Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

L'Amour


Axel sentiu uma enorme dor de cabeça, mas não houve grande alarde por isso, já estava habituado à ela. Era um daqueles homens de vinte e poucos anos com a barba rala e mal-feita, que anda pelas ruas das metrópoles sem eira nem beira, só faz beber durante a madrugada toda, cantar rock, e reclamar sobre o quanto a vida é injusta e o quanto ele é um pobre coitado do qual as pessoas deveriam valorizar mais, sim, ele era um homem patético. Saiu da sua posição de bruços para olhar quem estava ao seu lado naquela cama de um espaçoso apartamento, com o sol reluzindo numa cabeleira loira e um braço bronzeado jogado em algum canto da cama, a cabeleira loira provavelmente era de alguma prostituta, ou ex amante, ou só uma garota fácil e qualquer que não se ama o suficiente e vai trepar com um traste pra tentar esquecer a solidão. Axel suspirou e levantou da cama.

Se coçou e tirou a cueca branca colada no meio das nádegas, bocejando e indo para a cozinha, encontrando no caminho corpos e corpos jogados, ora nus ora suados ora feridos. Seu apartamento estava na baderna de sempre, cheio de garrafas e roupas jogadas no chão, pessoas nuas nos sofás pretos e na cozinha, odor de vômito nos dois banheiros, e mais corpos nas banheiras, um abajur quebrado e um celular dentro da pia.

Pegou o cafeteira e a pôs para funcionar, aliás, nem havia lavado as mãos ou a boca ainda, apesar do odor de suor e vagina no seu corpo malhado. O telefone tocou, de mesma forma irritante e ressonante de sempre, que dava a louca fantasia para Axel de atirá-lo contra a parede. Mas ele não poderia fazer isso, era uma estrela do rock, aliás, uma das mais bem-sucedidas até então. E foi mais fácil atender do que parecia.

- Senhor Axel? - Perguntou a voz.

- Sim? - Bocejou Axel.

- Senhor, teremos uma entrevista hoje com a Interview, e...

- Eu não vou me atrasar, não se preocupe, Dan. - Respondeu sem ter tanta certeza disso.

A outra linha se desligou, Axel passou o resto do dia expulsando os convidados da festa da noite anterior, e só tomou um banho no fim da tarde, enquanto a empregada arrumava seu apartamento. Pegou uma toalha e cobriu da cintura pra baixo, andando livremente por lá. Entrou no seu quarto, tirou uma calça de couro preta do closet, e a pôs sem cueca alguma, apertando seu sexo e suas nádegas, deixando-os bastante ressaltados para as fotografias.

"Eu já estou indo", dizia a sua mensagem, enquanto colocava sua jaqueta também preta, e depois indo para o espelho passar sombra nos olhos.

Axel era daquelas estrelas do rock cheias de si, acreditando seriamente que era o maior ícone dos seus tempos, bem, não era exatamente assim, mas os seus supostos amigos sempre conseguiam que ele permanecesse cego desse jeito. O centro do mundo, o umbigo de todos.

Não lembrou muito bem das cenas depois de ter saído da limusine, na verdade só tinha o presente agora. O chão de Nova York estava frio e úmido, com o cheiro de esgoto despertando-o num beco escuro, ah, agora ele havia lembrado um pouco, estava injetando drogas em si. Gostava daquilo, gostava de fugir da realidade para entrar num mundo onde apenas as sensações e os orgasmos espirituais são a regra, pra ser sincero ele nunca realmente enfrentou a vida real como deveria. Sempre fora mimado e egoísta, o que fazia os integrantes da sua banda pensarem seriamente em abandoná-lo. Alguém o puxou.

- Axel? Você é mesmo o Axel da banda L'Amour? - Sobressaltou-se um adolescente, como se tudo aquilo fosse algo de outro mundo. - Nossa! Eu sou seu fã! O que você está fazendo aqui?

- Bem, eu não lembro muito disso, sabe...

