Solitude, darkness and love


"I don't wanna admit, but we're not gonna fit"

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 7: O futuro dele


Um enjoo súbito deu-se em Forseti, mal acordou e já estava vomitando no vaso sanitário de seu banheiro, apesar disso, já estava conseguindo digerir ao que aconteceu na noite anterior, Frey já tinha ido para a escola, e ela resolveu passar o dia em casa, de luto por estar morta, talvez isso fosse exagero, mas ela realmente se sentia assim. Comprou pão por ali perto, e tomou seu café, sem conseguir sentir gosto de nada, nem da sua própria boca, já estava digerindo, mas ainda era difícil.

Ela disse uma vez para Hermod, que se ele não quisesse mais seu coração, ela o roubaria e o apertaria com a sua mão direita, e ele sentiria o quanto seu coração era importante, mas ela jamais o devolveria. Ela devolveu, porém, o sangue daquele coração, ainda estava seco em suas mãos, ela lavava e lavava, mas não se pode apagar parte de sua história tão facilmente. Forseti cresceu ao lado de Frey, Hermod sempre foi mais distante, mas ainda assim era importante, era como um abstrato fácil de se entender. Frey era a tinta, Forseti era o quadro.

Frey sentia um vazio toda vez que Forseti faltava, era como se uma parte dele não estivesse ali, mas resolveu se segurar e continuar na aula, pensou que deveria deixá-la sozinha, pensando no que faria dali pra frente.

Com o rádio ligado, uma suave música de amor tocava para todos, talvez a paixão naquele momento não fosse necessária, a paixão queima-se rapidamente, mas o amor era, era tão necessário que, em vez de pesar, levantou o coração de todos os quatro jovens naquele momento.

Eu ainda tenho alguém que me ama, que se importa comigo, era verdade para Forseti e Frey, e com certeza uma ilusão para Heimdall, uma intoxicação no peito de Hermod, mais ainda assim era amor, e era isso que os segurava naqueles dias de um inverno tão cruel, era isso que os faziam pensar: "eu ainda terei alguém me esperando quando eu voltar para casa, não importa quanto tempo eu passe longe, não importa o quanto o mundo se acabe".

Hermod mal conseguia levantar da cama, com suas mentiras selvangens que machucaram mais à ele, Heimdall não estava conseguindo se concentrar, Frey parou no tempo, Forseti soltou o choro preso na garganta, e os dias daquela semana estavam sempre assim.

E outra semana, Forseti voltou à ir para as aulas, e mais outra semana, suas seções de enjoo pioravam, sua menstruação estava atrasada. Resolveu comprar um teste de gravidez.

As horas pareciam ter virado anos, o sol morno daquela cidade chamava as ondas, o pássaro negro sempre ali, Frey já havia voltado para sua casa, e pouco depois disso veio uma ligação, era Hermod.

- Frey... Eu queria sair um pouco com você. - Disse, tímido.

- Tudo bem, onde você está?

- No parque perto da sua casa.

Colocou um moletom azul escuro, lavou um pouco o rosto, e andou durante as duas quadras em direção ao parque, logo encontrando um Hermod envergonhado.

- Você está bem, Hermod?

- Acho que sim.

Frey se aproximou, o parque estava vazio, durante aquela tarde morna ninguém quis ir visitar o parque, a não ser eles. Hermod não aguentou mais segurar suas lágrimas, Frey o abraçou.

- Eu sei que não sou a melhor pessoa pra falar isso, mas vai ficar tudo bem.

- Por que Forseti não me perdoa? - Soluçava.

- Porque ela sabe quem teve a maior parcela de culpa, Hermod. Você sabe como ela é.

- Não, eu não sei.

- Quer comer pipoca? Tem um pipoqueiro bem ali. - Sorriu Frey, Hermod soltou um sorriso também.

- Quero sim.

Mais um fim de um dia estava se iniciando, o cheiro de desinfetante era forte, o banheiro estava limpo como sempre, a janelinha aberta, a urina passava pela parte macia do objeto, preocupação e mais dor, Forseti estava completamente perdida, não era a sua hora ainda, por que ela tinha que sofrer sozinha? Um turbilhão de pensamentos rodeou a cabeça da jovem, já estava esperando o teste dar sua resposta, por dentro estava torcendo para que não fosse aquilo que ela não desejava, não que ela fosse uma má pessoa, mas porque ela realmente não estava pronta para tanto, se sentia em dúvidas que nunca acabavam, dúvidas que jamais acabariam, até que o teste deu sua resposta.

Forseti chorou como se chora para um oceano de solidão, Forseti gritou como se grita para uma tempestade de culpa.

Agora, eu jamais permitirei que impeçam seu nascimento, meu filho.







~







Andrew Oliveira

domingo, 29 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 6: O coração dela


Sentou-se, já estava cansada de correr, cansada de tentar imaginar o quanto aquele amor poderia ser imenso, maior do que a sua sombra, cansada de descobrir o quanto sua vida viva numa ilusão, hipnótica, avassaladora, e tão bem planejada. Suas pernas doíam, seu coração ainda mais, a neve descia lentamente sobre sua cabeça tão perturbada de devaneios, o mar a chamava, com o barulho das ondas indo e vindo, fechou seus olhos, e tentou imaginar estar nele, num dia quente e sem sombra, ela quase jogou-se nele, até que uma voz a chamou:

- Forseti! - Era Frey. - Por favor, não faça isso.

Forseti o olhou arrogante.

- E o que eu poderia fazer, Frey?

- Desculpa. Eu acabei ouvindo Heimdall conversando com você no celular.

- Ah.... - Ah.

- Você acreditou nele?

- Eu não sei,Frey. Me diga você.

Frey calou-se, envergonhado, baixou a cabeça. E logo outra pessoa se aproximava, era Heimdall.

