sairia impune. Ela não tinha mais medo algum da irmã e dos seus segredos de futura xamã. Ela riu consigo mesma. De repente, rir assim, de escárnio, lhe fazia bem. Rir daquela forma mascarava a feiúra das suas intenções. Vingança, justiça, preços...
Ela entrou num colapso interno de decisões. Mas de uma coisa ela agora tinha certeza. Faria todos eles pagarem por seus atos, cada um, até o mais fraco soldado. Da sua irmã à Sorath, do seu pai à dinastia Inasumi. Ela extinguiria qualquer um que tivesse seu sangue, qualquer um que estivesse relacionado aos acontecimentos que se sucederam.
Quem eles pensavam que eram para lhes tirar a vida mortal, a sua felicidade, o seu amor? Num dia ela era uma pequena bruxa adolescente de treze anos descobrindo o amor carnal pela primeira vez. No outro, era uma bruxa perigosa e fugitiva, que supostamente matou o seu amante, cegou a mãe e eclodiu o ódio entre os Inasumis.
Sim, ela cegou a mãe, a mãe mereceu. A mãe não tinha o direito sobre o seu corpo. O seu corpo era o seu santuário, não o da mãe. A dívida de Selene já estava paga, ela estava cega, catatônica, um vegetal numa cadeira de balanço, sendo cuidada e banhada todos os dias por Hecate, lá, naquela mansão tão perto das colinas, de um campo cheio de dentes-de-leão azuis, antílopes gigantes, Lordes-Leões que dialogavam ora ou outra com os homens, e um eterno pôr-do-sol. Nunca o noite. Jamais o silêncio.
Imortal?
Sim, mesmo fraca, frágil e faminta, seu coração jamais pararia de bater. Ele agora estava negro, como a bruxa Escura que era, como a mulher que se tornara.
Inanna mordeu o pulso do braço esquerdo com força e fez sangrar. Gotejando o líquido denso e escarlate na areia, atraindo com seu cheiro saboroso de inumana mais escorpiões. Ela pegou todos que apareceram, um por um, os mastigou e engoliu o veneno com afinco. E então segurou o pulso com a mão direita, orando para os seus desejos.
- Hiperion, eis o pagamento. Me ajude, me proteja, me leve para aquele que destruiu meu destino.
O sangramento exacerbado de Inanna parou, junto com a abertura da pele rasgada que se fechava em segundos. Um ponto negro surgiu no horizonte e saltou tão rapidamente que Inanna teve tempo apenas de prender a respiração antes que Hiperion entrasse no seu estômago e a levasse para outro lugar.
Ela sentiu um gosto salino na boca e uma ardência nos olhos.
O solo estava macio e úmido, gelado nas costas, ela afundou as mãos na areia e por um momento se esqueceu qual era a sua vontade naquele lugar. O sol estava mais perto, o mar era verde, branco e espumoso. Inanna teve a sensação de que esmeraldas estavam afundadas naquele mar, ou quem sabe já pertencessem a ele? Ao longe, do lado contrário ao mar esverdeado, um ponto alaranjado crepitava. Ela podia sentir o cheiro amadeirado queimando no ar, Sorath estava acampando alí. Ele estaria com Hecate? Que Hecate fosse para os infernos, azar o dela ter de assistir a desgraça do seu amante.
Inanna se sentiu ainda mais frágil e vulnerável do que quando fugiu pela primeira vez, antes da profecia da sua vida se realizar. Mas ela não estava mais dando importância para isso. O pior castigo se tornara sua maior arma.
Sim, Hecate estava lá, ela reconheceu de longe os cabelos negros e lustrosos presos num coque e o corpo alto e curvilíneo, harmônico no vestido negro de mangas e rendas finas. E antes que Inanna pudesse fazer qualquer coisa, Hecate a viu e começou a correr em sua direção, o coque se desfez e os cabelos enormes ondularam ao vento salgado e faíscaram sobre os raios do sol. Inanna virou-lhe as costas e chamou, com um assovio, as gaivotas.
- Birde lamya eyya!
As gaivotas voaram para cima de Hecate, empurrando-a para o mar, tentando cegá-la, enquanto Inanna, agora livre para agir, corria para o acampamento, em direção à fogueira, para perto do seu inimigo, atacando inconsequentemente como o peão de uma frente de batalha. O mar esmeraldino ficou mais agitado, Sorath surgiu numa névoa escura e ela pulou sobre o seu pescoço, entrelaçando suas pernas na cintura do demônio e regurgitando todo o veneno de escorpião que bebera em cima do seu corpo.
