Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Artista da alma: Emilie Simon



Olá pessoal, desculpem a demora de Vespertine, mas hoje o cantinho da vez vai ser para a dócil Emilie Simon./

Emilie Simon é uma autêntica cantora francesa que passou a ser mais conhecida no mundo da música em 2003, com seu primeiro álbum, intitulado com seu próprio nome, não poderia ser outro, pois desde aí ela já mostrou ser uma explosão de sentimentos amorosos, surreais, juntando com um sopro frio e infantil de sua voz.
Logo após, chegou Végetal, um mitológico álbum onde já se apresenta Alicia, uma planta carnívora ou até mesmo Medusa, a deusa que foi transformada em um monstro pelos ciúmes de Atenas perante a Zeus.
Também compôs a trilha sonora de A Marcha dos pinguins, onde se encontra a nostálgica e desprotegida The Frozen World, seria o nosso mundo tão gelado ao ponto de nós nos mecanizarmos com a artificialidade e não percebermos isso?

E, então, chega The Big Machine, a grande máquina que impõe o processo de robotização do ser humano, as pessoas tele-guiadas, a alienação moderna, etc. Neste, Emilie muda totalmente a maneira de cantar, o andamento da músicas e maneira que estas são feitas, se antes a moça usava cordas, passou a usar instrumentos de sopro que realmente são marcantes como no início da fuga da personagem desejando sair da grande máquina em Rainbow, a abertura do álbum.

Ouçam, vocês vão gostar ;)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Vespertine - Capitulo 5: Undo




Nina colocou olhos de vidro no lugar onde seus olhos originais deveriam estar, mas estes ocuparam-se demais logo ao amanhecer quando avistaram aquele pedaço de céu que escorregou de um paraíso vespertino. Não foram os melhores olhos que Nina já tivera, pois estes já a deixaram cega há tempos.

A tarde estava se iniciando, e Nina queria ouvir de novo o que o anjo acabara de lhe dizer. Um peso veio no seu peito, sentiu uma culpa incurável pela morte de Sofia. Ela queria reviver Sofia, sim, queria muito, mesmo que isso lhe custasse a vida.

- A minha vida... Ela já não tem tanta importância... - Divagou.
- Não fale assim Nina, seu coração é puro, você não deve desistir agora. - Animou o anjo.
- Estou cansada de lutar.
- Uma hora todos nós cansamos, e precisamos deitar, mas não para o sono eterno.
- Eu quero dormir e nunca mais acordar.
- Você tem mesmo certeza?
- Tenho.
- Então pegue a minha mão.
- E para onde vamos?
- Para o lugar de origem deste pedaço de céu que invadiu a terra.

Não tinha muita certeza do que estava vendo, se eram vários objetos ou notas musicais se dispersando e debatendo umas contra as outras durante uma estranha viagem que fazia seu corpo sentir-se leve, quase sem peso algum. Nina flutuava, estava com medo de abrir os olhos, afinal, nunca se acostumou em abri-los. Segurava firmemente a mão do anjo que a levava para um local sobre a terra, um local de paz e guerra, de paixão e receio, tão parecida com nosso mundo, mas com uma energia extremamente oposta, uma energia que fazia as guerras de lá pararem rapidamente e os momentos de paz se prolongarem. Mesmo que Nina ainda não houvesse entrado lá, ela já sabia de tudo, pois já sentia em seu coração vulnerável.

A mão do anjo parecia estar mais fria, mais distante, Nina prendeu a respiração, e a corrida ficou mais rápida, ela queria enxergar o externo dessa vez, mas os olhos ardiam muito, o anjo prosseguia concentrado na viagem, não parou sequer um segundo para olhar para Nina, pois sua mão quente afirmava que ela ainda estava lá, esperando ansiosa para onde iria direcionar seus olhos de vidro.

Olhos formados pelo vento, pelo amor, pela dor. Olhos que por alguma razão se transformaram em vidro. Violinos e violoncelos anunciavam canções jogadas ao vento daquele túnel ou escada, “É Stáralfur, avisando sobre nossa chegada” - Disse o anjo para a mente de Nina, mas Nina estava tão dopada com tudo aquilo que resolveu sentir o doce sabor do ar que a dominava em vez de dar atenção ao anjo.

O som dos violoncelos e violinos se dissiparam, desfizeram-se, o ar doce, a rapidez do anjo, tudo ficou parado, uma luz intensa vasculhava os olhos de vidro de Nina, lá longe, havia uma porta. Nina passou a caminhar junto com a presença celeste ao seu lado ainda segurando sua mão, pouco a pouco a porta ia se abrindo, lentamente, a cada passo, num corredor de apenas uma direção, o silêncio foi lambido pelo som de uma caixa de músicas que Nina conhecia, sim, Nina conhecia aquele som melhor do que ninguém, aquela música era pra ela. Frosti era para Nina, a música composta por Sofia, de seu orvalho congelado no inverno.