- Forseti, você está bem? Desculpa te falar aquilo por uma ligação.

- Vá embora daqui, Heimdall. - Disse Frey em tom ignorante.

- Não estou falando com você, Frey. - Retrucou Heimdall.

Forseti levantou-se, e encarou os dois, lá vinha mais alguém correndo, agora era Hermod.

- Forseti? Eu vi você correndo pra cá, aconteceu alguma coisa?

- Talvez Heimdall possa explicar. - Encarou Forseti, tentando parecer forte o suficiente para enfrentá-los.

- Eu disse que te vi hoje saindo do meu apartamento, Hermod. - Envergonhou-se Heimdall.

- Só isso? - Falou Frey em tom cruel.

Hermod franziu a testa, sentiu-se mais confuso do que já estava.

- Eu fui conversar com Frey. - Disse Hermod olhando para as suas botas de rockeiro.

- Foste conversar comigo? Vocês nunca conseguem admitir nada? - Gritou Frey.

- Eu não estou entendendo nada. - Sussurrou Forseti.

Heimdall esbofeteou Frey.

- Você não devia criticar ninguém, você se encontra numa vidinha patética sempre precisando de alguém pra segurar seu peso, ou você cai. Envergonhe-se de você mesmo. - Repreendeu Heimdall, Frey entristeceu-se, arrependido.

Forseti passou a se sentir insegura, seu sangue ferveu, e ela gritou o mais alto que pôde:

- ALGUÉM PODE ME EXPLICAR O QUE TODOS ESTÃO FAZENDO?

Todos se silenciaram, assustados, e ao mesmo tempo arrependidos, cada um de uma forma, cada um com sua alma ferida, como numa galeria de arte, cheia de belezas e segredos terríveis. Mas não importa quanta tinta fora gastada nos quadros, não importa quanto tempo dure o quadro, haverá sempre uma lasquinha de dor escondida na paisagem. Frey e Heimdall estavam como duas crianças repreendidas, Hermod estava chorando.

- Hermod, você está mesmo apaixonado por Frey? - Disse Forseti prestes a desabar.

Hermod chorou mais alto, estava mais confuso do que nunca.

- Me responda, Hermod!

- EU NÃO SEI! - Gritou Hermod. - O fato de eu estar com você, não significa nada?

- E por que você está chorando? - Forseti começou a cair em prantos também.

- Porque eu realmente não sei.

Forseti o esbofeteou duas vezes, rancorosa, com a palma da mão, e com a costa da mão, ela já havia compreendido.

- Por que você me tocou se você não me ama? - Parou de chorar, limpou as lágrimas, e o encarou decidida, seu coração parou de bater forte.

- Meu amor por você era apenas uma mentira. Eu não me importo com você, eu não gosto de você, nem me preocupo com o seu bem estar, você nunca foi nada pra mim, todo esse tempo eu pensava apenas em Frey, Frey é o único pra mim. - Revelou Hermod, também decidido, frio e sensato.

Forseti se petrificou, parecia estar acordando de um sonho, um sonho frio e nostálgico, cheio de uma felicidade que nunca existiu, tudo foi apenas um escapismo?

Heimdall puxou Hermod e começou a espancá-lo, Frey tentou impedi-lo, mas Heimdall apenas o empurrou para longe, era sempre assim, Frey nunca podia fazer nada, Frey era sempre submisso aos acontecimentos, Forseti continuou apenas parada, Frey a reparou, levantou-se, e pegou a sua mão.

- Você sabe que eu tenho apenas você, então me perdoa, por todo o mal que eu te fiz.
Forseti permaneceu em silêncio, Frey a levou para casa, sumindo na névoa, e dormiram abraçados, tão abraçados que pareciam gêmeos siameses, era o que queriam ser, talvez assim pudessem compreender juntos aquela dor.





~






Andrew Oliveira

sábado, 28 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 5: O egoísmo dele


- Está na hora de você ir. - Disse para Hermod, ainda seminu no sofá.

- Eu quero ficar mais um pouco com você.

- Heimdall chega daqui a pouco pra tomar um banho e ir pra faculdade.

- Tudo bem, eu já estou de saída. Antes disso...

- Não, por hoje já chega, Hermod.

Hermod vestiu-se, deu um último beijo em Frey, e abriu a porta, saiu. Andou pelo corredor e esperou o elevador se abrir, dando de cara com Heimdall, abaixou sua cabeça e partiu para a casa de Forseti.

Heimdall achou tudo muito estranho, ao chegar no seu apartamento, Frey ainda parecia intacto, como se nada tivesse acontecido, exceto por seu cabelo estar completamente desarrumado, isso Heimdall havia notado.

- O que aconteceu? Eu vi Hermod saindo daqui.

- Ele queria conversar comigo.

- E vocês conversaram sobre o quê?

- Sobre ele.

- Aconteceu alguma coisa a mais que você queira me contar? - Curvou-se o rapaz, para Frey.

- Não. Ele está realmente apaixonado por Forseti.

- Isso é bom, não é? Ela gosta muito dele.

- Eu sei o quanto. Talvez até mais do que ela mesma.

- Forseti não tem amor próprio? - Assustou-se Heimdall.

- Eu não sei. - Respondeu Frey

- Como você não sabe? Você não é melhor amigo dela?

- Ela não é obrigada a me contar sobre tudo que ela sente, Heimdall.

- Entendo.

Heimdall tocou seus dedos nos lábios de Frey, que estavam com cheiro de sexo. Frey não o amava, Frey nunca o amaria mais, e por que ainda estava ali? Heimdall era seu suporte, e mesmo assim, ele o tratava mal, como naquele momento.

- Desculpa, hoje eu não to me sentindo bem. - Disse Frey. - Você tem remédio pra dor de cabeça?

- Tenho, na gaveta do meu criado-mudo, pegue lá. - Decepcionou-se Heimdall.