Sorath a jogou no chão mas ela ainda não havia desistido. Ele gritou escandalosamente enquanto sua pele chiava e seus olhos se cegavam. Inanna subiu no seu corpo mais uma vez e arrancou com as próprias mãos os chifres que ainda se desenvolviam, fazendo seu rosto deformado receber um banho de sangue das crateras que agora ocupavam sua cabeça, o rosto da menina agora ensanguentado também. Sorath buscou uma adaga que tinha presa por um bolso de couro na calça e enfiou com força no ventre de Inanna, ela caiu estrondosa na areia, urrou de dor, e viu um pedaço de rocha, afiado e cristalino, à sua espera.
Vamos, mate-o, a hora é agora, suba no seu corpo, mate-o, bruxa, mate-o e não tenha piedade nem do seu espírito.
Tu és a bruxa, a bruxa da noite, a bruxa com a alma mutilada, com a alma em chamas. Como era que Selene chamava aquelas que eram traídas pelas próprias teias do destino. Aquelas que sobreviviam à água e ao ar, às noites mais secas e os dias mais frios? Sim, é o que tu és. Vamos, chamada Inanna com a alma flamejando em ódio e imortalidade.
Uma bruxa de fogo.
Inanna levantou, cambaleante, vomitando sangue e produzindo bolhas escarlates cada vez que tossia, mas com o pedaço de rocha firme na mão direita. Sorath lhe penetrou a adaga novamente, ainda tentando suportar as queimaduras que não paravam de aprofundar na pele do seu rosto, pescoço e ombros.
- Com isto, não terás mais filhos nem com a magia mais poderosa. - Ele riu, mesmo que sua situação estivesse pior que a de Inanna.
As pálpebras de Inanna ficaram molhadas de algum líquido mais escuro e denso. Ela estava chorando. Mas não era o mar. Era o sentimento de ausência.
Ela largou o pedaço de rocha enquanto Sorath rasgava ainda mais seu ventre, fazendo suas pernas se banharem em sangue enquanto ela produzia gritos roucos e chorosos. Era hora de chegar ao seu limite. Ela não poderia matá-lo, mas poderia castigá-lo.
E só precisou de um único chamado para o sangue gotejando nas suas pernas e fluindo da sua garganta parasse. E sua ferida enorme no ventre, se fechasse.
- Hiperion...
- Inanna. - A pantera negra não surgiu num salto amedrontador, mas sua voz se fez presente na cabeça da menina.
- Arranque a vida no ventre de Hecate.
Foram apenas sussurros, mas Sorath, agora cego e frágil, ouviu com nitidez.
- Não! Não! NÃO! NÃO OUSE TOCAR EM HECATE!
Foi a vez de Inanna rir. Rir... Quão estranha era a situação e no entanto ela sentiu vontade de rir do desespero patético de Sorath, que caiu de joelhos e começou a chorar como um menino perdido numa floresta infestada de demônios. Hiperion surgiu no litoral da praia, saltando com suas patas e músculos e os pelos negros cintilando no estranho sol do horizonte, daquele mar esmeraldino que assistia Hecate ser violentada por centenas de gaivotas enfeitiçadas.
As gaivotas se afastaram com a presença da deusa e deixaram a Inasumi mais velha alí, abandonada nas ondas, manchando a água esverdeada com a sua água avermelhada. Hiperion se aproximou agora a passos calmos, embora a situação fosse de extremo desespero. O grito de Hecate poderia ser ouvido a quilômetros quando o Deus Terreno lhe abocanhou o ventre e arrancou seu pequeno feto, eficaz, veloz e cruel. As mandíbulas e as narinas de Hiperion bufaram fumaça, e depois ela abriu a bocarra úmida para cima, para o céu, tirando as cinzas do bebê da sua boca. Inanna por um momento achou que veria as estrelas e a noite novamente, e mesmo que seu peito apertasse, e mesmo que ela fosse imortal, sentiu vontade de ver aquilo novamente, a sua maldição que lhe era tão bela. Ela entrou no mesmo estado de transe em que estivera quando ordenou que Hiperion, o Impiedoso, arrancasse os olhos da mãe, enquanto ouvia os gritos de Hecate deitada nas bordas da areia que era enxaguada a todo segundo pela espuma do mar, usando todas as suas forças para fechar o ventre mutilado, ela também nunca mais conseguiria ter filhos. Então era esse o anel? A última parte da profecia? O anel simbolizava o ciclo de desgraças que o toque de Frigga causava? Ela não conseguia mais pensar nisso, o choro aterrador de Sorath ao seu lado, cego e com fontes de sangue brotando das feridas onde estiveram os chifres, lhe perturbava.