E a porta se abriu por completo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vespertine - Capítulo 4: It's not up to you



Acordar talvez não tenha sido a melhor ideia do mundo, mas não acordar seria uma ideia ainda pior. Acordar para o mundo já é um grande desafio, acordar para a realidade fria e sem cor. Acordar com uma ânsia, um vazio que te dá o gosto do próprio estômago. E não acordar? Viver sempre de sonhos e esperanças? Seria tão ruim assim pegar um pedaço dos olhos de Deus e colocar no teto da terra? Um pedaço do céu?

Nina não havia se perguntado desde que acordara porque aquele pedaço celeste estava alí, talvez já estivesse acostumada com a ideia de um mundo onírico, mas por causa de um terrível acontecimento havia esquecido como eram os olhos do deus em que ela já acreditara em outrora, e aquele pedaço pregado sob o teto da terra não era mais do que uma bela imagem projetada pela natureza, e não deixava de ser.

O anjo que descia dali era pálido, parecia estar com frio, suas asas batiam lentamente hipnotizando Nina como magia, descia como se estivesse em uma escada, gracioso e cheio de gestos, sorriso de criança, cabelos negros e lisos, mas não grandes. Parecia estar falando alguma coisa, mas Nina não ouvia, ela queria ouvir, sim, ela queria ouvir muito, mas não conseguia, o ferimento na cabeça era tão forte que não parava de sangrar, uma ânsia de vazio voltava para o seu corpo, pequenos choques a arrepiavam, seus olhos estavam fechando lentamente e aquele nevoeiro matutino estava voltando, em sua direção, muito claro, muito claro, claro demais...

- Nina? - A voz masculina soou tão dócil.
- Quem é você? - Perguntou Nina meio ainda meio inconsciente, esfregando os olhos para esquecer-se da intensa claridade.
- Sou um mensageiro, me chamo Paz.
- E o que a paz deseja neste mundo tão sórdido?
- Avisar à você sobre algo que ocorrerá daqui há poucos dias.
- É algo bom?
- Não.
- E por que a Paz quer avisar sobre algo que não é bom?
- A decisão não é minha. Só quero avisar que você não deve mais ficar olhando para o que já passou.
- E isso não é bom?
- Pra você, sim.
- Eu quero Sofia de volta, por favor, você deve ter algum poder pra isso.
- Já estava na hora de Sofia partir, Nina, tente entender isso.
- Eu não entendo, por que tantas pessoas morrem sob minhas mãos... - Entristeceu-se. - Ela era tão nova, não tinha que partir!
- Mesmo se ela não morresse hoje, Nina, amanhã ela morreria por outro acidente com toda a certeza.
- Eu... eu só não queria que ela morresse nas minhas mãos... - Chorou.
- Nina, eu sei de toda a sua história. Sei do seu marido que também faleceu de um acidente terrível. Mas celebrar a morte também faz parte da vida.

Nina chorava copiosamente na frente do anjo que a encarava compreensivo, já não aguentava mais tanta dor em sua vida. Desejava tanto que o mundo parasse para ela, mesmo sendo tanto egoísmo, mas só por alguns segundos, para sentir como é respirar livre novamente, como é ser livre, e não estar presa em sentimentos sombrios. Ela queria de novo o perfume doce de Sofia, e sua caixa de música que tocava sem parar, a companhia de seus amigos, o abraço quente de seu marido, Nina queria o mundo sorrindo de volta para ela, Nina queria demais. Mas estes já não eram os próprios sentimentos sombrios?

- O que você fará agora?
- Eu não farei nada, as decisões são suas, Nina. Viver ou tentar viver.
- Eu já não suporto mais... Tudo isso, todo esse movimento me dá tonturas.
- O mundo não pode parar para você, Nina. Mas se você quiser, você pode continuar caminhando sem parar.
- Dói tanto.
- Viver é uma dor, a pior e a melhor delas.
- E se você pudesse reviver Sofia?
- Eu teria que ter algo em troca.

Nina pensou ter ouvido uma bela canção sussurrada ao ritmo lento de uma harpa, uma voz chamava por ela, então, desafiou:
- Como o quê?

O anjo a encarou fixamente, mais uma vez, seus olhos perderam o brilho, ele não queria falar, mas sua boca pensou antes que ele pudesse raciocinar:
- Uma vida.