Heimdall tirou suas vestes e entrou na banheira, lavando um pouco da sua alma, e um pouco da sua tristeza, não posso me abalar assim.

~

A noite chegou, e junto, uma Forseti cansada do hospital, estava ajudando sua mãe, e claro, ganharia uns trocados por isso pra comprar algum sapato ou alguma blusa. Seu celular tocou, era Hermod.

- Forseti, você já está em casa?

- Acabei de chegar, Hermod, está tudo bem?

- Está sim, só queria dizer que eu te amo.

- Obrigada, meu amor. - Forseti encheu-se de felicidade, ele me ama, e isso é o mais importante.

- Quer sair um pouco? Estou aqui por perto.

- Hoje não, desculpa. Passei a tarde inteira no hospital ajudando minha mãe, o natal está chegando, e as pessoas ficam desesperadas pra receberem alta o quanto antes.

- Tudo bem.

- Você está mesmo bem, Hermod?

- Estou sim. - Deu seu meio sorriso, ela sentiu.

Ela sentiu também uma leve pontada no peito, não era de dor, nem de felicidade, muito menos de satisfação, ela sentia isso quando alguém não era suficientemente sincero, Forseti sentiu um ar de mentira na voz de Hermod, o que teria acontecido?

Forseti foi logo banhar-se, e depois, escrever um pouco, lembrou daquele sonho ruim em que ela caíra de uma colina, penhasco, ou seja lá o que for, mas era alto. Frey pegou suas tintas e um quadro bem grande, dado de presente por Heimdall, que já estava a caminho da faculdade. O quadro tinha pouco mais de um metro, tanto de largura quanto de altura, e o pincel de Frey delineava delicadamente cada canto daquele quadro, o que ele estaria planejando desenhar?

O telefone de Forseti tocou mais uma vez, desta vez era Heimdall telefonando, Forseti estranhou, já era de madrugada, por que ele ligaria a essa hora? Ela só pensava em Frey.

- Forseti?

- Oi Heimdall, tudo bem?

- Eu acho que não?

Outra leve pontada em Forseti, dessa vez era de preocupação.

- O que foi? Posso ajudar em alguma coisa?

- Eu não sei se você pode ajudar alguém ou se ajudar, Forseti.

- Heimdall, o que está acontecendo?

- Acalme-se, eu ainda não tenho certeza. Mas tenho certeza de uma coisa, e preciso falar isso pra você.

- Me fala.

- Frey é apaixonado por Hermod.

E ela sentia também quando alguém falava a verdade, Forseti tinha esse dom, e para ela, era uma maldição, pois ela nunca conseguiria se segurar numa mentira que ela poderia chamar de esperança.

- Eu não acredito nisso. Frey está com você.

- E eu acho que Hermod também sente o mesmo por Frey.

A voz de Hermod no telefone, sua ligação estranha, e esse cheiro de peso na consciência, Forseti sentiu algo preso na garganta.

- Por que ele sentiria o mesmo por Frey?

- Porque eu o vi saindo do meu apartamento, onde Frey estava.

O celular caiu da mão dela, Forseti paralisou, Hermod de repente não estava mais lá, mas ela não queria acreditar, mesmo descobrindo sua mentira, ela seria uma pessoa patética se se prendesse numa mentira e a chamasse de esperança.

Forseti sempre teve uma infância solitária, era muito inteligente, mas muito compulsiva com seus sentimentos, ela era uma pessoa adorável, pelo menos superficialmente. Frey estava ouvindo silenciosamente Heimdall conversando no telefone, e levantou-se da cama, tirou o celular da mão dele, e o esbofeteou.

- Seu idiota, você não tem noção do que acabou de fazer?

- Eu sou o idiota? Tens certeza disso?

- Me perdoe por não te amar, mas entre todos vocês, Forseti e Freya são as únicas coisas boas na minha vida. Nem pense mais em tirar Forseti de mim.

Heimdall calou-se, Frey se vestiu e correu para salvar Forseti, que já estava indo em direção ao mar, ainda paralisada, louca para se afogar.




~






Andrew Oliveira.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 4: A felicidade dela


Uma nevasca cruel assolou a noite, e logo a manhã estava branca, tão branca que doíam os olhos, um aroma de solidão, um frescor de tristeza, lembranças no ar. As crianças logo foram para o parque às oito da manhã, os adolescentes para a escola, e os adultos se escravizarem nos padrões sociais.

Uma pequena pontada de dor caiu sobre as núvens, era um pássaro negro, não era um corvo, nem um urubu, ele era somente negro e desconhecido, e nada mais, a cânone de um verdadeiro sofrimento, o prelúdio de uma canção da culpa.

Forseti logo tomou um banho e se arrumou para ir ao colégio, enquanto Hermod, um completo vadio, ainda adormecia na cama da moça. Há umas cinco Frey fez o mesmo, Heimdall estava na casa dos amigos estudando, e todos os movimentos pareciam voltar ao normal.

- Se você repetir de ano eu termino com você, não quero um namorado burro. - Riu Forseti, maldosa para Hermod.

- Você não teria coragem. - Suspirou Hermod.

- Não duvide das minhas atitudes, Hermod.

- Hunf...

- Tudo bem então, tenha um bom dia.

Forseti ía apenas caminhando, enquanto que Frey desistira da ideia de ir de bicicleta devido à grande massa branca que deixava difícil até de andar, porém, Forseti conseguiu com muito esforço chegar na escola, onde várias cabeças se movimentavam como formigas para entrar. Forseti, de praxe esperou Frey chegar, para entrarem juntos, ela estava ansiosa para vê-lo, entretanto, Frey não estava com sua bicicleta, fazendo Forseti desistir da sua espera e chegando atrasado, foram para a aula.