Inanna se levantou, tonta, fraca e arquejante, os órgãos abertos dentro do corpo, estragos da adaga de Sorath, sangrando e se debatendo, e a ferida da sua barriga já fechada, o que ela faria pra conseguir curar tudo aquilo? Imaginou que o Deus Terreno fechasse as feridas internas também, mas ele, como o próprio nome já dizia, era Hiperion, o Impiedoso, ele tomou apenas o sangue necessário para realizar o feitiço que ela lhe solicitara. Nem um pouco mais, nem um pouco menos.
Mas ela continuou, caindo e levantando, para perto da irmã agora infértil, com o filho assassinado e o amante destruído. Já era o bastante para Inanna curar a dor da traição e da morte de Saroth? Quem sabe ela poderia matar Hecate também...
E a atitude mais imprevisível aconteceu, Hecate não lhe atacou, não lhe rogou nenhuma praga, tampouco invocou qualquer Deus Terreno para destruir cada pedacinho de Inanna e fazê-la sofrer com sua impossibilidade de morrer. Hecate se pôs de quatro e ergueu um braço, e com o outro, segurando o ventre ainda se fechando com a mão esquerda que curava de forma tortuosa e lenta. Mas então ela abaixou o braço e lhe fitou com a expressão mais triste e desesperada que uma bruxa poderia fazer. Suas lágrimas eram a da Virgem Maria carregando Jesus Cristo desfalecido e surrado nos braços finos, o corpo frio e a face, uma moldura de madeira e sangue entalhada com uma coroa de espinhos, com seus cílios longos submersos em poeira e os lábios secos e rachados como a terra mais árida, um pequeno mundo perdido em pele descascada. Os seus cabelos negros e molhados, o véu de um luto prematuro. A diferença era que não havia mais filho algum dentro dela.
- Eu iria levar Sorath para longe, para que a profecia não se completasse... - ela abaixou a cabeça, arquejou e gritou, como se ainda estivesse sentindo a mordida de Hiperion arrancando-lhe a sua menina.
Inanna ouviu aquilo como uma pancada na cabeça, e caiu ajoelhada na praia, os braços frouxos e o olhar embaçado, os cabelos secos e embaraçados com tanto sangue. Ela era uma concha vazia.
- Por que não me falastes nada?
- Por que não me destes tempo pra falar?
As gaivotas estavam distantes, pequenos pontos aqui e acolá rodeando o oceano de esmeraldas.
- Tu não me destes chance alguma também, não? - uma lágrima escorreu do olho esquerdo, embora ela não tivesse se dado conta disso. - Me destruiu, me odiou, e eu já não sei mais se ainda és... Minha amada irmã.
Hecate gritou de novo, mesclado ao choro e aos soluços, fundindo-se na tela crepuscular atrás dela, sendo azul e laranja desbotado, e um pouco de vermelho para enfrentar o verde. Nem uma xamã conseguia controlar as forças das lágrimas e da dor da perda.
- É estranha a forma que o amor tece o que fazemos, o que poderemos fazer, ou o que nunca teríamos coragem de fazer, não é, irmã?
Inanna nada falou, apenas a olhou sem querer olhar.
- O que poderia acontecer, se nada disso houvesse se realizado?
Hecate se deitou agora mais longe da espuma do mar que chiava e borbulhava, mais perto de Inanna.
- Hecate?
- Sim?
- O que é o anel da profecia? É tudo isso ou...
- É o famoso anel de esmeralda de Frigga. - ela arfou e voltou a falar. - Ele foi feito aqui, nessa praia, num tempo em que anjos se apaixonavam por deuses e bruxas. Um arcanjo de nome Metatron buscou a esmeralda mais bela e a fundiu num anel do ouro mais raro.
"Metatron entregou aos homens que cultuavam a deusa Frigga, a senhora da fertilidade, do nascimento e da maternidade, para que eles presenteassem Frigga e lhes trouxessem mais filhos saudáveis. Mas uma bruxa infértil roubou do altar de bronze feito para Frigga, o altar da Corte do Coração, e tentou invocá-la, para que esta lhe trouxesse uma forma da bruxa conseguir ter uma filha e um filho, e continuar sua linhagem."
