Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Melancolia

As mesmas pessoas de sempre, alguns professores do ano passado, e muitos, muitos professores novos. Subi a escada, autoconfiante, com minha calça Damyller comprada com muita pressão sobre mamãe, o moletom do ano passado do meu irmão, e meu uniforme também do ano passado, ainda sem a camisa do Convênio, representando um ponto alto da minha vida. Um ponto alto da minha vida? Sim, talvez o melhor e o pior, eu ainda não tenho tanta certeza. Subi os andares como sempre subi durante o ano de 2010, com um pouco de indiferença, um pouco de ojeriza, e uma centelha de alegria.


Dia 25 de janeiro, terça-feira, primeiro dia de aula do meu Terceiro Ano do Ensino Médio naquele colégio. Quarta-feira também chegou, e logo falei tudo o que tinha pra falar com Aureana, e consegui reatar minha amizade com ela.

E eu me definho, a cada dia me sinto um completo fracassado, sinto que nunca vou ser reconhecido pela minha escrita, sinto que não sou um escritor de verdade, e que só coloca lorotas num blog que ninguém lê. É, é assim que a minha auto-estima está, mais ferida do que estivera há um certo tempo atrás. Mas não, isso não tem nada haver com o que foi dito anteriormente, tem haver agora apenas comigo.


Você não é mais uma criança, Black Cherry.


Black Cherry? Sim, eu nasci ano passado, quando meu Andrew não quis mais saber da vida real, e agora reside num quartinho branco com pisos escuros escrevendo poemas doces de amor, enquanto eu o protejo daqui. Mas eu também estou começando a ficar cansado. É cansativo ser seu próprio escudo.


Segunda-feira, sete de fevereiro, já estou com meu uniforme do convênio. Um episódio de Glee havia cantado One Of Us, uma música antiga que meu cérebro memorizou na infância, da cantora Joan Osborne, e eu resolvo baixá-la. Assim fico, ouvindo quase que somente essa música durante dias.


E se Deus fosse um de nós? Bem, eu não sou muito religioso, mas eu acredito em Deus, e acredito no poder dessa música. Não acho que ela seja gospel, ela apenas se questiona sobre Deus como um ser humano, sofrendo cotidianos conturbados e correndo para pegar o ônibus como nós. Deus, aposto que o Senhor não faz ideia do sofrimento que a gente passa, o Senhor só faz assistir, não é? O Senhor é o poder absoluto, não precisa fazer nada, só precisa que as pessoas acreditem em Você para que Você se fortaleça. Mas eu gosto do Senhor, gosto sim, eu o amo porque preciso amá-lo, e eu preciso da força que o Senhor tem me dado durante esses dias tão cheios de melancolia e silêncios incômodos, só tenho a minha alma para oferecer, sabe disso, não é? Eu sei que sim.


Cheguei mais um dia na escola, da qual só estou lá pelo ensino. Com minhas botas da Boots Company, meu uniforme novo, minha calça cara da Damyller (hehehe), e minha mochila dada pelo meu irmão. Sentei perto da Aureana, e assim meu dia se passou. No intervalo, fiquei com Lívia, e conhecendo pessoas novas andando com Aureana.


Chegou a hora da saída, desci as escadas na mesma lerdeza de sempre, com meu cérebro frito e minha Planta Carnívora Cerebral ouvindo música comigo, dançando lentamente, só ela pode ficar dançando nesse momento.


Enfim pisei no andar térreo, e ouvi uma guitarra distorcida, as notas de One Of Us ecoando muito mais alto do que eu poderia imaginar, e não estavam vindo do meu fone, eram ao vivo! E uma multidão logo se apertou fazendo um círculo no meio da rua, e dentro do círculo, uma banda musical.


Uma voz doce, parecida com a de Joan Osborne, só que mais grossa, mais masculina e bucólica, cantava o refrão como ninguém. O dia estava nublado, e eu fui me aproximando devagar, nesse dia minha mãe disse que eu voltaria pra casa de ônibus, então não teria problema ficar mais um pouco para assistir. O que era mais estranho é que as pessoas se afastavam quando eu me aproximava, abrindo espaço para mim, e eu logo me encontrei com o vocalista.


Era mais alto do que eu, e tinha uma barba rala, cabelos grossos, lisos e tão negros que doía até mesmo naquele céu cansado. Seus olhos eram arregalados, como o de um gato, e podia se ver o contraste entre as cores castanho e verde, ele estava usando sombra nos olhos, uma calça de couro preta, e uma camisa branca. O amplificador de som estava ficando mudo, e eu só ouvia a voz dele, aquela voz que me deixou extasiado por tanto tempo.


Eu o conhecia, ele era meu, apenas meu, e estava cantando na frente de toda a escola para mim. Ele sabia que eu estava triste, e estava cantando especialmente para mim, para me animar, ele me amava, eu sabia disso. Eu queria sentir o gosto da sua boca, e no instrumental da música eu senti, e depois me aproximei de Lívia e Aureana, e sorri para elas. A outra olhava distante, não com inveja e ressentimento, apenas com uma expressão de que nunca mais iria me ver, e que não precisava mais da minha amizade, ou o que um dia, pelo menos eu, chamei de amizade.


Eu estava bem, estava tudo acabado, eu era o Andrew de volta.


- Cereja, você está bem? - Perguntou Aureana.


- Minha planta carnívora está com sede.


- Você está mal, não é?


- Acho que sim. Mas eu sonhei que uma pessoa parava o mundo inteiro com One Of Us, apenas para mim, isso me deixou melhor. - Eu sorri, é claro, não poderia pedir mais do que isso.







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Black Cherry e Andrew Oliveira

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