Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

segunda-feira, 29 de março de 2010

A última noite de Lucas




Ele corria ainda desesperado, chorando, como se todas as lágrimas quisessem fugir de seus olhos tão dóceis, pelas ruas de uma metrópole, numa madrugada mais fria do que nunca. As luzes ofuscavam seus olhares, mas nem a claridade nem a escuridão poderia salvá-lo, ele estava só, ele era só, sempre só.
Sua infância foi doce por um curto tempo, até que foi descoberto câncer de mama em estágio avançado na sua única família, a sua mãe, a sua mãe que era mais anjo do que mãe. Agora ele tinha que sobreviver no mundo sem a ajuda de ninguém, na verdade, nunca precisou de ajuda, não até aquele momento.
Tropeçou perto de um beco, era um rapaz novo, porém de estatura física perfeitamente desenhada, entretanto não sabia se defender, nunca soube se defender, mesmo que tenha passado tantos anos vivendo sozinho vendendo o único dom que Deus lhe deu, seu corpo. O beco fedia à ratos, mendigos, fedia fome, fedia sordidez humana, fediam os sentimentos humanos mais obscuros alí. Seu medo ficava ainda maior, e um homem muito maior do que ele se aproximava, pronto para atacá-lo.
Ele estava acostumado à todos os tipos de desejos de seus clientes, mas não à um estupro, ele deveria atingir uma cota, mas não conseguiu, e por não conseguir seu cafetão ficou furioso e mandou matá-lo pois Lucas apenas dava trabalho e despesas para ele, afinal, era só mais um corpo. Só.
Lucas pôs-se a chorar mais alto, sua vida não poderia acabar naquele beco, ele tinha sonhos, muitos sonhos, como qualquer criança em corpo de adulto tem.
O homem arrancou suas vestes alí mesmo e penetrou em suas entranhas de forma bruta, violenta, odiosa, com muita raiva. Lucas tentava gritar mas o homem tapava a sua boca com sua enorme mão direita, Lucas apenas gritava sangue saindo de suas nádegas e misturando-se à saliva do monstro e do pré-semen que alí percorria.
O monstro ficava cada vez mais violento e empurrava Lucas contra a parede úmida, espancando-o, estraçalhando-o como um tigre estraçalha a sua presa louco de fome e de sede de poder.
Finalmente estava tudo acabado, o demônio jogou-o no chão, e Lucas ficou alí mesmo, fraco, violado, sujo, com mais e mais lágrimas descendo silenciosamente de seu belo rosto.
- Meu Deus, me ajuda... - Implorava ele por uma sobrevivência.
Uma mulher completamente pálida vinha em direção à ele, tinha os cabelos dourados como campos de trigo ao sol da tarde, idênticos aos cabelos de Lucas, uma voz doce, e as dores, internas e externas de Lucas passaram a sumir, ele finalmente se sentia aliviado do mundo que pesava em suas costas, aquele mundo não existia mais, ele estava livre, correndo alegre ao lado de sua mãe por um campo colorido das mais variadas flores, do céu mais azul, da brisa mais gostosa.

Lucas enfim se libertou,
A morte não era tão ruim como ele pensava, afinal.





Andrew Oliveira ;*

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