Os dias estavam passando rápido, Frey mudou-se temporariamente para o apartamento de Heimdall, para não sofrer tantas agressões de seu padrasto, que tinha entrado a pedido de sua sogra no AA, mas não adiantava muita coisa. Forseti estava a cada dia mais apaixonada por Hermod, e Hermod, a cada dia pensava mais em Frey, Frey por sua vez, começara a viver uma mentira com Heimdall, aceitando seu pedido de namoro, apenas para ter alguém onde sustentar seu peso.

Frey era um peso morto, Hermod era um ilusionista, Forseti era uma ignorante, e Heimdall, um cego. Todos de alguma forma estavam presos nos outros e em si mesmos, seja da forma mais egoísta possível, pois viver uma vida inventada era apenas o reflexo de um ego solitário, e quanto mais você tenta viver uma mentira, maior é a dor que ela lhe dá, pois nunca se é livre ou feliz o suficiente, nunca se está satisfeito consigo mesmo, nem com os outros, nem com o vazio que são suas almas, ou um poço sem fundo, ou o pássaro negro desconhecido rasgando o céu com sua cor de luto, dando seu canto de réquiem, anunciando um amanhã repleto de conflitos, externos e internos.

Hermod caiu em si, ligou para Frey:

- Frey, por favor, eu preciso te ver. - Disse com a voz chorosa no celular.

- O que aconteceu, Hermod?

- Eu apenas preciso te ver, por favor.

- Tudo bem, venha aqui no apartamento de Heimdall, ele saiu para estudar na casa dos amigos e de lá vai direto pra faculdade, então não tem problema.

- Tá bom.

Hermod correu, correu como nunca correra antes, em direção à pessoa que ele amava de verdade, ele não sabia o porquê, nem sabia como, mas ele amava, e isso fez dele uma rajada de vento em direção à Frey, que logo o atendeu na porta de entrada do edifício, pegando o elevador, e indo para o apartamento de Heimdall.

Hermod estava nervoso, não sabia o que falar, como começaria? Como falaria para ele que estava apaixonado? Como ele reagiria? Ele estava confuso demais, mas ao mesmo tempo, decidido a tomar uma atitude, Frey trouxe uma xícara de café.

- Toma, beba um pouco de café, você está muito...

Hermod o beijou, a xícara caiu e quebrou, um raio solar entrou na janela, o pássaro negro gritou, uma rajada de vento também, vestes no chão, cheiro de amor proibido.

Frey e Hermod traíram Forseti. Naquela tarde, ela sonhou jogar-se de uma colina bem alta, bem alta.




~




Andrew Oliveira

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Você


Meu estômago dói

Minha respiração arde


Não se é feito mais de metal


Nem de ferro, nem forte se é mais




E Todos os sonhadores ruins


Cada recordação entregue


Cada pedaço de esperança


Todos já se foram, não vá também




Uma sensação de vazio


De enjoo, de nada


Cada pulmão se pressiona


Contra o meu peito, eles querem parar




E eu quero suspirar,

Alcançar a respiração


Dizer que estou feliz


A respiração que você disse uma vez ser importante




Nós somos jovens demais para morrer

O tempo nunca se perde


A areia é o meu reflexo



Doce flor

do horizonte,


Guarda pra mim um lugar no pôr-do-sol.






~












Para o dia 26/08/10, 5a feira, eu não consegui aprender nada na escola, estava chorando demais pra tentar aprender alguma coisa, só sentia um vazio cinza que não parava de me chamar, por que ele insistia em me chamar?



Andrew Oliveira, eu acho.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um pouco do mar

[...]
Agora, só me resta embrulhar a minha dor neste lenço. Vou machucá-la com força até ficar igual a uma bola. Antes das aulas, irei sozinha para o bosque das faias. Não me irei sentar à mesa, a fazer contas. Vou levar a minha angústia e poisá-la nas raizes, por baixo das faias. Examiná-la-ei e passá-la-ei por entre os dedos. Eles não me irão encontrar. Comerei nozes e tentarei encontrar ovos por entre os espinheiros, o meu cabelo vai ficar emaranhado, e acabarei por ter de dormir debaixo das sebes e de beber água das poças, acabando por morrer.
[...]
e isso faz com que o teu desejo de possuir uma coisa apenas se veja obrigado a estremecer como a luz que se move por entre as folhas das faias; e por fim as palavras, que agora se movem sombrias nas profundezas da tua mente, acabarão por quebrar este nó de dor enrolado no teu lenço.
[...]
Tenho pouco tempo para estar só. Tenho pouco tempo para ser livre. Apanhei todas as pétalas caídas e pu-las a nadar. Pus gotas de chuva em algumas. Vou colocar um farol aqui. Agora, vou embalar a minha taça castanha de um lado para o outro para que os meus navios possam cavalgar as ondas. Alguns afundar-se-ão. Outros despedaçar-se-ão contra os rochedos. Mas há um que navega sozinho. É o que é verdadeiramente meu. Navega por cavernas geladas onde os ursos polares rosnam, e das estalactites pendem correntes negras. As ondas elevam-se; as suas cristas enrolam-se; reparem nas luzes dos mastros principais.
[...]

Sei a lição de cor. Sei mais do que aquilo que eles alguma vez saberão. Sei os casos e os gêneros; podia aprender tudo e mais alguma coisa se quisesse. Mas eu não quero emergir e dizer a lição. Tal como fibras num vaso de flores, as minhas raízes enrolam-se em torno do mundo. Não quero emergir e viver à luz deste enorme relógio amarelo que não pára de fazer tiquetaque-tiquetaque.

[...]