- Entre - Convidou mostrando uma porta logo ali perto, provavelmente estava tirando o lixo. -, aqui fora está muito frio.

- Obrigado mas eu...

- Eu insisto.

Axel bufou alguma coisa mas entrou, e rezou para si mesmo desejando que aquele não fosse algum fã com uma bomba ou uma pistola prestes a ser usada na sua linda cabeça, enfim. O lugar era pequeno mas aconchegante, e o cantor logo tratou de sentar no sofá, abrindo as pernas e evidenciando algo grande entre elas. O garoto trouxe a ele um café.

- Não, obrigado.

- Mas você estava naquele frio...

- Tudo bem, tudo bem. - Respondeu agora um pouco irritado pelo garoto ser insistente demais. - Qual é o seu nome, garoto?

- Matthew. - Sorriu Matthew.

- Que nome bonito. - Falou Axel depois de bebericar um gole de café. - Bem... não há muito o que fazer por aqui, não? - E franziu a testa avaliando o local onde estava.

- Bem... - Gaguejou o adolescente.

- Quantos anos você tem? - Bocejou o cantor.

- Dezoito. - Falou Matthew triunfante.

Axel olhou à sua volta evidenciando nenhum sinal de perigo, e se levantou. Puxou Matthew pela camisa e lhe tascou um beijo, sentindo a recíproca rapidamente, com seu hálito de café e sua barba rala roçando naquela pele lisa e bronzeada, tão bronzeada quanto aquela loira, aliás. Matthew tinha cabelos negros cacheados e esvoaçantes, como coisas fofas flutuando em cima de sua cabeça, os cílios grossos e a boca fina, que era extremamente engolida pela de Axel, e o corpo magro e baixo, fazendo-o ter que olhar para o teto para ver o cantor.

- Isso é um sonho.

Axel o carregou e o jogou naquela cama de solteiro, tirando sua jaqueta e sentindo sua calça de couro apertar. Rasgou a camisa de Matthew e o acariciou de todas as formas possíveis, e claro, recebendo uma longa dose de sexo oral do jovem. Axel estava num estado de transe, uma espécie de inconsciência consciente, e tão logo penetrando violentamente no seu par daquela madrugada.

Acordou de novo uma semana depois, dessa vez não para ir em festas ou entrevistas ou partir em turnê mundial, mas para um simples médico. Se sentia nervoso, é claro. As estradas pareciam mais longas, mas ele breve chegou numa clínica particular. Pegou um cafézinho e sentiu uma sensação de nostalgia, jurou ter escutado alguém falar "Matthew". Esqueceu e entrou.

- Senhor Axel, bom dia. - Sorriu um médico grisalho.

- Bom dia. - Respondeu Axel não convincente.

- Bem, eu chamei o senhor porque precisamos ter uma conversa.

- Onde estão meus exames?

- Estão aqui.

- Me dê.

- Senhor Axel...

- Me dê, eu já falei.

O médico, relutante, entregou um envelope para Axel, que não parecia demonstrar qualquer sentimento naquela hora. Ele abriu e leu, e claro, saiu daquele lugar. Passando pelo corredor, ouviu novamente o nome Matthew, e depois um garoto magro correndo e passando por ele sem qualquer sinal de respeito e admiração.

Axel era um daqueles homens que pouco se importavam se iriam morrer ou definhar numa escuridão, continuando sem parar naquela estrada densa e fria, algo que talvez ele mesmo escolheu, ou não teve escolha, tanto faz. Talvez a vida não tenha sido cruel o suficiente com ele.

O astro pegou sua guitarra e cantou num francês escandaloso, no sofá do seu apartamento que cheirava a sexo masculino, enquanto tragava um cigarro e o gelo do seu drink derretia no copo. Cantou algo que mais parecia uma lamúria, mas era uma letra feliz, não de total felicidade, é claro, apenas uma constatação.

Viva a nossa festa, viva a nossa maldita festa, ode à Aids.









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Andrew Oliveira

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