Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

quinta-feira, 28 de julho de 2011

É sempre assim



Mais abismos do que vitórias, mais desgraças do que glórias, mais mentiras do que verdades, mais lágrimas do que sorrisos.
Mais morte do que vida.

.-.

Algumas novidades



Matéria minha no site http://www.minasg.com.br:
e novo video da Deusa Björk, Crystalline:
Tudo no puro amor *-*





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Beijos do titio Black Cherry ;*
PS: Só não postei isso terça feira porque minha internet né.

domingo, 17 de julho de 2011

The Birds - Último Capítulo


- E se as luzes se apagarem de novo? – Rhett estava trêmulo.
- Precisamos tentar, Rhett. – Angelina, sempre segurando sua mão.
- Façam silêncio. – Madalena pediu.
- Aletheia, você se lembra de onde veio? – Scarlett perguntou.
- Não, por aqui é sempre tudo igual. Mas...
Todos olharam com expectativa.
- Vamos por aqui. – A menina disse, e então curvou-se para um outro corredor.
O caminho parecia sempre ser infinito, mas o grupo estava desesperado demais para pensar nisso e sua única esperança era a menina com o estranho nome de Aletheia. Aletheia correu pelo corredor e então dobrou de novo, o grupo a acompanhava com urgência no olhar, inclusive Scarlett.
Aletheia parou, meio assustada meio ansiosa, e então abriu uma porta.
~
Aletheia olhou para a irmã mais velha. Adolescente, estragada, grávida, e fumando um irritante cigarro. A irmã correspondeu o olhar com excelente desprezo, e então se levantou para jogar o cigarro na janela. O pai chegou imundo, e foi logo tirando o cinto para penetrar na irmã, que não demorou a tirar a calcinha e abrir as pernas, sem expressar um mínimo gemido. Ela não podia. Se gemesse, levaria uma longa surra. Aletheia nunca entendeu aquilo, o que eram aqueles olhares e aqueles atos, mas sentia que não eram bons. Pra dizer a verdade, ela nunca soube como era se sentir bem.
A mãe saiu da cozinha e disse que o jantar estava pronto, um sorriso que não enganaria ninguém, os olhos amargos. A irmã mais velha foi tomar banho, o pai foi arrotar na mesa e a mãe permanecer em silêncio, sem se mover muito perto do marido. Aletheia saiu da pequena sala e abriu um pouco a porta para espiar a irmã, que estava de olhos fechados apenas recebendo a água no rosto, encolhendo e retorcendo e esmagando a vontade de gritar. Mas ela não gritou, nem pôde tentar, estava cansada demais de viver. Ela tinha dezesseis anos com alma de oitenta.
Então Aletheia se arrependeu amargamente de ter espionado a irmã, pois viu uma cena que nunca esqueceria nem se morresse. Mas era essa a questão, morrer.
A irmã mais velha saiu do chuveiro e tirou uma faca escondida perto do vaso sanitário, enfiou na barriga com força e morreu. Ela não chorou nem gemeu, ela fez o seu verdadeiro papel de boa mulher. É assim que o mundo termina, não com a dor mas com o alívio. Aletheia gritou e os pais saíram em disparada para onde ela estava. O pai culpou a mãe pelo descuido e iniciou seu ritual de espancamento, sangue e dentes para todo lado.
Aletheia saiu da casa e se enroscou no arame farpado do cercado, ferindo o pescoço e rasgando as pálpebras, o dia estava indo embora, e ela também. O pai arregaçou a porta com um chute e gritou para ela voltar, as crianças da vila olharam para Aletheia correndo em total espanto, ela estava chorando sangue por causa das pálpebras. Uma criança amaldiçoada, pensaram. E com certeza era.