Todavia, eu não consigo. Apenas vejo números. Um a um, os outros vão entregando as respostas. Chegou a minha vez. Só que não tenho respostas. Os outros tiveram autorização para sair. Deixaram-me sozinha para que encontrasse resposta. Os números não têm qualquer sentido. O sentido desapareceu. O relógio faz tiquetaque. Os dois ponteiros são como caravanas a atravessar o deserto. As barras negras no mostrador são como oásis verdes. O ponteiro maior antecipou-se para ir buscar água. O outro, dolorosamente, vai tropeçando por entre as pedras quentes. Acabará por morrer no deserto. A porta da cozinha bate. Os cães vadios ladram lá longe. Reparem, a forma redonda do número começa a encher-se com o tempo; o mundo está todo lá
contido. Comecei a traçar um número, o mundo está lá dentro e eu estou fora do laço. Acabo por o fechar - assim - selando-o, tornando-o inteiro. O mundo está completo e eu estou de fora.
[...]

A alvorada é uma espécie de empalidecer do céu; uma espécie de renovação. Um outro dia, uma outra sexta-feira, um outro vinte de Março, Janeiro ou Setembro. Um outro despertar geral. As estrelas recolhem-se e extinguem-se.
As ondas quebram-se na praia.






~






Para uma das melhores pessoas que eu já conheci, Anne, obrigado por ser minha amiga enquanto você teve tempo, te amo, eu sempre lembrarei de cada minuto em que conversamos e dos presentes que você me deu, eu nem tive tempo de dar um, né? Desculpa.


Andrew Oliveira


Texto: Virginia Woolf,

' The Waves
'

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O distanciador




Eu vou te deixar

Ir embora
Vou te deixar para estas ruas
Te deixar bravo comigo.

Tudo está indo um desastre
E nada está dando certo
Eu quero te ver, eu poderia
estar ao teu lado.

E se você quisesse
Eu guardaria pra ti
Todas as flores do mundo
E meu beijo seria somente seu.

Agora, numa ventania
de uma avenida qualquer
Eu te espero
Como se você fosse meu.

Você pode esperar por algo que não é seu?







~






Andrew Oliveira, talvez Black Cherry :)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 3: O calor dele


A tarde ainda estava branca, Frey, Heimdall, Frey, Forseti e Hermod conversavam e faziam brincadeiras, às vezes Heimdall olhava discretamente para Frey. Frey nem conseguia olhar para Hermod, Forseti fingiu não perceber nada, simpatizava com Heimdall, Freya em seu colo. Decidiram ir para uma lanchonete ali perto, onde passaram mais meia hora conversando e gargalhando com as piadas de Heimdall, o mais auto-confiante dali. Frey estava feliz, pois no ano que breve chegaria ele iria morar com a avó, no momento ainda não dava para se mudar pra lá.

E a noite chegou, Hermod foi dormir na casa de Forseti, Freya foi embora junto com a avó, e Heimdall ficara a sós com Frey enquanto seu padrasto bebia em algum bar distante dali.

~

Frey e o amigo trancaram-se em seu quarto bagunçado, até parecia com a situação do seu interior. Pegou do fundo da gaveta do guarda-roupa um saquinho inchado de cocaína, organizou o pó em fileirinhas num pedaço de espelho, e fechou os olhos por alguns segundos.

- Quer? - Ofereceu para Heimdall.

Heimdall olhou horrorizado para Frey.

- O que você está fazendo, Frey? Pare com isso! - Levantou na mesma hora e tentou tirar as drogas das mãos de seu amigo.

Frey hesitou, mas logo guardou o saquinho e o pedaço de espelho no bolso, cabisbaixo, envergonhado de si mesmo, querendo ainda mais, o frio o deixava desesperado.

- Me dê, Frey, me dê isso aqui.

- Seu hipócrita, mostre-me o seu braço, com certeza já deve estar caindo de tanto se injetar. - Sussurrou, arrogante.

Heimdall o esbofeteou.

- Eu parei com isso há dois anos, estou completamente limpo, Frey. - Respondeu com a voz chorosa.

Após o tapa, virou a cabeça lentamente, como se tivesse se rendido.

- Desculpa, eu não sei me controlar.

- Tudo bem.

Heimdall o abraçou caloroso, Frey era vulnerável demais para recusar um abraço, e fechou novamente os olhos, dessa vez para sentir apenas o corpo grande e confortador dele, por que seu coração está batendo tão forte?

- Acho que estou me apaixonando...

- É bem tarde pra isso, você não acha?

- Eu não sei mais o que fazer.

Frey pegou o saquinho de cocaína do bolso e jogou no vaso sanitário de seu banheiro, puxou a descarga e foi se deitar, ao calor de Heimdall. Era tão fraco e covarde que sempre precisava de um porto seguro, eu quem peço perdão por não te amar mais, Heimdall.

- Você gosta dele, não é? - Sussurrou Heimdall, pensando em Hermod.

- Às vezes sinto que estou traindo Forseti por pensar tanto nele. Eu sinto uma culpa terrível. Você não faz ideia do tamanho dessa dor, Heimdall.

- Você não precisa se culpar por isso.

Frey se deitou sobre o peitoral de Heimdall.

- E queria morrer um pouco só pra esperar toda essa dor passar.

- Dá pra morrer um pouco?

- Eu queria experimentar.

Heimdall o encarou, sério, e logo Frey, cheio de compaixão por ele, deixou-se ser beijado carinhosamente. Heimdall passou as mãos em seus cabelos, ainda beijando-o desesperado, em sua orelha fria, em sua bochecha tão pálida quanto todo o seu corpo, em seu braço fraco, em sua cintura magra. A mão de Heimdall em suas nádegas, a mão de seu padrasto, a boca fétida do seu padrasto, a penetração forçada de Loki.

Frey afastou-se de Heimdall, gritando histérico, pôs-se a chorar copiosamente, ajoelhado no chão, com as mãos nos ouvidos, de olhos bem fechados, bem fechados... Eu tenho medo do escuro.