"A deusa apareceu, mas em vez de bondosa e compreensiva, surgiu regada em fúria e sobressalto. Ela lhe entregou a cura para sua infertilidade, mas em troca, pela sua ousadia e egoísmo em ter roubado o anel, teria que dar outra coisa para Frigga se sentir satisfeita."
"A deusa então lhe disse: nenhuma mulher da tua família poderá criar sua primogênita, do contrário, elas só causarão desgraça e maldições à tua linhagem, feitiços que nenhuma eternidade poderá desfazer, pois tua linhagem será grande, e as filhas de tuas filhas serão poderosas, tão poderosas que uma delas mal conseguirá controlar seus poderes. E teu sobrenome a partir de hoje será CoeurCourt, a Corte do Coração, o altar do teu furto, da tua glória e da maldição que permeará por séculos, até que uma de tuas distantes filhas consigam finalmente destruir o anel presenteado a mim. A minha esmeralda bordada com ouro, feita por Metraton, símbolo da religião dos homens por mim."
Hecate se sentiu sonolenta. Se ela dormisse agora, dormiria para sempre?
- E se conseguirmos o anel? - Inanna tocou nos lábios, mal acreditando no que acabara de falar, quebrando totalmente a atmosfera de tristeza e luto daquele crepúsculo ao lado de Hecate.
- A profecia estará completa.
- Ele ainda sequer existe?
- Ele só vai deixar de existir quando a última CoeurCourt deixar de existir, irmã.
E a Inasumi mais velha adormeceu.
1323
Inanna ergueu o corpo da areia funda e macia da caverna, tocou nas palmas das mãos com os dedos. Estavam frias. Pôs uma das palmas sobre a boca e arfou. O ar estava frio. Arrancou suas roupas e ficou nua. Tocou no ventre, e sentiu. Puxou os cabelos com força até arrancá-los e encharcar o couro cabeludo com sangue, mas as longas madeixas negras cresceram de novo. Mas seu corpo nunca mais cresceria. Teria aquela forma infantil pelo resto de sua eternidade.
Pois agora ela jamais conseguiria morrer.
Ela se sentou numa pedra, parou para ouvir a brisa suave do deserto carregado de areia fina e afiada, num assovio quase imperceptível. E tomou uma decisão. Afinal, ela não poderia ficar se lamentando pela maldição que agora estava dentro da sua alma. Ela iria atrás de Sorath.
Inanna saiu da caverna e começou a caminhar, descalça, esfarrapada e desnutrida, naquele deserto morno e estranho. O sol estava alí, despencado no horizonte como um relógio a marcar sempre a mesma hora. Mais como a escuridão do que como a luz. Ela sentiu uma ferroada no pé e viu um escorpião cravar-lhe a cauda negra no calcanhar. Tirou-o e o mastigou, faminta, o veneno escorrendo da boca. Ela precisava de uma carne farta e gordurosa que a nutrisse, mas no momento tudo o que havia eram escorpiões, serpentes e outras criaturas menos agradáveis de se digerir. Ou, ao menos, que apenas uma imortal conseguisse digerir.
Inanna ouviu um estrondo, olhou para trás ao mesmo tempo em que a caverna se ruía e se fechava com grossas pedras, tornando-se um amontoado de rocha e cinza no meio de um mar de areia. Então era essa a intenção? Torná-la imortal para assim aprisioná-la e deixá-la alí, esfomeada, sozinha e sem nenhuma esperança de alguém que pudesse libertá-la?
Ela não conhecia mais sua irmã. Aquela criatura horrenda, furiosa e mesquinha não era Hecate. Hecate era carinhosa, compreensiva, sempre falava frases soltas que futuramente serviam como conselhos, embora as vezes temperamental. Mas nada que chegasse naquele nível de ódio e rancor, movidos por uma manivela de intenções chamada Sorath.
Como Hecate poderia ter sido influenciada tão facilmente? Como, de uma hora para outra, sua irmã se transformara numa inimiga?