Aletheia caiu várias vezes na sua fuga, e quanto mais caía, mais seu pai se aproximava, pronto para o abate. Seus frágeis joelhos e braços estavam ralados, e seu rosto mais esfolado ainda. Ninguém estava entendendo nada. Até que tudo pôde se concluir.
O pai pegou uma pá e acertou na cabeça da filha. Era uma criatura impiedosa, e por isso queria mais. Aletheia apenas ouvia vozes ao longe, e depois mais nada. O pai a matara com várias pancadas de pá na cabeça, até rachar o seu crânio e expulsá-la do mundo dos vivos. Mas antes que pudesse voltar triunfante para casa, os moradores também o mataram, atirando pedras gordas e pesadas até fazê-lo manchar uma grande poça de sangue na terra. Ele ainda pôde sentir ser castrado e ter a língua arrancada, e ainda foi deixado por um longo tempo até ele mesmo decidir que queria morrer. Mas nunca arrependido.
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Aletheia abriu a porta e no mesmo instante as luzes daquele corredor se ligaram. Era um corredor pintado de vermelho e nada convidativo. Era a única chance de Scarlett e todos os outros saírem daquele lugar. E eles já sentiam isso. Ali estava a porta final, a provável resposta.
- Eu não quero ir. – Aletheia se postou atrás de Scarlett.
- Então você pode ao menos esperar aqui? – Scarlett sorriu, aliviando a tensão da menina.
- Acho que sim.
Scarlett olhou para o grupo que esperava alguma atitude.
- Quem vai comigo? – Ela perguntou.
Madalena e João se aproximaram. Scarlett assentiu, e então eles se foram.
João tocou com cuidado na maçaneta da porta, e então a virou, nada aconteceu. Scarlett chegou mais perto, e sentindo o olhar ansioso de Madalena, abriu com o marido dela a porta sem respirar. Uma luz amarela se acendeu e com ela se revelou um quarto que parecia uma espécie de porão. Todos olharam com estranha curiosidade.
Uma escada se desceu com um estrondo e outra luz se acendeu, dessa vez branca, trazendo consigo uma velha senhora. Ela tinha os olhos murchos e azuis, porém simpáticos, os cabelos brancos estavam emaranhados, e mais um pouco deles num coque mal arrumado. Ela desceu a escada com desleixo e aborrecimento, depois afofou o vestido-camisolão e então sorriu para o grupo dos queixos caídos.
- O preço para sair é uma alma. – Ela continuou sorrindo.
- Quem é você? – Madalena pôs-se a perguntar, o rosto contorcido em horror.
- O preço para sair é uma alma. – Ela repetiu.
- O QUÊ? VOCÊ ESTÁ MALUCA? – Madalena gritou. – QUEM VOCÊ PENSA QUE SOMOS?
- Madalena, acalme-se! – João segurou o braço da mulher.
Madalena o fitou em total terror.
- Acho que apenas alguns de nós poderá sair daqui. – Scarlett disse, melancólica.
- Sim. – A velha senhora sorriu.
- Não podemos simplesmente abandonar alguns de nós. – João parecia confuso.
- É difícil. – A velha senhora franziu a testa. – Mas é o preço.
- Não entendo... Passamos por tudo isso para mais pessoas morrerem? – Scarlett estava quase sem fôlego.
- Sim. – A velha se sentou num banquinho, e ficou a esperar as decisões.
Houve um grande momento de silêncio, Scarlett olhou para trás, e caminhou de volta para o corredor. João e Madalena fizeram o mesmo, sem saber o que fazer. Aletheia os avistou com entusiasmo em um pequeno sorriso a iluminar o rosto, e abraçou Scarlett com força. Scarlett segurou as lágrimas. João e Madalena cochichavam alguma coisa, e Madalena chorava.
