Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

sábado, 2 de janeiro de 2010

Vespertine - Capítulo 6: Pagan Poetry




- Você lembra do dia em que nos conhecemos, Matthew? - Indagou Nina.
- Em todos os detalhes... Você era tímida, apertou minha mão de forma tão suave que me senti bem comigo mesmo.
- Não seja tão exagerado. - Riu.
- Eu não estou sendo. Mas, Nina, eu preciso te falar uma coisa que descobri faz pouco tempo.
- É muito grave?
Nina desbotou seu sorriso para uma expressão séria, no banco do passageiro enquanto Matthew carinhosamente dirigia seu carro.
- Sim.
- Por favor, me diga que isso tem solução.
- Infelizmente não. Eu estou com um tumor muito grande no meio do meu cérebro, e a operação é muito cara e arriscada.
- Por favor, me diga que você vai continuar comigo, você vai ficar bem, e todos vamos superar isso... Eu, eu não posso perder o controle agora. - Desciam como numa ladeira, as doces lágrimas de Nina.
O automóvel era locomovido devagar por Matthew, um homem com o máximo de auto-controle.
- Eu não quero que a gente gaste a poupança de nosso filho por mim, se eu terei que partir, então que assim seja.
- Não fale assim, eu não vejo outra alternativa.
- Eu quero que você consiga viver sem mim, Nina.
- Pare de falar assim.
- Eu sei que você consegue. Agora nós não podemos pagar a operação, então eu tenho pouco tempo de vida, era isso que eu tinha pra te contar.
- Pare... Pare de falar assim.
Matthew estacionou o carro num canto qualquer para abraçar Nina em seus braços protetores.

Começou a nevar numa simetria conjunta com a apresentação que Sofia fazia dançando balé graciosamente, como um cisne prestes a suspirar sua última e mais bela canção de sua vida.
A sua caixa de música estava alí, perto dela, sempre gostava de dançar com suas próprias canções, aos seis anos já era um prodígio no balé.
A luz ficou mais forte, mais intensa, Sofia sentiu um nervosismo percorrer-lhe as entranhas, sua visão oscilava e passou a embaçar, uma tontura consumia sua consciência, Sofia desmaiu no meio do palco, várias pessoas levantaram para ajudar, sua mãe foi a primeira que correu em direção ao anjo desprotegido.
- Sofia! Sofia! Acorde filha!
Sofia abriu lentamente seus dóceis olhos cinzas.

- Mamãe? O que aconteceu?
O mundo parecia estar voltando a se movimentar
- Oh minha filha, você desmaiou. - Disse aliviada agarrando-a em seus braços. - Tenho que levá-la ao médico depois, estou preocupada com você nesses últimos dias, vamos para casa.
- Tá bom. - Sorriu a voz infantil e inocente.

Estava num silêncio confortante e nostálgico na casa de Nina e Matthew, somente barulhos de louças de cozinha invadiam o ar puro e matutino daquela casa isolada do mundo. Um bolo estava sendo cuidadosamente preparado pelo homem, até que uma dor terrível na cabeça o impediu que continuasse a fazê-lo:
- Nina! Nina! Minha cabeça! - Gritou.
Nina levantou da cama, ainda era cedo, o relógio apontava para às 5 horas e trinta minutos, um raio solar se permitia penetrar pela majestosa janela da sala do centro da casa. Matthew desmaiou.
- Matthew! Oh meu Deus, Matthew
Matthew não aguentava a dor insuportável na cabeça, e começou a chorar.
- Eu, eu estou bem, só me leve lá pra fora, eu quero respirar um pouco de ar;
- Tá... Tá bom, venha.
Nina o apoiou em seus ombros, cambaleante, até que finalmente chegaram na porta. Poucos raios solares já invadiam os rostos despertados e entorpecidos, andaram até um banco perto do lago que se habitava ao lado da casa.
- Matthew... - Chorou Nina.
- Vamos ver o nascer do sol? - As lágrimas se dispersavam pelo rosto.

Parecia que um mundo estava nascendo, saindo do ventre da Deusa Aurora, um brilho único que aquecia até o corpo mais frio, até o corpo mais desesperançoso, um brilho que levava a vida e a celebração do amor, um brilho que resplandecia pelo chão, invadia casas e passava pelas cortinas, um brilho que expulsava até o último pedaço de escuridão.
Esse brilho buscava a vida de Matthew, e o nascer do sol.

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