Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sábado, 16 de abril de 2011

Chuva



Eaí pessoal (?) que acompanha o meu blog. Como estão?

Ah, eu estou ótimo, melhor do que deveria aliás. Pois bem, espero que quem acompanha Oráculo das Feras esteja gostando da série, essa segunda parte em breve chegará ao seu fim, e eu presentearei vocês com uma pequena série de seis capítulos chamada Vidro. É um drama, nossa, há um bom tempinho não escrevo um drama, mas enfim.

Hoje choveu.

Bem, não choveu o dia inteiro e deixou o dia como uma roupa encharcada, mas choveu no final do dia. Eu saí da escola e já estava um tempo úmido, corri para a Cacau Show e comprei dois Monte Bellos, nossa, delícia. Depois peguei o ônibus e fui para casa. Quando saí, uma chuva do nada se materializou e me deixou molhadíssimo em questão de segundos, mas eu não corri. Não costumo correr ou ficar desesperado quando chove, aliás, eu adoro a chuva, tenho uma paixão profunda e infindável por ela. Como o sol ama a lua que ele nunca vê.

Eu gosto da ventania fria levando a chuva para lá e para cá, como ondas ora fortes ora fracas. Eu gosto das milhões de cortinas de água numa orquestra sem fim, prazer e melancolia. E dessa água pura umedecendo meus cachos e minhas roupas, como que chorando sobre mim. E dos trovões rugindo como leões numa batalha de um mundo oculto, anunciando a veneração de um deus impiedoso. E dos relâmpagos manchando as nuvens com luzes pálidas em questão de segundos, se contemplando antes mesmo de querer contemplar.

E de repente eu não estou mais ali, estou num mundo onde somente a chuva e essa ventania me consomem e tentam lavar a minha alma. A mãe soprando na ferida ardente no joelho do filho, que caiu da bicicleta por medo de andar sozinho. A chuva, a minha companheira, a minha amante, esse abraço tão congelante e ao mesmo tempo tão aconchegante, o meu peito até dói, uma sensação aguda que se propaga como um câncer e me corrói feito ácido fervente na pele. Mas ela está lá, ela está sempre lá, ela nunca me abandona, e ela sabia naquele exato instante que eu precisava dela, tanto quanto ela precisava de mim.

- Não chore. - Ela diz.

E eu não choro. O meu choro se afunda na minha garganta e tenta ferir o meu coração, mas ela o leva embora, ela transforma a água amarga em doce, ela o dilui e cuida bem dele, até ele estar preparado para se transformar num sorriso. Então ela me devolve, sob uma nova forma, e isso me aquece como o calor de um corpo sobre mim. Eu não preciso sorrir. Eu preciso apenas sentir.

Uma vez eu deixei meu coração cair, havia um buraco do tamanho de uma palma aberta em mim nesse dia. Eu o assisti, ele batia ora rápido ora devagar, numa asfixia desesperada. Ele estava negro como a madrugada numa cidade grande, sem estrelas ou cometas ou luas para iluminá-lo, apenas o negro. Na verdade, era uma camada de sangue negro sobre ele, manchando-o como se mancha uma camisa inacreditavelmente branca.

Eu peguei meu coração, e então a chuva veio.

- Coloque-o de volta onde ele deve estar. - ela disse. - Eu vou limpá-lo.

- Mas não se pode limpar um coração que já está doente. - eu sussurrei. - Eu não preciso mais dele como precisava antes.

- Não importa se ele está doente ou se tu acreditas que não tem mais necessidade dele. Ame-o apenas, e um dia ele irá se curar. Um dia ele também será o teu calor.

Não lembro do que aconteceu depois, mas a circunferência no meu peito havia desaparecido. E então o chiado da chuva voltou, e ficou mais forte, já que eu não lembrava mais de como era o som do amor. É, talvez ele tenha esse mesmo som, esse chiado, esse frio que é apenas frio, mas que te consola, e no final ele pode tanto te matar quanto te curar.

Eu não choro. A chuva chora por mim.







~







Andrew Oliveira em 14/04/11

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