- E então? – Angelina perguntou, de mãos dadas com Rhett.
Scarlett respirou fundo.
- Nós temos um plano, e temos pouco tempo. Então alguns de vocês sairão por um caminho diferente. – Ela mentiu, e então olhou para João, que assentiu e beijou Madalena na boca. Gosto de lágrimas.
- Rhett, Aletheia, um dos gêmeos e Madalena irão por esse corredor mesmo. Eu e João sabemos de outro caminho.
- Você vai, Khayran. – Khaydan o abraçou forte. – Nos encontramos lá fora.
Scarlett ainda não tinha derramado nem uma lágrima.
João se aproximou de Scarlett, e Angelina também, apenas Khaydan estava longe dos condenados, dando um beijo forte na bochecha do irmão. Aletheia deu outro abraço em Scarlett, que apenas dava um sorriso triste.
- Quando você encontrar uma velha senhora perto das escadas, diga que vocês já pagaram o preço. – Ela sussurrou nos ouvidos da menina.
- O preço?
- Sim.
Aletheia olhou nos olhos de Scarlett, que escondiam nas pálpebras e cílios as lágrimas. E então partiu com Khayran, Rhett e Madalena. Outro silêncio, e depois um grande barulho, uma luz ofuscante vinda do final do corredor, e então mais nada. Scarlett encarou João mais uma vez, e mais uma vez sem falar nada, ele entendeu. João puxou Khaydan e Scarlett, Angelina.
- Vamos.
- O que vocês estão fazendo? Não era um outro caminho?
- É esse mesmo.
Scarlett chegou ofegante, a velha senhora ainda estava sentada, e os fitou com espanto.
- Não podem sair. Vocês não tem preço – Ela fez o sinal da cruz, como que repreendendo o grupo.
Scarlett pegou um objeto qualquer e tentou violentar a velha que desapareceu, João subiu a pequena escadaria e arrombou a portinhola. Angelina e Khaydan apenas assistiam toda aquela confusão sem entender nada, uma criatura escura e monstruosa surgiu no corredor vermelho e pôs-se a rastejar velozmente com uma quantidade exorbitante de tentáculos, patas pegajosas e dentes afiados. João e Scarlett subiram na luz ofuscante do teto, depois foi a vez de Angelina e Khaydan.
Então tudo ficou claro demais até que se pôde entender que seria sempre assim. Mas não foi.
Scarlett sentiu uma dor de mil lâminas no seu corpo, então pareceu que sua alma diminuiu e seu corpo estava muito maior do que antes. Ela tentou gritar mas saíram guinchos da sua boca, ou melhor, bico. Ela se levantou da rua bagunçada e abriu os olhos, que agora demoravam mais a piscar. O céu estava cinza e vermelho, o horizonte completamente púrpuro, tudo estava um completo caos. Pessoas correndo para todos os lados, carros e mais carros se empilhando e explodindo, prédios desabando. Por alguma razão ela conseguia ver por vários ângulos. Nada mais se explicava.
E lá estava Aletheia, perdida em todo aquela fúria humana, soluçando sem saber o que fazer, ou porquê exatamente soluçar. Scarlett se aproximou e ela a fitou com curiosidade, depois espanto, depois palidez, e por fim horror. Aletheia pôs-se a correr desesperadamente e um carro a atropelou, depois um grupo de homens nus com asas negras iniciaram um ritual de estupro com seu pequeno corpo de menina.
Scarlett tentou chorar dessa vez, mas não conseguiu, tudo o que saia da sua boca eram guinchos ou piados. Então ela finalmente conseguiu admirar seu reflexo, numa poça de sangue de um defunto ali perto. Ela era um demônio, cheio de olhos arregalados e um bico afiadíssimo. Ela era uma condenada, e já estava morta há muito tempo.