Pois a dinastia Inasumi agora deserdara Inanna. Do contrário, seu pai estaria procurando aos quatro cantos daquele mundo para encontrá-la. Ela sabia disso, sabia desde o momento em que vira os soldados do seu pai ao lado de Hecate, com Sorath rindo baixinho, de escárnio, deleitando-se com o seu triunfo. Ele provavelmente se tornaria o queridinho dos Inasumi, o marido perfeito para Hecate. Com a morte de Saroth, ele não teria obstáculos. E futuramente, sem ninguém perceber, o patriarca Inasumi estaria morto e Sorath já seria dono de suas posses, e do seu exército. Era esse o plano? Pois tudo aquilo era tão previsível. Hecate via o futuro, porque ela não estava vendo isso também?
Que fossem para os infernos. Ela não se importava com mais ninguém a não ser a si mesma. Enganaram-na, traíram-na, e depois a deserdaram sem dar tempo para que ela explicasse qualquer coisa. No final eram todos egoístas e viam apenas seus próprios objetivos pisando em cima dos menores. Inanna era uma peça inútil, obviamente ela seria descartada. Por que ela não pensou nisso antes? Agora tudo se encaixava tão bem...
Porque se Inanna se casasse com Saroth, ele, o verdadeiro príncipe das verdades, seria o favorito do patriarca Inasumi, seu pai. Hecate iria para longe morar nas Dimensões dos Demônios com Sorath, e Sorath só obteria ela, enquanto Saroth seria o futuro patriarca Inasumi, dono de terras infinitas e de um exército amendrontador e respeitado por qualquer mundo que ele fosse. E quem sairia ganhando com sua bondade e sua gentileza seria Saroth. Sorath teria de lutar séculos para obter ao menos um terço da riqueza que a dinastia Inasumi tinha. Sorath afinal foi inteligente. Descartou dois empecilhos do seu caminho e agora, não seria apenas mais um Demônio entre tantos, seria um Demônio líder de uma dinastia poderosa que sobreviveu com orgulho à Guerra das Dimensões.
E quanto à Hecate?
Inanna sentiu vergonha da irmã, e depois desprezo, culminando num ódio. Que mulher estúpida, enganada tão facilmente pelo amor...
Mas Hecate também pagaria com o mesmo preço, Hecate não sairia impune. Ela não tinha mais medo algum da irmã e dos seus segredos de futura xamã. Ela riu consigo mesma. De repente, rir assim, de escárnio, lhe fazia bem. Rir daquela forma mascarava a feiúra das suas intenções. Vingança, justiça, preços...
Ela entrou num colapso interno de decisões. Mas de uma coisa ela agora tinha certeza. Faria todos eles pagarem por seus atos, cada um, até o mais fraco soldado. Da sua irmã à Sorath, do seu pai à dinastia Inasumi. Ela extinguiria qualquer um que tivesse seu sangue, qualquer um que estivesse relacionado aos acontecimentos que se sucederam.
Quem eles pensavam que eram para lhes tirar a vida mortal, a sua felicidade, o seu amor? Num dia ela era uma pequena bruxa adolescente de treze anos descobrindo o amor carnal pela primeira vez. No outro, era uma bruxa perigosa e fugitiva, que supostamente matou o seu amante, cegou a mãe e eclodiu o ódio entre os Inasumis.
Sim, ela cegou a mãe, a mãe mereceu. A mãe não tinha o direito sobre o seu corpo. O seu corpo era o seu santuário, não o da mãe. A dívida de Selene já estava paga, ela estava cega, catatônica, um vegetal numa cadeira de balanço, sendo cuidada e banhada todos os dias por Hecate, lá, naquela mansão tão perto das colinas, de um campo cheio de dentes-de-leão azuis, antílopes gigantes, Lordes-Leões que dialogavam ora ou outra com os homens, e um eterno pôr-do-sol. Nunca o noite. Jamais o silêncio.
Imortal?
Sim, mesmo fraca, frágil e faminta, seu coração jamais pararia de bater. Ele agora estava negro, como a bruxa Escura que era, como a mulher que se tornara.
Inanna mordeu o pulso do braço esquerdo com força e fez sangrar. Gotejando o líquido denso e escarlate na areia, atraindo com seu cheiro saboroso de inumana mais escorpiões. Ela pegou todos que apareceram, um por um, os mastigou e engoliu o veneno com afinco. E então segurou o pulso com a mão direita, orando para os seus desejos.
- Hiperion, eis o pagamento. Me ajude, me proteja, me leve para aquele que destruiu meu destino.
O sangramento exacerbado de Inanna parou, junto com a abertura da pele rasgada que se fechava em segundos. Um ponto negro surgiu no horizonte e saltou tão rapidamente que Inanna teve tempo apenas de prender a respiração antes que Hiperion entrasse no seu estômago e a levasse para outro lugar.
