Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vespertine - Capítulo 2: Generous Palmstroke



Nina despertou como sempre sem algum sinal de entusiasmo, uma enxaqueca confundia sua cabeça já confusa por uma série de episódios que ela preferia não lembrar. O fumegante café já estava pronto, e seus goles lentos a atrasavam para mais um dia de divagações e dilemas.
Abriu a janela para respirar e e tentar pôr os sentimentos em ordem, era difícil, mas era também um desafio. Avistou o imenso pedaço do céu, o dia mal começou, e ela já estava pensando na noite.
- Por que esta beleza tão inocente polui nossos olhos? Não somos merecedores dela. - Disse para si mesma.
Mas não importava o que a moça dissesse, ele permanecia alí, persuadindo-a a recordar de sua vida sem vida.
Os olhos hazel de Nina queriam chamuscar um soluço de tristeza, mas ela engoliu, destemida, não queria lembrar de mais nada, só queria esquecer, e tentar ressurgir das cinzas como uma fênix, ou como um cisne negro à beira da morte.

Existiam muitas Ninas dentro de Nina, todas carregando um peso maior do que elas mesmas, uma dessas Ninas não gostava de acordar, detestava o sol e qualquer rastro de iluminação, vivia numa intensa escuridão sem fim que cegava até mesmo seu tato. Sua escuridão era sua alma gêmea. Penteava lentamente seus sedosos cabelos na frente do espelho, seu reflexo era um eco, uma mancha, talvez fosse mais fácil colocar uma máscara e correr fingindo uma fraca redenção, devota ao escapismo, Nina preparou-se para sair de seu casulo, ou sua casa.

O caminho era sempre estreito, pois sua moradia ficava um pouco mais distante da cidade grande, um nevoeiro leve tomava conta das estradas enquanto a moça se locomovia pelo seu velho carro. Nina não gostava de nevoeiros, eles lembravam de coisas que ela fugia por ter medo de se reprimir novamente nas sombras. Mas sequer haviam sombras nas estradas, era tudo estranhamente branco e calmo, dando a impressão de que Deus deixou escorregar uma parte do paraíso, existia mesmo o paraíso?

Nina era racional, detestava religiões e algumas vezes sua personalidade explodia, mas por algum motivo passou um ano sussurrando sozinha dentro de sua casa, talvez para acomodar o silêncio, ou a felicidade vazia que transbordava de seus poros e passava a se comunicar com o mundo real. O caminho ainda percorria pelos pneus até que alguns prédios começaram a ficar visíveis, o nevoeiro foi passado para trás, e ela sentiu-se aliviada.



Decidiu comprar logo os suprimentos para sobreviver sozinha na única casa afastada da cidade grande, nunca ganhou o apelido de caipira pela respeitável dignidade que tinha em seu meio social, e sempre que podiam,seus amigos a visitavam, para espantar o tédio ou simplesmente consumidos pelo impulso de vê-la, Nina tinha uma áurea confortante e fraternal, já dizia sua amiga Sofia.

Sofia sofria de uma doença degenerativa nos olhos, hereditária, e passava parte do dia tocando em sua caixa de música, onde as engrenagens e notas eram visíveis pela transparência, era a única caixa assim, feita pelo seu pai especialmente para a menina. A inocência de Sofia era preservada pela sua mãe, que presenteou a filha com uma coruja branca. Sua mãe lhe dizia que a coruja a protegeria se ela se perdesse, mas Sofia não tinha medo do desconhecido, mesmo quando sua visão ainda era boa. Falava que o desconhecido fazia parte de sua alma

Nina buzinava prontamente na frente da casa de Sofia, mas não houve algum sinal de vida. Seus suprimentos já estavam na mala, então decidiu entrar. Somente uma janela estava aberta na casa, as cortinas desta dançavam com a brisa que advertiam sobre uma futura tempestade, a moça ouviu um som já típico da casa, leve e inocente como músicas que saiam de brinquedos de bebês, mas era a caixa de Sofia.
- Nina, é você? - Perguntou uma leve voz.
- Sim, Sofia, sou eu.
- Nossa, que bom que você veio, eu já estava me sentindo só.
- Não fique assim, estarei sempre perto de você.
- Assim posso viver melhor. - Sorriu a menina. - Você gostou da minha nova composição?
- É adorável, Sofia. Vamos passear?
- Sim, estou esperando isso faz dias!
- Então ele chegou!
O passeio estava à caminho de um grande acontecimento.

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