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The Birds - Fim





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Black Cherry

segunda-feira, 4 de julho de 2011

The Birds - Capítulo 5


- O que vamos fazer? - perguntou Angelina. - Parece que até durante o dia as coisas ficam perigosas...
- Não, não ficam... - respondeu João. - Mas está escurecendo muito mais rápido.
- Então vamos morrer de fome por medo de sermos atacados de novo? - Scarlett questionou.
- Não. Mas agora temos que encontrar as coisas mais rápido do que o dia. - disse Madalena, sentindo uma pontada de dor ao tentar levantar do colo de João.
A pequena porta foi espancada com violência, e todos se voltaram para ela. Estavam tentando invadir? Mas em vez de barulhos de asas ou de guinchos, eram gritos de uma criança. João foi tentar abrir imediatamente, mas foi impedido por Madalena, que o fitou em total repreensão.
- E se for um deles?
- Não é. Eles nunca se disfarçaram de humanos. Talvez não consigam.
- E se estiverem usando a criança?
- Não são tão inteligentes assim...
- Tem certeza?
João voltou-se para Scarlett, que assentiu em total compreensão. A mulher pegou uma viga de ferro aleatória no lugar e ficou preparada para o pior. O marido de Madalena abriu a porta com tudo e uma criança pulou no colo de Madalena, como um verdadeiro inseto. Angelina gritou no mesmo instante, pensando que fosse um, e Rhett apenas tremia. Khaydan levantou-se e foi analisar o que tinha no colo da esposa de João, e João postava o último trinco na porta.
- Quem é você? – perguntou Scarlett, com a voz afetuosa.
A criança apenas tremia como um liquidificador.
- Ei! Está tudo bem... – disse ela, olhando para Madalena, que entregou a criança aos seus cuidados. – Você pode nos contar como chegou aqui?
- Estava procurando... – respondeu a pequena menina, uma voz tão doce que fez todos se sentirem normais naquela situação.
- Procurando... O quê? – perguntou Khaydan, acariciando as costas da criaturinha.
- O que me disseram para procurar... e a gente sairia daqui.
- Vo... Você sabe alguma coisa sobre como sair daqui?
- Acho que sim.
A menina se pôs de pé e começou a andar para um canto, sentou-se encostada numa parede e começou a avaliar cada um na Toca. Seus olhos eram de um azul nunca visto em nenhum ser humano. Era como o mar dentro das pupilas. Seus cabelos, negros, lisos e despenteados, pareciam a própria sujeira que infestava o seu rosto e bracinhos magricelas.
- Um monstro me disse que eu não pertencia a esse lugar, todos vocês pertenciam, mas eu não, eu estou aqui por acidente.
- Não estou entendendo... Como pertencemos a esse lugar? – João perguntou, agora vendo que a menina falava como uma pequena adulta, seria mais fácil se comunicar com ela.
- Não sei. Foi só o que ele me disse. Isso e como sair daqui. – ela ajeitou um pouco os longos cabelos para trás, de uma forma tão fofa que fez todos sorrirem. Só o que ela falava era que não era nada fofo. – Se encontrar o demônio, encontra a saída.
- Demônio?
Rhett começou a dar os sinais de que iria surtar, e tudo o que os outros puderam fazer foi prender a respiração, exceto Angelina, que tentava de todo jeito (como sempre) acalmá-lo. Então ele falou tudo o que todos mais temiam e evitavam até mesmo pensar:
- Estamos no inferno.
E de novo.
- Estamos no inferno.
- Não, espere, foi isso mesmo que ele disse pra você? – João perguntou.
- Sim.
- E como encontramos o demônio? – Scarlett perguntou, olhando para a mão de Angelina que segurava a de Rhett com força.
- Estamos no inferno.
- Temos que encontrar o corredor vermelho. No final dele mora o demônio.
- ESTAMOS NO INFERNO PORRA!
A menina deu um pulo, Angelina o estapeou, Rhett a fitou, os olhos arregalados, as olheiras dançando abaixo deles. Voltou a si.
- Isso é apenas um nome, não significa nada, Rhett. – ela disse, e então ele se acalmou.
Madalena suspirou em reprovação, e então pediu a atenção da menina novamente.
- Menina, qual é o seu nome? – perguntou.
- Aletheia.
- Bem, Aletheia, você pode nos ajudar a encontrá-lo?
- Acho que sim.
- Quando sairemos? – disse Scarlett.
- Agora mesmo.
E tudo se silenciou. João a olhava em total espanto, os gêmeos com medo, Angelina segurando o tremor e o frio na nuca, e Scarlett confusa.
- Você não está sendo... – tentou João.
- Não, não estou sendo drástica demais. Já estou cansada deste lugar e agora que encontrei um meio de sair não vou ficar esperando a boa vontade de ninguém de levantar a bunda e ir comigo. Se quiserem vir, que venham, Aletheia irá me guiar.

- Aletheia, você quer ir agora? – João perguntou para a menina, com uma tranquilidade que ele não tinha.