Ela sentiu um gosto salino na boca e uma ardência nos olhos.
O solo estava macio e úmido, gelado nas costas, ela afundou as mãos na areia e por um momento se esqueceu qual era a sua vontade naquele lugar. O sol estava mais perto, o mar era verde, branco e espumoso. Inanna teve a sensação de que esmeraldas estavam afundadas naquele mar, ou quem sabe já pertencessem a ele? Ao longe, do lado contrário ao mar esverdeado, um ponto alaranjado crepitava. Ela podia sentir o cheiro amadeirado queimando no ar, Sorath estava acampando alí. Ele estaria com Hecate? Que Hecate fosse para os infernos, azar o dela ter de assistir a desgraça do seu amante.
Inanna se sentiu ainda mais frágil e vulnerável do que quando fugiu pela primeira vez, antes da profecia da sua vida se realizar. Mas ela não estava mais dando importância para isso. O pior castigo se tornara sua maior arma.
Sim, Hecate estava lá, ela reconheceu de longe os cabelos negros e lustrosos presos num coque e o corpo alto e curvilíneo, harmônico no vestido negro de mangas e rendas finas. E antes que Inanna pudesse fazer qualquer coisa, Hecate a viu e começou a correr em sua direção, o coque se desfez e os cabelos enormes ondularam ao vento salgado e faíscaram sobre os raios do sol. Inanna virou-lhe as costas e chamou, com um assovio, as gaivotas.
- Birde lamya eyya!
As gaivotas voaram para cima de Hecate, empurrando-a para o mar, tentando cegá-la, enquanto Inanna, agora livre para agir, corria para o acampamento, em direção à fogueira, para perto do seu inimigo, atacando inconsequentemente como o peão de uma frente de batalha. O mar esmeraldino ficou mais agitado, Sorath surgiu numa névoa escura e ela pulou sobre o seu pescoço, entrelaçando suas pernas na cintura do demônio e regurgitando todo o veneno de escorpião que bebera em cima do seu corpo.
Sorath a jogou no chão mas ela ainda não havia desistido. Ele gritou escandalosamente enquanto sua pele chiava e seus olhos se cegavam. Inanna subiu no seu corpo mais uma vez e arrancou com as próprias mãos os chifres que ainda se desenvolviam, fazendo seu rosto deformado receber um banho de sangue das crateras que agora ocupavam sua cabeça, o rosto da menina agora ensanguentado também. Sorath buscou uma adaga que tinha presa por um bolso de couro na calça e enfiou com força no ventre de Inanna, ela caiu estrondosa na areia, urrou de dor, e viu um pedaço de rocha, afiado e cristalino, à sua espera.
Vamos, mate-o, a hora é agora, suba no seu corpo, mate-o, bruxa, mate-o e não tenha piedade nem do seu espírito.
Tu és a bruxa, a bruxa da noite, a bruxa com a alma mutilada, com a alma em chamas. Como era que Selene chamava aquelas que eram traídas pelas próprias teias do destino. Aquelas que sobreviviam à água e ao ar, às noites mais secas e os dias mais frios? Sim, é o que tu és. Vamos, chamada Inanna com a alma flamejando em ódio e imortalidade.
Uma bruxa de fogo.
Inanna levantou, cambaleante, vomitando sangue e produzindo bolhas escarlates cada vez que tossia, mas com o pedaço de rocha firme na mão direita. Sorath lhe penetrou a adaga novamente, ainda tentando suportar as queimaduras que não paravam de aprofundar na pele do seu rosto, pescoço e ombros.
- Com isto, não terás mais filhos nem com a magia mais poderosa. - Ele riu, mesmo que sua situação estivesse pior que a de Inanna.
As pálpebras de Inanna ficaram molhadas de algum líquido mais escuro e denso. Ela estava chorando. Mas não era o mar. Era o sentimento de ausência.
Ela largou o pedaço de rocha enquanto Sorath rasgava ainda mais seu ventre, fazendo suas pernas se banharem em sangue enquanto ela produzia gritos roucos e chorosos. Era hora de chegar ao seu limite. Ela não poderia matá-lo, mas poderia castigá-lo.
E só precisou de um único chamado para o sangue gotejando nas suas pernas e fluindo da sua garganta parasse. E sua ferida enorme no ventre, se fechasse.
- Hiperion...