- Frey, o que foi? - O coração de Heimdall estava a mil, isso não pode ser verdade.

- Me perdoa, eu não consigo, me perdoa, me perdoa, eu tô com medo, não desliga a luz, ele vai voltar de madrugada. - Mal conseguia falar de tanto soluçar.

- Tenha calma, Frey. Eu não vou fazer nada que você não queira. - Acalentou-o tocando em seu rosto, Frey parou de gritar.

- Você promete?

- É claro que sim. Venha, vamos lavar esse rosto.

~

A janela descortinada, a luz da lua, apenas eles dois.

- Você tem certeza?

- Tenho.

- Não está com medo?

- Não sinto medo

Seus lábios tímidos tocaram os de Forseti, seu corpo roçava em seu corpo, suas mãos a massageavam, seu sexo começou a sentir o sexo dela, seu odor pedindo por mais. A primeira vez dela, seu corpo todo tremia, ela mordia os lábios, lágrimas de felicidade, ela estava sentindo o corpo dele, eu te amo Hermod.


E o frio intenso da madrugada se tornou apenas um detalhe, até o infinito.








~






Andrew Oliveira

domingo, 22 de agosto de 2010

Hidden Place - Capítulo 2: Os sorrisos dela


- Hermod, volte já aqui! - Gritou a mãe.

- Não enche, tenho que ir, tchau!

- Hermod! Escute sua mãe!

- Me deixa em paz! Seu bêbado fracassado!

O pai de Hermod levantou-se da poltrona, jogou o jornal no chão junto com o seu auto-controle e esbofeteou o filho, a mãe fez o mesmo, mas logo Hermod saiu daquela casa, respirou fundo e foi ao encontro de Forseti, tentar viver um pouco. Ele era um ano mais novo que ela, apenas dezesseis anos, era o melhor aluno da escola, todos o admiravam, mas tinha poucos amigos de verdade, meio anti social.

Esperou no banco da praça do local marcado, enquanto ouvia um pouco de música no seu celular, tentando relaxar. Seus lábios secos se mordiam, sua face corada, seus olhos tímidos intimidadores cabisbaixos, com um leve ar de melancolia. Tossiu em seco e comprou chá gelado ali por perto, seus belos cabelos eram assoprados pela brisa invernal, já se sentia melhor, e resolveu voltar para o banco, e breve Forseti chegou, Hermod pensou um pouco na imagem do sorriso de Frey, ele não entendeu o porquê, mas tentou esquecer.

- Hermod, querido, como você está? - Felicitou-se Forseti.

- Estou bem. - Deu um meio sorriso, como sempre fazia.

- Demorei muito? Detesto chegar tarde em um local.

- Não, que nada, só faz uns cinco minutos.

- Sentiu muito a minha falta?

A imagem de Frey novamente, seu peito doeu.

- Bastante. - Outro meio sorriso, ela olhou desconfiada.

Ainda assim alegrou-se, e logo o beijou, num aroma de satisfação com seu primeiro amor. Hermod, o primeiro dela, o segundo de Frey.

Conversaram e namoraram por ali durante um bom tempo, e cada minuto era especial para Forseti, eu não sei quanto à Hermod.

- Vamos visitar Frey? - Perguntou Forseti.

- Vamos sim. - Meio sorriso de praxe

~

O balanço no quintal pendurado no galho grosso daquela árvore, era movimentado pelos braços de Frey, empurrando Freya que soltava risos amorosos pelo irmão.

- Não empurre tão forte, irmão! - Riu a criança.

- Tá bom, mas você não queria voar? - Sorriu.

- Agora eu só quero ficar perto de ti! - Até o ar frio a deixava feliz, eu me contento apenas com você perto de mim, irmão bobo.

Uma presença se aproximou dos dois, logo Frey percebeu, e olhou para a rua, ali estava ele.

- Heimdall? - Assustou-se

- Olá Frey, quer um pouco de chá gelado? - Ofereceu uma lata toda colorida pro rapaz.

Passaram-se alguns minutos e breve, Frey e Heimdall iniciaram uma conversa sentados na escadinha da porta de entrada da casa de Frey, enquanto Freya ainda brincava alegre no balanço, e a vó dos dois irmãos discutia seriamente com Loki sobre a guarda dos filhos de sua filha, na sala. Já era uma hora da tarde.

- Como está indo sua vida? - Perguntou Heimdall

- Como você quer que esteja?

- Eu soube que você está se drogando. - Preocupou-se.

- Forseti já me deu uma bronca, não se preocupe.

- Frey?

- Oi?!

- Você ainda pensa em mim? - Perguntou curioso.

- Cansei de pensar em você.

- Por quê?

- Às vezes você pode esquecer rapidamente de alguém levando o tipo de fora que você me deu, sabe... - Disse Frey, ríspido.

- Desculpa, é que naquela época eu estava repleto de problemas, mas agora...

- Eu não guardo rancor de nada, Heimdall, você já deveria saber disso.

- Eu só penso em mim. - Admitiu Heimdall.

- Eu só penso em três pessoas, com amores diferentes.

- Quem são?

- Minha irmã, Forseti, e...

- E...?

- Você já está terminando a faculdade, não é? - Curvou o assunto.

- Sim, graças a Deus. - Heimdall preferiu não questionar sobre a mudança repentina de assunto. - Você pretende cursar para o quê?

- Artes.

- Não pensa em nenhuma outra área?

- Não.

Duas outras presenças também se aproximaram dali, Hermod e Forseti. A tarde de Frey se iluminou.