- Eu quero ir pra casa. – resondeu Aletheia, pela primeira vez como uma criança de verdade.
- Se você quer ir pra casa, não temos tempo a perder. – Madalena puxou a menina pelo braço. – Vamos.
Aletheia olhou para todos, pedindo claramente por ajuda com a testa franzida. Scarlett segurou a mão da menina e não largou mais. Madalena se virou furiosa para Scarlett, que a enfrentou sem nem mesmo piscar.
- Está óbvio que ela não quer ir. Quando ela estiver pronta, nós vamos. – disse Scarlett.
- Não ouse me desafiar... – Madalena ameaçou. – Eu salvei a sua pele sua vagab...
- Não, fui eu quem a salvou, e como Scarlett já disse, Aletheia ainda não quer ir. Nós já temos um provável meio de sair daqui, e já passamos tempo demais para perder a sanidade no último minuto. Madalena, já chega!
Se olhar matasse, Madalena naquele exato instante conseguiria. Mas não era apenas o olhar, era o seu corpo inteiro, que estava borbulhando como uma panela de pressão. Talvez estivesse mais esgotada do que os outros, afinal, não se é possuído por uma força estranha num lugar estranho todo dia.
A noite aparentemente chegou, e com isso, todos se silenciaram de vez. Aletheia se deitou no colo de Scarlett, e Scarlett não viu problema nisso, aliás, estava sem sono. Madalena ficou apenas fingindo estar dormindo, mas a dor na sua costa apenas piorava, e a ferida parecia estar a cada hora mais aberta, João e os outros adormeceram como pedras. E o mais estranho, nenhum barulho lá fora.
A menina virou o rosto em direção ao queixo de Scarlett, que também abaixou o olhar para vê-la.
- Como era esse monstro, Aletheia? – ela sussurrou, perguntando.
- Era meu pai.





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Black Cherry

domingo, 3 de julho de 2011

A Estrela de Lilith


Era uma vez uma estrela. Uma pequena estrela, inotada pelas outras constelações que eram comuns e pouco se importavam com isso a não ser ter um estilo de vida padrão e aceitável no universo. Acontece que a pequena estrela foi se expandindo e criando algo novo naquele lugar: a criatividade. Todo dia, quando Solaris abria a sua janela e emanava a sua aura matutina por lá, a estrela corria para um campo de meteoros de diamante e lá ficava, sentada, escrevendo tudo o que lhe vinha na cabeça, tendo ideias mirabolantes e saltos para universos que ninguém entenderia, não por enquanto.

As palavras se transformavam em personagens vívidos e palpáveis, as vírgulas e os pontos se transformavam em cenários e lugares e enredos, afinal, nada mais livre do que a poesia e a arte para se sentir maior, melhor, muito mais do que veem.

E foram das palavras da estrela que surgiram as bruxas, os monstros, os mundos (que até naquele momento nunca existiram), os espíritos, as criaturas indefiníveis, tudo. A estrela então tornou-se importante, especial, mais brilhosa do que qualquer outra constelação, e foi assim durante (infelizmente) pouco tempo.

As constelações se arderam em ódio e inveja, e jogavam todo o seu recalque na estrela original. A estrela então, num momento de puro desleixo e tragédia, deixou cair seu brilho e se apagou, tornando-se escuridão. Uma escuridão afetuosa que só queria voltar a ser estrela mais uma vez.

A escuridão agora apenas velava o brilho do sol que tanto tomava banho, afinal, luz e escuridão não andam juntas, jamais. Mas aquela escuridão era diferente, sempre foi desde que outrora foi-se estrela. O seu impulso de criar nunca parou. Então foi daí que a escuridão dividiu as dimensões, pois muitos mundos em apenas um único universo deixaria tudo uma bagunça.

Certo dia, enquanto a escuridão varria o pó cósmico que almejava cair sobre a Terra, ela viu algo pulsante e enigmático vagando na falta de gravidade. A escuridão esqueceu-se daquele mundo e os meteoros caíram na terra, extinguindo uma raça jurássica. A escuridão andou lentamente sobre as novas estrelas, até sobre o sol, para chegar perto daquilo. Aquilo se chamava amor. Não o amor que ela conhecia, mas um outro amor. Algo muito próximo do masoquismo. A escuridão ficou curiosa, até demais, e queria porque queria sentir aquilo que se intitulava amor, e de tão forte que era o seu desejo, ela voltou a ser a estrela que sempre foi.