- Inanna. - A pantera negra não surgiu num salto amedrontador, mas sua voz se fez presente na cabeça da menina.
- Arranque a vida no ventre de Hecate.
Foram apenas sussurros, mas Sorath, agora cego e frágil, ouviu com nitidez.
- Não! Não! NÃO! NÃO OUSE TOCAR EM HECATE!
Foi a vez de Inanna rir. Rir... Quão estranha era a situação e no entanto ela sentiu vontade de rir do desespero patético de Sorath, que caiu de joelhos e começou a chorar como um menino perdido numa floresta infestada de demônios. Hiperion surgiu no litoral da praia, saltando com suas patas e músculos e os pelos negros cintilando no estranho sol do horizonte, daquele mar esmeraldino que assistia Hecate ser violentada por centenas de gaivotas enfeitiçadas.
As gaivotas se afastaram com a presença da deusa e deixaram a Inasumi mais velha alí, abandonada nas ondas, manchando a água esverdeada com a sua água avermelhada. Hiperion se aproximou agora a passos calmos, embora a situação fosse de extremo desespero. O grito de Hecate poderia ser ouvido a quilômetros quando o Deus Terreno lhe abocanhou o ventre e arrancou seu pequeno feto, eficaz, veloz e cruel. As mandíbulas e as narinas de Hiperion bufaram fumaça, e depois ela abriu a bocarra úmida para cima, para o céu, tirando as cinzas do bebê da sua boca. Inanna por um momento achou que veria as estrelas e a noite novamente, e mesmo que seu peito apertasse, e mesmo que ela fosse imortal, sentiu vontade de ver aquilo novamente, a sua maldição que lhe era tão bela. Ela entrou no mesmo estado de transe em que estivera quando ordenou que Hiperion, o Impiedoso, arrancasse os olhos da mãe, enquanto ouvia os gritos de Hecate deitada nas bordas da areia que era enxaguada a todo segundo pela espuma do mar, usando todas as suas forças para fechar o ventre mutilado, ela também nunca mais conseguiria ter filhos. Então era esse o anel? A última parte da profecia? O anel simbolizava o ciclo de desgraças que o toque de Frigga causava? Ela não conseguia mais pensar nisso, o choro aterrador de Sorath ao seu lado, cego e com fontes de sangue brotando das feridas onde estiveram os chifres, lhe perturbava.
Inanna se levantou, tonta, fraca e arquejante, os órgãos abertos dentro do corpo, estragos da adaga de Sorath, sangrando e se debatendo, e a ferida da sua barriga já fechada, o que ela faria pra conseguir curar tudo aquilo? Imaginou que o Deus Terreno fechasse as feridas internas também, mas ele, como o próprio nome já dizia, era Hiperion, o Impiedoso, ele tomou apenas o sangue necessário para realizar o feitiço que ela lhe solicitara. Nem um pouco mais, nem um pouco menos.
Mas ela continuou, caindo e levantando, para perto da irmã agora infértil, com o filho assassinado e o amante destruído. Já era o bastante para Inanna curar a dor da traição e da morte de Saroth? Quem sabe ela poderia matar Hecate também...
E a atitude mais imprevisível aconteceu, Hecate não lhe atacou, não lhe rogou nenhuma praga, tampouco invocou qualquer Deus Terreno para destruir cada pedacinho de Inanna e fazê-la sofrer com sua impossibilidade de morrer. Hecate se pôs de quatro e ergueu um braço, e com o outro, segurando o ventre ainda se fechando com a mão esquerda que curava de forma tortuosa e lenta. Mas então ela abaixou o braço e lhe fitou com a expressão mais triste e desesperada que uma bruxa poderia fazer. Suas lágrimas eram a da Virgem Maria carregando Jesus Cristo desfalecido e surrado nos braços finos, o corpo frio e a face, uma moldura de madeira e sangue entalhada com uma coroa de espinhos, com seus cílios longos submersos em poeira e os lábios secos e rachados como a terra mais árida, um pequeno mundo perdido em pele descascada. Os seus cabelos negros e molhados, o véu de um luto prematuro. A diferença era que não havia mais filho algum dentro dela.
- Eu iria levar Sorath para longe, para que a profecia não se completasse... - ela abaixou a cabeça, arquejou e gritou, como se ainda estivesse sentindo a mordida de Hiperion arrancando-lhe a sua menina.