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Andrew Oliveira

sábado, 21 de agosto de 2010

Hidden Place-Capítulo 1: Os amores dele


Seu nariz já estava sangrando, mas ele pouco se importava, gostava tanto da cocaína que não conseguia passar um dia sequer sem cheirar um pouco, seus dezessete anos começaram assim, desleixados e em carne viva, só pra esquecer do seu padrasto, da sua mãe, de querer imaginar em como sua irmãzinha enfrentaria o peso do mundo que puseram nela, da escola, dos garotos mais fortes que sempre o provocavam, da última cadeira da 6a fileira da sua sala, onde ele sempre se sentava, e agora dele, dele que o machucou com seu olhar intimidador. Ele.

Seu padrasto bateu na sua porta, e logo a abriu, o odor de álcool exalou no quarto, e, de costume, Loki começou a espancar Frey de forma quase absurda, para ele isso era prazer, gostava da cara de dor de Frey, Frey nem se importava mais, desmaiou pensando em Freya, sua irmãzinha que estava longe dele agora.

O pôr do sol logo chegou, Frey resolveu ir à casa de Forseti, sua amiga e conselheira, no momento ele não precisava de conselheira, mas ele queria vê-la, apesar de ainda se sentir culpado por estar iniciando um amor pelo amado dela.

- Oi Frey, o que aconteceu? Meu deus, veja o seu estado. - Disse espantada com o olho esquerdo inchado de Frey. - Entre logo, está muito frio aqui fora, deixa que eu cuido de você.

Frey hesitou, mas logo resolveu entrar na casa da moça, que passava a maior parte do tempo sozinha em casa e estudando muito, ela era esforçada, diferente dele. Forseti pegou um cubo de gelo e o colocou num pano macio, logo encostando no ferimento de Frey.

- Ai! - Reclamou.

- Desculpa, mas pra esse inchaço sair logo tem que ser assim. Frey, você precisa denunciar esse homem.

- Eu não me importo com mais nada, Forseti.

- E Freya? Como ela vai se sentir sem um irmão? Você quer isso pra ela?

- Claro que não!

- Pois então.

Frey espirrou sangue, estava podre por dentro.

- Ai Frey, eu não acredito em você. O que está acontecendo? Você tem que parar de se drogar!

Frey suspirou:

- Desculpa, mas agora não consigo parar.

- Eu te ajudo.

- Obrigado, Forseti.

Uma lágrima caiu do olho inchado de Frey, ele logo tentou esconder, mas Forseti logo percebeu, e o abraçou.

- Vai ficar tudo bem, um dia tudo isso vai passar. Confie nos meus olhos, e eu confiarei no seu coração.

- Como Hermod está?

- Meu namorado? Está ótimo, tá parando de ser mais tímido, ele perguntou de você. Disse que estava bem, acho.

Frey sorriu.

- O que foi? - Forseti sentiu-se confusa.

- Nada de tão importante. - Como eu me odeio, pensou.
Frey adormeceu no colo de Forseti, era como uma irmã mais velha, seu porto seguro, se conheciam desde pequenos, e nada abalava aquela amizade. O frio da madrugada era mais cortante, a ventania mais forte, o abalo mais sensitivo, como eu te amo, Forseti.

Ao fechar as pálpebras, viu logo os olhos de Hermod em sua mente, assassinando seu temor, e ardendo seu desejo, por favor, pare! Mas ele não parava, ele continuava cada vez com mais força. O mensageiro dos deuses era o inferno de calor.

Cinco da manhã, Frey acordou com Forseti adormecida ao seu lado, e logo foi correndo para sua casa, seus passos estavam pesados, a neve fazia suas botas afundarem, mas ele não ligava, um suave paladar de amor o incendiava, ele nunca sentia frio quando o tinha. Droga, Hermod. E banhou-se, masturbou-se, estava sem sono como quase todo tempo, o tempo corria, oito da manhã, a porta de entrada se abriu, seus passos ficaram mais pesados, sua pulsação mais rápida, sua avó estava ali, segurando a mão de sua irmãzinha, e ele correu para abraçá-la, abraçou-a tão forte que a deixou sem respiração, ele sonhou com aquilo certa vez, mas fazia muito tempo, muito antes de Freya nascer, e ele sabia, ele sempre soube que haveria uma cura para sua solidão, Freya encheu-se de felicidade, e quase explodiu de amor pelo irmão.

- Quer ir morar conosco, meu neto?



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Andrew Oliveira

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Prólogo - Hidden Place: Íris


Cansou-se,
Sentou um pouco, ao lado dele, ofegante, e conversaram, conversaram sobre muita coisa, pelo menos durante o tempo em que ficaram a sós, ele gostava dos seus meio-sorrisos, e das suas gargalhadas incompletas, era esbelto, e mais novo, porém mais alto. Cabelos brilhantes, unhas cuidadas, bem vestido, e olhar tímido-penetrante, oscilante entre um anjo e um demônio, ele se sentia amado com o seu olhar, e isso era muito doloroso, seu olhar tímido intimadava, brincava com a pulsação do seu coração, pensou que teria um infarto alí mesmo, e começou a pensar se deveria beijá-lo, talvez fosse perigoso, mas gostaria de arriscar, ele pedia por um beijo seu.

Como num esconderijo, o desejo saiu da toca, brando, mordeu nas vísceras do encantado, sentiu uma dor de culpa no peito, mas ainda assim o queria em seus braços, ou estar em seus braços, e começou a amar.
Começou a amá-lo profundamente, de uma forma oculta e intensa, de um aroma nostálgico, desde os olhos até o tênis que ele usava, cada objeto e pedaço de pele, ahh... sua pele...

Passou horas no automóvel, ao seu lado, e gostava daquilo. Nos vemos depois, disse ousado, e talvez veria, mas nunca se sabe. Sussurrou uma leve canção de tristeza e chegou em casa, arrumou seus pertences, mas não queria nem dormir, só pensava nele, ah... ele.
Eu queria tanto aqueles olhos, só para mim. E chorou, chorou um oceano inteiro de uma leve pontada de amor, se aquilo era só o começo, como seria o que viria daqui pra frente? E chorou mais ao tentar imaginar isso.