Num passado distante, quando a estrela ainda era muito pequena, um deus que ali vagava a avisou sobre o amor. Mas ela nunca entendeu sua mensagem, tampouco a sua voz, dita em outra frequência. Seus olhos estavam escondidos numa venda vermelha, onde se penduravam lágrimas. Foi a primeira vez que ela viu Lilith, quando este ainda caminhava pelos universos sem ter muito o que fazer.

A estrela, ignorando todas as palavras e vivências e conselhos dados, seguiu o amor. Agora ela estava madura, sim, mas ainda inexperiente muitas coisas. Nem os milênios conseguiram domá-la, quem mais conseguiria?

O amor desceu sobre a Terra e a estrela continuou a segui-la.

- Por que me segues tanto? – perguntou o amor.

- Eu quero te sentir. – confessou a estrela.

- Vá embora. Eu não sou para ti. – disse o amor, arrogante. – Vou amaldiçoá-la se tu tentares me sentir.

Mas a estrela continuou a segui-la, até perceber que ela já estava apaixonada. A paixão a incendiou de tal forma que em toda madrugada ela destruía florestas e soprava furacões para tentar domesticar a sua dor, mas já era um caminho sem volta, pois o amor percebera que uma parte sua estava sendo usada.

Numa noite de Lua Vermelha, quando a estrela ensinava as ninfas a cantar, o amor voltou-se contra ela, furioso, expulsando tudo ao seu redor. E como dito, ele a amaldiçoou, ela nunca conseguiria nada amando ninguém, não naquele mundo.

A estrela permaneceu forte, e apesar de já estar amaldiçoada, ela tentou de todas as formas amar. De todas as formas sentir aquele misto de alegria com tristeza, aquilo que a preenchia tão bem. E depois de anos, a estrela já conseguia amar, mas quanto mais amava, mais sofria, nunca tinha um momento de felicidade, nunca tinha um momento de afeto, de calor, de nada que o amor deveria representar até para uma criatura como ela.

Concluiu-se então a maldição, e a estrela saiu da Terra e ficou a vagar nos universos por um bom tempo. E quando tudo já estava completamente perdido, eis que ela reencontra Lilith. A estrela então, conta toda a sua trajetória em busca do amor para o deus, que ouve com extrema cautela e atenção, até fazê-lo criar uma ideia.

Lilith, com seu encanto severo, sequestra todo o amor na terra e atira com uma magia poderosa no peito da estrela. A estrela se parte em milhões de pedaços de diamantes, que se transformam em água, que se transforma em mar. O mar então despenca para a Terra, e em ondas gigantescas sobre a areia se forma a espuma do mar.

A espuma, não satisfeita em ser apenas isso, recupera os pedaços da alma da estrela, moldando um corpo perfeitamente delineado e feminino. O corpo, agora dono do amor, é saudado com grandes vivas pelas ninfas, que entregam a ela a mais pura seda para secar seu corpo, e o vento, respeitando toda a sua beleza, se entrega de todo para secar seus longos e cacheados cabelos. A estrela, que depois tornou-se escuridão, e voltou a ser estrela, agora era uma deusa. A senhora absoluta do amor, segurando sua maior característica. Indomável.
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Para Lilith
Do seu irmão, Corona Solaris ;*

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Inglória


Eu sou uma correnteza furiosa
Ondas mudas, vistas turvas
Que afunda tudo num único momento
Essa alegria que vira tormento

Eu sou uma ventania inconstante
Sem meio, sem começo, sem chance
Uma palavra que morreu antes
E o que se foi talvez tenha sido tão grande

Eu poderia ser o melhor
O mais perfeito e intenso amor,
E o sorriso negro seria eterno
Forte, rude, vil, sincero

E sou tão fácil de se abandonar
Uma interrogação que nunca soube falar
E meus olhos nunca mais estarão abertos
E minhas águas não retornarão mais.





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Andrew Oliveira