Inanna ouviu aquilo como uma pancada na cabeça, e caiu ajoelhada na praia, os braços frouxos e o olhar embaçado, os cabelos secos e embaraçados com tanto sangue. Ela era uma concha vazia.
- Por que não me falastes nada?
- Por que não me destes tempo pra falar?
As gaivotas estavam distantes, pequenos pontos aqui e acolá rodeando o oceano de esmeraldas.
- Tu não me destes chance alguma também, não? - uma lágrima escorreu do olho esquerdo, embora ela não tivesse se dado conta disso. - Me destruiu, me odiou, e eu já não sei mais se ainda és... Minha amada irmã.
Hecate gritou de novo, mesclado ao choro e aos soluços, fundindo-se na tela crepuscular atrás dela, sendo azul e laranja desbotado, e um pouco de vermelho para enfrentar o verde. Nem uma xamã conseguia controlar as forças das lágrimas e da dor da perda.
- É estranha a forma que o amor tece o que fazemos, o que poderemos fazer, ou o que nunca teríamos coragem de fazer, não é, irmã?
Inanna nada falou, apenas a olhou sem querer olhar.
- O que poderia acontecer, se nada disso houvesse se realizado?
Hecate se deitou agora mais longe da espuma do mar que chiava e borbulhava, mais perto de Inanna.
- Hecate?
- Sim?
- O que é o anel da profecia? É tudo isso ou...
- É o famoso anel de esmeralda de Frigga. - ela arfou e voltou a falar. - Ele foi feito aqui, nessa praia, num tempo em que anjos se apaixonavam por deuses e bruxas. Um arcanjo de nome Metatron buscou a esmeralda mais bela e a fundiu num anel do ouro mais raro.
"Metatron entregou aos homens que cultuavam a deusa Frigga, a senhora da fertilidade, do nascimento e da maternidade, para que eles presenteassem Frigga e lhes trouxessem mais filhos saudáveis. Mas uma bruxa infértil roubou do altar de bronze feito para Frigga, o altar da Corte do Coração, e tentou invocá-la, para que esta lhe trouxesse uma forma da bruxa conseguir ter uma filha e um filho, e continuar sua linhagem."
"A deusa apareceu, mas em vez de bondosa e compreensiva, surgiu regada em fúria e sobressalto. Ela lhe entregou a cura para sua infertilidade, mas em troca, pela sua ousadia e egoísmo em ter roubado o anel, teria que dar outra coisa para Frigga se sentir satisfeita."
"A deusa então lhe disse: nenhuma mulher da tua família poderá criar sua primogênita, do contrário, elas só causarão desgraça e maldições à tua linhagem, feitiços que nenhuma eternidade poderá desfazer, pois tua linhagem será grande, e as filhas de tuas filhas serão poderosas, tão poderosas que uma delas mal conseguirá controlar seus poderes. E teu sobrenome a partir de hoje será CoeurCourt, a Corte do Coração, o altar do teu furto, da tua glória e da maldição que permeará por séculos, até que uma de tuas distantes filhas consigam finalmente destruir o anel presenteado a mim. A minha esmeralda bordada com ouro, feita por Metraton, símbolo da religião dos homens por mim."
Hecate se sentiu sonolenta. Se ela dormisse agora, dormiria para sempre?
- E se conseguirmos o anel? - Inanna tocou nos lábios, mal acreditando no que acabara de falar, quebrando totalmente a atmosfera de tristeza e luto daquele crepúsculo ao lado de Hecate.
- A profecia estará completa.
- Ele ainda sequer existe?
- Ele só vai deixar de existir quando a última CoeurCourt deixar de existir, irmã.
E a Inasumi mais velha adormeceu.
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Black Cherry
Arte: Nicole Absher
Witch Fire essa serie é muito boa, uma das melhores que eu já li, por favor continue postando eu to adorando...
ResponderExcluirEssa historia é sua mesmo se for tu tem que procura um editora pra publicar logo, eu também tenho uma historia de bruxa só que é em outro estilo...
se a historia for tu mesmo eu posso divulgar, claro se você deixar,todos tem que lê essa historia, meu email é renatoboyy@live.com entre em contato...
Enviei uma resposta pra você. E obrigado por ler minha série. Eu pausei agora por falta de tempo devido a minha faculdae, mas em breve o último capítulo sairá :)
ResponderExcluirAh, e sim, essa série é minha sim, assim como tudo que está no blog,com exceção da tag "Entre Autores", que são de outros escritores, trechos de livros ou músicas traduzidas ;)
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