Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sábado, 5 de dezembro de 2009

Vespertine - Capitulo 5: Undo




Nina colocou olhos de vidro no lugar onde seus olhos originais deveriam estar, mas estes ocuparam-se demais logo ao amanhecer quando avistaram aquele pedaço de céu que escorregou de um paraíso vespertino. Não foram os melhores olhos que Nina já tivera, pois estes já a deixaram cega há tempos.

A tarde estava se iniciando, e Nina queria ouvir de novo o que o anjo acabara de lhe dizer. Um peso veio no seu peito, sentiu uma culpa incurável pela morte de Sofia. Ela queria reviver Sofia, sim, queria muito, mesmo que isso lhe custasse a vida.

- A minha vida... Ela já não tem tanta importância... - Divagou.
- Não fale assim Nina, seu coração é puro, você não deve desistir agora. - Animou o anjo.
- Estou cansada de lutar.
- Uma hora todos nós cansamos, e precisamos deitar, mas não para o sono eterno.
- Eu quero dormir e nunca mais acordar.
- Você tem mesmo certeza?
- Tenho.
- Então pegue a minha mão.
- E para onde vamos?
- Para o lugar de origem deste pedaço de céu que invadiu a terra.

Não tinha muita certeza do que estava vendo, se eram vários objetos ou notas musicais se dispersando e debatendo umas contra as outras durante uma estranha viagem que fazia seu corpo sentir-se leve, quase sem peso algum. Nina flutuava, estava com medo de abrir os olhos, afinal, nunca se acostumou em abri-los. Segurava firmemente a mão do anjo que a levava para um local sobre a terra, um local de paz e guerra, de paixão e receio, tão parecida com nosso mundo, mas com uma energia extremamente oposta, uma energia que fazia as guerras de lá pararem rapidamente e os momentos de paz se prolongarem. Mesmo que Nina ainda não houvesse entrado lá, ela já sabia de tudo, pois já sentia em seu coração vulnerável.

A mão do anjo parecia estar mais fria, mais distante, Nina prendeu a respiração, e a corrida ficou mais rápida, ela queria enxergar o externo dessa vez, mas os olhos ardiam muito, o anjo prosseguia concentrado na viagem, não parou sequer um segundo para olhar para Nina, pois sua mão quente afirmava que ela ainda estava lá, esperando ansiosa para onde iria direcionar seus olhos de vidro.

Olhos formados pelo vento, pelo amor, pela dor. Olhos que por alguma razão se transformaram em vidro. Violinos e violoncelos anunciavam canções jogadas ao vento daquele túnel ou escada, “É Stáralfur, avisando sobre nossa chegada” - Disse o anjo para a mente de Nina, mas Nina estava tão dopada com tudo aquilo que resolveu sentir o doce sabor do ar que a dominava em vez de dar atenção ao anjo.

O som dos violoncelos e violinos se dissiparam, desfizeram-se, o ar doce, a rapidez do anjo, tudo ficou parado, uma luz intensa vasculhava os olhos de vidro de Nina, lá longe, havia uma porta. Nina passou a caminhar junto com a presença celeste ao seu lado ainda segurando sua mão, pouco a pouco a porta ia se abrindo, lentamente, a cada passo, num corredor de apenas uma direção, o silêncio foi lambido pelo som de uma caixa de músicas que Nina conhecia, sim, Nina conhecia aquele som melhor do que ninguém, aquela música era pra ela. Frosti era para Nina, a música composta por Sofia, de seu orvalho congelado no inverno.

E a porta se abriu por completo.

Um comentário:

  1. texto, fotos, cores...tudo de uma perfeição que assusta!!!aplausos de pé!!!!

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