Estava sem o apoio de ninguém, completamente só, completamente perdido e desnorteado, não queria nem dormir, muito menos viver, por quê? Isso não depende de você, realmente não depende.
Mas queria, queria sofrer por ele, não estava nem aí se valeria à pena, não queria saber de ninguém, se sentia cansado de poupar os outros da dor, desta vez serei egoísta.

~

A porta se tremeu, era seu padrasto, vindo surrá-lo mais uma vez, vindo estuprá-lo também, já estava acostumado, de que importa sentir mais ou menos dor? Só conseguiu dormir às 3 da madrugada, como sempre, e chegou na escola no segundo horário, sem ânimo, sem nada.
Sua mãe era sempre ausente e submissa ao seu padrasto, sua irmãzinha mais nova vivia na casa da avó, ele sentia falta da sua irmã. E ainda achava tempo para pensar nele, por quê?







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Andrew Oliveira

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Bulletproof



- O que você quer ser quando crescer?
- Uma ave?
- Um minuto ou dois?
- Onze
- Preto ou branco?
- Cinza
- Gosta de chocolate?
- Adoro baunilha
- Oceano?
- Transparente
- Assistir?
- Ouvir
- O que você quer agora?
- Quero transar
- Você quer vê-lo?
- Muito
- Como se sente entre quatro paredes?
- Morto
- Amor?
- Decisão
- Quer transar tanto assim?
- Quero foder, quero gozar, quero abraçá-lo como jamais amei ninguém!
- Além?
- Morte me
- Calor?
- Ferve-o
- Balas?
- De canhão
- Sabor?
- Um minuto ou dois
- Objeto?
- Ele
- Congelado?
- Perdido
- Partido?
- Dissipado
- Horizonte?
- Quero mordê-lo, abraçá-lo tão apertado que seus olhos pularão, quero amá-lo
- Lembrança?
- Cuidado
- Valor?
- Sentimentos de uma paixão desnorteada
- Sente?
- Respiro
- Escolha?
- Quero mais, muito mais, me devora, por favor
- Cuidado?
- Perdição
- Esperar?
- Meus amores ainda não foram recíprocos
- Tentativas?
- Perda de tempo para os fatos, os fatos tem pressa.
- Você ainda se lembra de tudo?
- Nada mais tô afim de nada
- Tédio?
- Cansaço, depressão
- Depressão?
- Ele
- Flor?
- Alvorecer
- Você quer ser o pássaro ou a árvore?
- Eu quero o mar, agora, quero tanto o mar, me afogar nele, nunca mais voltar
- Você ainda atira seus amores pela janela?
- Eu quero que a minha mãe me abrace, me console, e diga que tudo vai ficar bem
- Você sente falta do amor da sua mãe?
- Que perda de tempo parar pra pensar no que você vai comer, coma qualquer coisa, oras
- Gastar?
- Beber
- Nascer?
- Quero-o, quero-o muito, quero-o tanto, eu preferia morrer do que ficar nessa ansiedade, quero-o aqui e agora, agitando meu coração
- Você o quer tanto assim?
- Me atirar de um prédio e ser seguro em seus braços
- Ainda amor?
- Sempre amor
- Revolver?
- Eu não sou à prova dos tiros dele, queria ser, agora quero morrer, quero morrer, quero morrer, quero morrer tanto, tanto.
- Não chore...
- Eu choro como se ora para o mundo, eu quero que tudo fique mudo, e eu possa apenas ouvir a voz dele, segurar em seus braços, mexer nos seus cabelos, beslicá-lo, mordê-lo, sorrir mais feliz com seus sorrisos, abraçá-lo ainda mais, beijá-lo despudoradamente, transar com seu corpo, lamber seu corpo, tocar em cada póro dele, em cada fio de cabelo, suá-lo, abri-lo, fechá-lo, gozá-lo, beber seu esperma e dizer que está bom, chupá-lo durante horas, escovar na mesma escova que a dele, pentear no mesmo pente que ele, me ver no seu espelho, enxergar minha feiúra, e a sua beleza, dormir aos seus braços, de tudo um pouco, pelo resto da minha vida, eu te amo seu cretino.
- Chore
- Cansei de chorar
- Caneta ou lápis?
- Noite, madrugada, detesto o sol, detesto o sol com todas as minhas forças, queria que o mundo fosse todo escuro, apenas com lâmpadas sendo usadas o dia inteiro, eu quero morrer ainda mais.
- Você não precisa morrer por causa disso.
- A morte é minha válvula de escape.
- À prova de balas?
- Eu ainda espero pelas suas palavras, meu doce amor de uma tarde dourada.




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Andrew Oliveira

terça-feira, 17 de agosto de 2010

When I Grow Up


Quando eu crescer, quero ser uma floresta

Correr através de musgos saltando alto

Isso é o que eu vou fazer, lançar um bumerangue

Esperando que ele volte pra mim

Quando eu crescer, quero viver pertinho do mar

Garras de caranguejo e garrafas de rum

Isso é o que eu vou ter, olhando fixamente para a concha

Esperando que ela me abrace

Eu ponho minha alma no que construo

Noite passada eu desenhei um homem engraçado

com uns olhos escuros e a língua pendurada

Ele vai mal, eu nunca gostei de um olhar triste

de alguém que quer ser amado por você

Eu sou muito boa com plantas

Quando meus amigos estão longe

elas me fazem manter o solo úmido

No sétimo dia eu descanso

durante um minuto ou dois

depois volto aos meus pés e choro por você

Você tem pepinos em seus olhos

Muito tempo gasto em nada

esperando por um momento para surgir

O rosto no teto e braços tão longos

Eu espero que ele me segure




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Um poema sobre inocência e solidão, de Karin Dreijer (Fever Ray)